Maquiagem é um item essencial para apresentação e julgamento dos desfiles, embora não seja avaliada como item específico. A beleza e o brilho do Carnaval do Rio de Janeiro passam pelas mãos habilidosas de mulheres que amam a profissão, mas não querem viver somente de elogios.
“Na hora das entrevistas, os repórteres falam do samba no pé, da fantasia, do carnavalesco, até elogiam a maquiagem, mas não perguntam quem fez. Estou levantando a bandeira”, diz Rosângela Pereira, 62 anos, reconhecida maquiadora do Carnaval do Rio de Janeiro.
Cria do Andaraí, zona norte da capital fluminense, neste ano ela comanda uma equipe de 70 pessoas nos vários dias do Carnaval carioca. Realizada profissionalmente, empreendedora, atua também no cinema, mas não está satisfeita. A falta de reconhecimento e pagamento justo tiram o sono de Rosângela.
Ela dispara contra a invisibilidade das profissionais de maquiagem, que fazem um trabalho fino e indispensável. “Quando eu comecei, recebia quinhentos reais, hoje pagam duzentos, trezentos no máximo”.
Um dos problemas seriam convênios com cursos de maquiagem, que levam alunos para ter experiência nos desfiles, sem pagamento. “O pessoal quer fazer selfzinha no Carnaval, vem com qualquer valor, desmerecendo nosso trabalho”.
Na Sapucaí, o trânsito das maquiadoras é restrito. "Se você está com a camiseta da escola, tem livre acesso, mas durante o desfile. Quando termina, não posso passar para o outro lado para maquiar outra escola, tem que dar a volta por fora", critica.
A importância da maquiagem carnavalesca
A maquiagem precisa ser feita pouco antes dos desfiles, para não borrar, nem desfazer. É um trabalho cuidadoso, em linha de produção. Algumas maquiadoras fazem somente o olho, outras a bochecha, e quem finaliza são as riscadoras, que só utilizam o preto.
“Maquiar foi um divisor de águas. Hoje tenho a minha profissão, onde consigo trabalhar com o que gosto e levar uma renda para minha família”, diz Marcia Sundin, 53 anos, moradora do Caju, que vai maquiar pela primeira vez no Carnaval.
O trabalho intenso dura de cinco a seis horas, antes dos desfiles. Profissionais recebem caixas com as maquiagens previamente organizadas, lenços umedecidos, e só trazem os pincéis de casa. “Pincel é única coisa que não se empresta”, explica Rosângela, que também é professora na ONG Favela Mundo.
Outra professora é Rita Borges, ex-aluna. “Nossa intenção é sempre inserir alunas em nossa equipe de Carnaval. Este ano, grande parte da turma é formada elas”, conta a profissional, que é moradora da Penha.
Como será a rotina no Carnaval de 2025?
O corre de Rosângela e sua turma começa na sexta-feira, 28 de fevereiro, 13 horas, maquiando uma musa. Uma hora depois, na concentração da Sapucaí, pintam o rosto da comissão de frente da Botafogo Samba Clube. Rosângela desfila na escola e volta para maquiar a madrinha de bateria da Unidos da Ponte.
No sábado, às 13 horas, fazem a maquiagem da musa da Acadêmicos de Niterói; em seguida, comissão de frente e quatro alas. Rosângela desfila na escola e volta para casa “lá pelas três horas da madrugada”. Já será domingo, quando começam os desfiles do grupo Especial.
Maquiagem para sete escolas e mais dois desfiles
Domingo, 2 de março, às 14 horas, Rosângela integra o grupo de maquiadores da Unidos de Padre Miguel, até 18 horas. Então corre para fazer a maquiagem da Estação Primeira de Mangueira, enquanto, em outro local, dois membros de sua equipe aprontam três destaques da mesma escola.
Rosângela ainda desfila na Mangueira (não perca as contas, é o terceiro desfile do qual participa). Chegará em casa quatro horas da madrugada da segunda-feira. Dorme um pouco e acorda para maquiar, em casa, três destaques da Unidos da Tijuca.
No começo da noite, vai para a Beija-Flor aprontar três alas. Ainda não acabou. Na terça, fecha o Carnaval maquiando a Mocidade Independente de Padre Miguel e a Portela. Tem mais? “Estou com uma ligação aqui para os outros dias, pensando em maquiadores da minha equipe, gente da minha confiança”.