Fazer costuras é uma herança que Josiane Araújo, 33, ganhou da família. Nascida no Pará, desde pequena ela assistia ao trabalho da mãe, que era uma costureira renomada na cidade de Tomé-Açú. “Minha mãe tinha uma máquina simples e tinha que ‘se virar nos 30’. Ela trabalhava, principalmente, com consertos e peças por encomenda”, diz.
Pela falta de recursos financeiros, a família se mudou para o sertão do Ceará. Aos 8 anos, a menina começou a ajudar a mãe como podia. “Éramos seis irmãos, então me tornei assistente da minha mãe, já que ser costureira era uma grande responsabilidade e ela tinha medo que eu quebrasse a agulha”, relembra.
Apesar de conhecer muito sobre o ramo da costura, Josiane nunca se enxergou trabalhando na área depois de adulta. Em 2010, ela veio para São Paulo e teve diversas profissões – entre elas, trabalhadora doméstica e também atuou em restaurantes. Chegou até a realizar cursos de cabeleireira, sobrancelha e manicure, mas não conseguiu engatar a carreira.
Atualmente moradora de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, a vida dela se transformou ao se matricular em um curso de moda e arte, oferecido gratuitamente pelo Fundo Social de São Paulo, do Governo Estadual. A formação básica em costura foi finalizada em 15 dias.
Josiane reflete que, apesar do tempo curto, a capacitação contribuiu para que ela se sentisse mais confiante para atuar no ramo. “No início da pandemia, comprei uma máquina de costura e comecei a fazer máscaras para um projeto social e consertos para vizinhos próximos”, conta.
Ela abriu a loja “JeR Confecções e Reparos”, localizada no próprio bairro, onde atende, principalmente, moradores da região. Apesar do trabalho ser mais focado nos consertos das peças, a costureira tem o objetivo de começar a própria confecção de pijamas no ano que vem.
Moradora do Parque de Taipas, na zona noroeste de São Paulo, a empreendedora Sebastiana Pereira, 50, foi outra aluna que realizou o curso de corte e costura durante dois meses, e criou a linha de bolsas “Debochada”, um ano após ter recebido o certificado.
“Não tinha nenhuma intenção de trabalhar com isso. Fiz mesmo só para aprender alguma coisa. Com o curso, aumentei meu interesse e comprei minhas máquinas. Hoje atuo na área da costura criativa e faço aventais, mochilas e coisas assim”, diz Sebastiana, que trabalha com as costuras enquanto o marido, Anderson, faz a estamparia.
Atualmente ela tem uma loja onde atende aos clientes do bairro e também realiza vendas pela internet. A empreendedora tem os próprios fornecedores e já chegou a mandar os produtos para outros estados do Brasil, já que as encomendas são enviadas via correio ou pelo serviço de Uber Moto.
Ao ver o sucesso da mãe, a filha Victoria, 19, também decidiu realizar o mesmo curso e hoje estuda moda na Etec (Escola Técnica Estadual). “O sonho dela é se tornar estilista e tenho fé que ela também vai conseguir ser dona do próprio negócio e conquistar a independência financeira”, reflete Sebastiana.
Dados de um estudo produzido pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em março de 2022, com base nos dados da Pnadc (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), apontam que as mulheres lideram 10,1 milhões de empreendimentos no Brasil.
“Com o advento da pandemia, a gente percebeu que as vagas de emprego diminuíram muito. Então uma das coisas que mais tem funcionado com os nossos alunos e alunas é o empreendedorismo dentro das comunidades”, afirma Ernani Gouvea, diretor do grupo de programas e projetos do Fundo Social de São Paulo.
O Fundo Social foi criado em 1968 e tem o objetivo de atender pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em 2011, o órgão passou a promover cursos de qualificação profissional, sendo que mais de 157 mil pessoas já foram beneficiadas até o momento.
Dentre as capacitações oferecidas, estão as modalidades de beleza e bem estar; construção civil e sustentabilidade; administração e empreendedorismo; moda e arte; gastronomia; e informática. Elas ocorrem em 13 unidades espalhadas pela região metropolitana de São Paulo.
Ainda segundo os dados da Pnadc, a participação feminina no mundo dos negócios chega a 34%, sendo que metade delas (50%) atuam no setor de serviços e 49% são chefes de domicílio. Grande parte delas trabalham dentro das próprias casas e Gouveia reflete que esse fenômeno ocorre principalmente nas famílias onde as mulheres têm crianças pequenas.
É o caso de Josiane, que é mãe de três crianças com idades de 9, 8 e 6 anos. “A maioria das mulheres fica presa em casa achando que não tem capacidade. Mas também toda a mãe quer acompanhar o crescimento do seu filho. Quantas mulheres trabalham fora e só voltam às oito da noite? Acho que é importante ter acesso aos dois mundos”, conclui.
Para saber mais sobre os cursos oferecidos pelo Fundo Social de São Paulo, acesse o site. As inscrições são realizadas de forma online.