Nascido e criado na Vila Guarani, em Diadema, Natã de Souza Oliveira, 21, conhecido como Chefe de Quebrada, está entre os grandes nomes da gastronomia em eventos de empresas como Nike, Nubank e até mesmo Chanel.
O produto que marca presença nesses eventos é o brownie bits - feitos em porções individuais pequenas e personalizados com as estampas e logotipos da empresa em cima do brownie. O preço da unidade varia entre R$ 6 e R$ 8, dependendo do sabor e recheio escolhido.
Outro doce que chama a atenção é o tênis em formato de escultura de chocolate, que leva cerca de três dias para ser produzido, com moldes feitos pelo próprio Natã. “O meu objetivo é me tornar referência com os meus produtos nesse meio de moda e hip hop.”
Antes de ser conhecido como Chefe da Quebrada, Natã foi o Príncipe da Vila, em referência ao bairro em que mora. Cresceu observando as reuniões familiares, os churrascos na laje e criando vínculos com as “tias da cantina”. Mas foi em 2019 que decidiu ir às ruas vender os primeiros doces.
“Inicialmente, vendia brigadeiros e bolos de pote nos faróis de São Paulo. Depois passei a personalizar e testei novas técnicas como papel de arroz, mas o gosto era horrível”, lembra.
Com o objetivo de aprimorar a sua ideia, criou um produto que conquistou o paladar dos clientes. As primeiras versões tinham estampas de capas de álbum de rap, seu gênero musical favorito, e de obras de arte, como a Noite Estrelada e Monalisa.
“Fui para a Avenida Paulista vender e o público dali, mais branco, já tinha mais dinheiro, e muitos eram turistas. Então, deu para aumentar o valor e percebi que, pelo visto, o pessoal nunca tinha visto isso. Isso era novo, uma parada que só eu estou fazendo”, diz o artista.
Natã destaca as escolhas que fez e os desafios em sua trajetória. "Tem aquele lugar muito preconceituoso de quem é da elite, burguês, alta classe, que já vê o Chefe de Quebrada como algo pejorativo, né? Alguém de responsabilidade dentro da favela que apresenta medo. Então, quando eu coloquei esse meu vulgo impactou muito.”
E conta que a luta contra o preconceito passou por etapas.
“Sentia que as pessoas me subestimavam por causa da minha cor de pele e que me viam apenas como um funcionário em eventos de gastronomia. Isso começou a mudar quando passei a ser escalado, também, como artista convidado", diz.
Mas o que o tirou do anonimato foi uma parceria inusitada. Depois de enviar um e-mail para a equipe do podcast Flow, foi convidado para levar seus doces - os brownie bits - para os convidados.
“Não ganhava nada. Então, no meio da semana, eu vendia no farol para, no fim de semana, levá-los lá no podcast em forma de divulgação”, explica. Graças a iniciativa, ele chamou a atenção da família do Mano Brown e de outras marcas que se interessaram pelo trabalho.
O chefe percebeu que as mães tinham grande interesse em colocar imagens dos bebês nos doces para as festas e passou a abordá-las com essa proposta. Foi assim que chegou até uma mãe que, por acaso, era coordenadora do projeto Nike Woman no Brasil. Ele perguntou se ela gostaria de colocar os doces no aniversário do filho dela e, em resposta, ela lhe ofereceu a oportunidade de apresentá-los na Nike.
“Ela me chamou para fazer um teste, começando com cinquenta unidades em um evento. Em apenas quatro minutos, os doces foram todos consumidos. A diretoria da Nike viu isso e perguntou que doce era aquele. Eu recebi 112 reposts e essas pessoas marcaram a Nike. Eles ficaram impressionados porque ninguém nunca tinha ido até a mesa de comida para tirar fotos e publicar."
Agora, Natã está estudando mais modelagens de chocolate para lançar modelos de tênis com a Nike, Puma, Arte e Wolk. A ideia é trabalhar nesse meio de moda e hip hop.
Apesar do crescimento, ele diz que ainda prefere ser o responsável por toda a produção. “Escolhi trabalhar sozinho e isso tem muito a ver com o que passei e vi essas mulheres passando dentro da cozinha. Quando olharem pra mim, não vai ter uma grande equipe atrás. Sou eu que estou lá na frente, usando o Jordan no pé que a Nike me deu, mas com a minha mão cheia de calos", finaliza Natã.