A Netflix renovou a série brasileira da quebrada "Sintonia" para sua 4ª temporada. O anúncio foi divulgado no perfil oficial da plataforma de streaming no Instagram. A trama, que conta de 3 amigos de infância, Rita (Bruna Mascarenhas), Nando (Christian Malheiros), e Doni (Jottapê), retrata a realidade da periferia de São Paulo.
Criada e produzida pelo empresário e diretor Kondzilla, o Kond, um dos principais nomes da indústria audiovisual do funk brasileiro, a narrativa fez sucesso no mundo todo. Mas o feito é fruto do trabalho de um conjunto de ideias, entre elas, as da carioca Duda Almeida, roteirista da série desde a sua primeira temporada.
Ao Visão do Corre, Duda lembra da sua trajetória até ao núcleo de roteiro de Sintonia e os detalhes do processo de criação. Profissional com cerca de uma década, ela tem uma formação múltipla com Desenho Industrial pela PUC-Rio, além da Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
Mas foi na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e na Escola de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, que Almeida se aprofundou com roteirização. “Minha formação foi prática do audiovisual até minha chegada ao roteiro. Vivi um período de terra arrasada, ganhava pouco, meus trabalhos não eram comprados”.
Em sua trajetória, Duda também já dirigiu, roteirizou e montou “SELF”, curta autoral filmado com smartphone, que teve sua estreia mundial no Los Angeles Brazilian Film Festival de 2017. Já Entre 2019 e 2021, foi roteirista da série "Lov3", da Amazon Studios. A trama foi ganhadora do melhor roteiro de comédia pela Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA).
Ela conta que a virada de chave para o seu desenvolvimento profissional e de outros colegas foi a criação da ABRA, que passou a cuidar dos direitos trabalhistas da nova geração de roteiristas. “Começaram a ver que muita gente nova estava se preparando. Isso começou a dar um aquecida no mercado”.
Mas foi em São Paulo que, após se apresentar e exibir seus trabalhos para milhares de produtores, Duda teve o primeiro contato com o projeto Sintonia, com a então produtora da série, a Los Bragas. “Ainda era uma incógnita, não sabíamos como isso seria. Era uma vitória, mas um passo arriscado. Mas o sucesso foi estrondoso logo com a primeira temporada, aí vi o alívio da minha família”.
Ao falar sobre sua vida fora da roteirização, Duda, filha única, conta que não é cria de uma família elitizada e que suas influências de infância foram do dia a dia. Dos saraus ao Hip-Hop da Lapa, no Rio de Janeiro, até o desejo do seu pai em tocar guitarra, ela relata um pouco sobre sua cultura.
“Ouvia funk, samba, pouco MPB. E a música me ajuda muito a entender o roteiro, nas emoções, nas cenas. Um bom exemplo é ‘Temporal’, do grupo Art Popular’. Eu tenho essas minhas raízes, sempre que possível eu tento buscá-las”, relata ela, ao citar como sente, hoje, trabalhando na produção de uma série que narra o cotidiano de jovens de periferia.
“Não posso me sentir confortável. Eu não sei mais que todo mundo ali. Se me deixar entrar, eu vou escutar. É uma troca. Tem que saber chegar. Preciso conhecer as regras dessa galera, dessa comunidade, eu circulo muito. Quero ouvir o público, quero saber o que eles querem. Então, o trunfo em parte desse meu processo é a ignorância”, comenta.
Há 5 anos trabalhando com a série Sintonia, a carioca diz que se sente satisfeita com o rumo que o projeto tomou. “Tem nosso DNA. Existe uma troca. Não é sobre mim, é sobre jovens de favela. Escrevo para eles. Dá para perceber pelo nosso elenco, são atores inteligentes, excelentes pessoas e profissionais, com grandes potenciais. Viramos uma família”.
Além de Sintonia, ela também roteirizou a série documental “LEXA: Mostra esse Poder”, da Kondzilla e Globoplay, e também a série de ficção “José e Durval”, ficção sobre a trajetória dos cantores sertanejo Chitãozinho e Xororó.
Atualmente, Duda dirige seu primeiro longa-metragem, um documentário musical que acompanha a trajetória de um MC de funk da Cracolândia. Duda também vive a expectativa de ter um projeto autoral sendo sucesso na TV aberta. “Também quero ver jovens da periferia escrevendo e produzindo seus próprios filmes e séries, seus roteiros”.