Negro retinto, de fala pausada, o pedreiro Rafael Felipe, 63, é devoto de São Benedito, santo da igreja católica e padroeiro dos negros, das donas de casa, dos cozinheiros e dos profissionais de nutrição. Inspirado pelo pai, Sebastião Felipe, ele cresceu com o objetivo de fazer algo pelo bem comum da população negra.
“Meu avô era benzedor. Meu pai se desenvolveu na umbanda, no terreiro de São Benedito, em Osasco, e na década de 1960 fundou o próprio terreiro em Carapicuíba”, conta Rafael.
Assim, a partir de 2006, ele passou a organizar anualmente uma festa em homenagem ao santo, na Vila Menk, bairro onde mora em Carapicuíba, na Grande São Paulo, para resgatar a cultura e a memória do povo preto na região. “Meu objetivo é unir e discutir as questões da negritude”, diz.
A celebração da “Festa de São Benedito e Libertação dos Escravos” ocorre sempre no último domingo do mês de maio e dura cerca de 12 horas, envolvendo uma procissão que percorre um trecho de 2,5 km pelas ruas do bairro. “Termina uma festa e eu já começo a pensar na próxima”, complementa o organizador.
Rafael também é ogã, médium responsável pelo canto e pelo toque na umbanda e no candomblé. Ele conta que iniciou a própria jornada pela igualdade por meio da cultura ancestral. “O negro sempre foi marginalizado. Consciente disso, nasceu um incômodo”, comenta.
Todos os anos, no início de dezembro, a família dele também comemora o dia do samba em Carapicuíba. Os portões do quintal da casa se abrem para a comunidade às 12h, dando início a celebração com direito a toques de tambor. “Nesse dia temos almoço e muita música. A comemoração dura parte do dia e da noite”, conta.
Em agosto de 2022, Rafael lançou o podcast “Quilombo Urbano - Coisa di Preto”, no YouTube, para tratar de assuntos relacionados a questões raciais de forma didática. “O objetivo é falar de forma que qualquer pessoa entenda”, explica.
O canal conta atualmente com 11 vídeos no formato bate-papo com convidados, todos transmitidos ao vivo. “Todas essas iniciativas são importantes para a conscientização, disseminação e fortalecimento da cultura negra na comunidade”, finaliza.