A modelo Luana Borges, 31, tinha 16 anos quando do lado de casa houve o anúncio de que uma universidade pública seria construída - a Unifesp de Osasco. O ano era 2008, em Quitaúna, bairro da cidade da Grande São Paulo. "Fiquei feliz, pensei na possibilidade de fazer uma faculdade ao lado de casa, já que moro literalmente em frente ao futuro campus."
Com o passar do tempo, Luana percebeu que não seria naquele local que estudaria. "Depois de um tempo não foi falado nada, ficou anos com a obra parada. Realizei o ensino superior em outra instituição e até hoje não está pronta."
Anunciada em 28 de abril de 2008, a implantação da universidade atravessou quatro gestões de presidentes e, 14 anos depois, nem metade da obra está concluída, apesar da previsão de término em julho de 2019.
O campus da Unifesp em Osasco foi batizado de EPPEN (Escola Paulista de Política, Economia e Negócios) e foi criado para atender alunos que se interessam pelos cursos dessas áreas, como relações públicas, economia e ciências atuariais.
Ele ocupa um terreno de 22 mil m² em uma antiga área militar de Quitaúna. O projeto inicial tinha custo estimado de R$ 71 milhões.
A unidade prevê 34 salas, 19 laboratórios de pesquisa, seis anfiteatros, biblioteca, auditório com 280 lugares, duas salas de aula/informática, restaurante universitário, praça digital, estacionamento e área de convivência. Em abril, a Unifesp anunciou a entrega de oito salas e que o bloco norte foi concluído. Apesar disso, nada está sendo utilizado.
"Essa área só era movimentada em tempos de rodeio. [Virou] um campo desse tamanho cheio de mato e sem cuidado", desabafa o autônomo Pedro Simões, 35, morador do bairro, e que relembra a época que a região era conhecida pelos eventos de música sertaneja.
"Com um movimento universitário, a região poderia mudar. Mas 14 anos depois a obra não está finalizada. Isso tudo é uma vergonha"
Pedro Simões, 35, morador do Quitaúna
Com a falta de uso, parte do terreno se tornou área de lazer para os moradores da região soltarem pipas nos fins de semana.
Placa em frente ao terreno não utilizado que pertence ao campus Unifesp fica na região de Quitaúna, em um terreno que pertencia ao Exército Apesar das restrições, local virou área de lazer para jovens da região Fim de semana movimenta comércio da região Unifesp diz que obra nunca ficou parada, pois começou apenas em 2016. No entanto, previsão na placa era de término em 2019 e pedra fundamental foi colocada em 2008
Enquanto a obra não sai, os alunos da EPPEN estão na antiga sede da FITO (Faculdade Instituto Tecnológico de Osasco), no Jardim das Flores, prédio que a prefeitura cedeu para uso da Unifesp até 2028.
Estudantes que passaram pelo local afirmam que o espaço atendeu às necessidades, mas havia problemas de infraestrutura, como salas de aulas cheias com poucos ventiladores.
"Tínhamos acesso a computador e internet para estudar e salinhas de estudo. O que ocorria é que em dias de provas e trabalhos faltavam lugares para todo mundo", conta Virginia Cira, 24, moradora da Raposo Tavares, na zona oeste da capital. Ela cursou relações internacionais em 2017.
Um aluno de ciências atuariais, que pediu para não ter o nome divulgado, conta que quando começou a faculdade, não sabia que era um prédio temporário. "A propaganda do novo campus era muito animadora. Em um dos andares do prédio, ficava uma maquete com o projeto, e era muito bonito", relembra.
"Mas, com o tempo, fomos percebendo que não ia rolar. No final do curso era até piadinha: fulano reprovava em alguma matéria e a gente dizia que 'ia acabar estudando no novo campus'".
Começo em 2016
A Unifesp afirma que a obra "nunca foi paralisada". A entidade aponta que o projeto executivo foi finalizado em 2015 e que a autorização do MEC (Ministério da Educação) para o início da obra veio apenas em maio de 2016, quando foi feita a licitação pública do projeto. "A obra teve início em agosto de 2016. Portanto, somente com a finalização do processo licitatório a obra pode ser iniciada."
Em junho, a Unifesp anunciou que receberia o repasse de R$ 6,5 milhões do MEC (Ministério da Educação) para conclusão das obras.
A reportagem entrou em contato com o MEC (Ministério da Educação), questionando as motivações para a obra não ter sido concluída, e não obtivemos retorno até o momento.