Artista cria 'kebradoteca' e cursinho pré-vestibular em SP

Admirador de Paulo Freire e Sérgio Vaz, o objetivo de André Gomes é que mais jovens tenham acessa à educação e à literatura

14 jan 2022 - 15h10
(atualizado às 15h23)
Arte-educador André Gomes na Escola Lumiart
Arte-educador André Gomes na Escola Lumiart
Foto: Reprodução/Instagram

Em uma avenida do bairro Cidade Ariston, em Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo, um letreiro nas cores preta e verde fluorescente chama a atenção de quem passa. Por fora, é possível ver a fachada de mais uma escola de desenho, mas quem passa pelos portões do local descobre que ali existe muito mais. Além de ensinar arte, a Escola Lumiart leva educação acessível aos jovens da região.

Idealizado em 2019 pelo artista e arte-educador André Gomes, o Del, 39, o espaço nasceu como uma forma de retribuir para a comunidade um pouco do que o trabalho como artista trouxe para a vida dele. “O que a arte me proporcionou de melhor foi a educação. Me possibilitou estudar e conhecer outro horizonte”, conta.

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Del entrou no mundo da arte há mais de 25 anos, quando descobriram seu talento para o desenho. A partir de então passou a viver como artista e a se especializar. Fez cursos técnicos, faculdade de artes visuais e hoje é pós-graduado em história da arte.

E como testemunha do poder transformador da educação, Del, junto com a irmã Andreia Gomes, 42, decidiram que a Lumiart teria um cursinho pré-vestibular e uma biblioteca comunitária.

“Quem salva uma vida salva o mundo inteiro. Se eu conseguir garimpar alguém que ganhe a vida já vai ter valido muito a pena”, diz Del.

Por dentro da Escola Lumiart, em Carapicuíba
Foto: Ana Beatriz Felicio/Agência Mural

Com esse pensamento e juntando forças com a professora de sociologia Márcia Carvalho, 46, o cursinho para os jovens vestibulandos da região se tornou realidade.

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Inspirada no trabalho do sociólogo Antonio Candido, um dos mais importantes intelectuais do Brasil, Márcia sentiu que, como aluna de universidade pública, tinha a obrigação moral de retribuir para a sociedade o aprendizado que recebeu.

“Um tempo atrás o Del e a Deia me perguntaram se eu não queria fazer uma oficina na escola. Falei pra ele que a minha a minha arte está ligada ao ensino. E o que eu gostaria de fazer era um cursinho pré-vestibular, popular e comunitário”, relembra.

Márcia Carvalho é professora de sociologia do cursinho
Foto: Ana Beatriz Felicio/Agência Mural

Os irmãos abraçaram a ideia, a tornaram viável e, nas palavras de Márcia, “é uma sementinha que está sendo plantada e se espera que dê muitos frutos.”

“Conhecimento te faz romper com essa ideia de que porque você é periférico, tem que se manter nessa situação. E como se melhorar suas condições socioeconômicas fosse um pecado para quem nasceu na periferia. Conhecimento é a chave”, diz Márcia Carvalho.

O curso pré-vestibular da Escola Lumiart funciona de forma social. Aqueles alunos que têm condições financeiras pagam um valor simbólico que ajuda a custear algumas despesas da escola. Os estudantes que não podem colaborar são bem-vindos da mesma forma. De acordo com Del, cerca de 50 alunos passam por lá durante a semana.

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Kebradoteca

Admirador de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, Del inaugurou a Kebradoteca, uma biblioteca em que as pessoas da região podem pegar livros emprestados e expandir os horizontes. O lançamento foi em setembro de 2021, próximo ao centenário do educador e filósofo brasileiro.

Kebradoteca ganhou o nome de Sérgio Vaz
Foto: Ana Beatriz Felicio/Agência Mural

“Acho que todo mundo deveria ter a possibilidade de conhecer outras culturas e ver o quanto o mundo é rico e grande. Aí a importância do livro. Às vezes esse despertar vem dali. Você fala: eu quero ir, eu quero fazer”, explica.

Para o artista, ainda falta incentivo para que as pessoas leiam e elas só precisam de um empurrão para pegarem gosto pela leitura.

“O difícil é se interessar pelos livros. Ter quem incentive e mostre que é um caminho legal. Quando a pessoa lê um livro que realmente fala o que ela queria ouvir, ela vai ler pelo resto da vida. Só precisa do livro certo”, conta.

A Kebradoteca ganhou o nome de outro ídolo de Del, o poeta Sérgio Vaz, que fez questão de estar presente na inauguração do espaço.

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“Foi mágico. Ele é um cara que fala a nossa língua. A gente vai pegar um livro acadêmico e não vai entender nada. Aí vem um cara da quebrada que leu e entendeu e passa de uma forma diferente pra gente, com a nossa linguagem. Abre um leque de possibilidades”, relata.

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