Bicicletas rodam 1.300 km contra chuvas e enchentes na periferia de SP

Projeto acontece na zona leste, na região do Jardim Lapenna, quebrada na várzea do rio Tietê, que sempre alaga no verão

14 dez 2024 - 14h00
Resumo
Bike Som tem mulheres rodando cinco horas por dia durante a semana para fazer alertas climáticos e conscientização ambiental. Também convoca moradores para reuniões do bairro, faz propaganda de comércios locais, divulga literatura e distribui alimentos das hortas comunitárias. Projeto acontece na região de São Miguel Paulista.
Integrantes da Ciclolog, que realiza o projeto Bike Som na periferia da zona leste de São Paulo, na região de São Miguel Paulista.
Integrantes da Ciclolog, que realiza o projeto Bike Som na periferia da zona leste de São Paulo, na região de São Miguel Paulista.
Foto: Leticia Nayara

Esqueça a previsão do tempo com mapas e gráficos animados na televisão. No extremo da zona leste paulistana, quem alerta para chuvas, enchentes e problemas climáticos é a Bike Som, bicicleta cargueira com uma caixa de som transitando por becos e vielas de terra e lama. Somente neste ano, percorreu 1.300 quilômetros.

Trata-se de uma das atividades da Ciclolog, que também distribui livros, verduras e legumes de hortas comunitárias. Diante da crise ambiental e das chuvas de verão, a Bike Som veicula alertas, orientações de como evacuar nas enchentes, faz propaganda do comércio local, convoca para reuniões na região do córrego do Jacuí, entre outras atividades.

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“Deixe os documentos importantes protegidos em locais altos e de fácil acesso para pegar em uma possível evacuação”, diz a mensagem sonora da Ciclo Ambiental Rádio Favela. Duas bicicletas pilotadas por mulheres da região, a maioria pretas, percorrem o Jardim Lapenna, Vila Nair, Gabi, além do Baixo Lapenna, a última área ocupada do território. “É a quebrada das quebradas”, diz Everton da Silva Oliveira, coordenador do projeto.

Gisele Fernanda Amâncio da Silva, divulgadora da Bike Som. Bicicletas entram onde nenhum outro veículo passa.
Foto: Letícia Nayara

As bicicletas circulam cinco horas por dia, durante a semana. “A gente conscientiza, ensina, não sabíamos o que era racismo ambiental. Quando eu não passo, o pessoal pergunta. Virou corriqueiro, falamos a língua da comunidade, eles se sentem pertencentes, querem precisam e gostam”, diz Gisele Fernanda Amâncio da Silva, divulgadora da Bike Som.

É tipo rádio, mas com linguagem e pautas da quebrada

Os 1.300 quilômetros percorridos em 2024 pelas bicicletas do projeto deixaram de emitir 2.184 toneladas de gás carbônico, na comparação com um carro. “Não falamos somente sobre o clima. Vamos nas escolas, chamamos moradores para discutirem problemas da comunidade, é de extrema importância”, diz Maria Edilene Guimarães Roque, divulgadora.

Uma das atividades é o chamamento mensal para a reunião do Plano de Bairro, mobilização que trouxe conquistas para a quebrada, como obras de infraestrutura. “Eu adoro, traz vários assuntos e notícias, como enchentes e mudanças climáticas”, diz Maria Clara Roque dos Santos, de 10 anos, do Jardim Lapenna.

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Everton da Silva Oliveira, coordenador da Ciclolog, em uma das atividades do negócio, a Bike Horta, que distribui alimentos.
Foto: Divulgação

Nathalia Gonçalves de Souza, moradora do Lapenna de Baixo, perdeu tudo em enchentes, sem saber o que responder ao filho diante da tragédia. Segundo ela, o potencial da Bike Som é o mesmo do rádio, mas com linguagem e pautas da comunidade. “A informação vem até você. Eles passam, orientam, a gente escuta e não precisa parar de fazer as coisas em casa”.

Dados positivos contra a crise climática

A Ciclolog era um coletivo que virou negócio de comunicação ciclologística sustentável e periférica. A postura sustentável começa no próprio projeto, incluindo mulheres do território, com remuneração e horas de trabalho dignas.

Os relatórios de prestação de contas mostram dados relevantes. Atuando na região de São Miguel Paulista, a Bike Som percorreu 1.650 quilômetros em 2023, distância registrada pelo aplicativo Strava.

A Bike Literária, que começou na pandemia emprestando livros da biblioteca do Galpão ZL, já entregou mais de 3 mil livros. A pessoa interessada manda uma mensagem de WhatsApp, o entregador leva e depois recolhe as obras.

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Bicicleta alerta contra chuvas e enchentes na periferia de SP
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Neste ano, distribuíram a biografia em quadrinhos do padre Ticão, importante liderança comunitária da zona leste, que morreu em 2021.

A Bike Horta, que recolhe e distribui legumes e verduras de cultivos comunitários da região, além de trabalhar com compostagem, percorreu a maior distância entre os projetos da Ciclolog até agora: 7.800 quilômetros.

Fonte: Visão do Corre
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