Doutorado na USP explica ritmo do funk através da geometria

Tese do pesquisador Thiago de Souza acaba de ser disponibilizada pelo site da USP, onde a pesquisa foi realizada

10 fev 2025 - 12h34
Resumo
Representação visual permite que até leigos compreendam a batida do funk como uma continuidade da herança africana. Pesquisador se baseou no livro de Godfried Toussaint, que trata da geometria dos ritmos musicais. Além daquilo que se ouve, música pode ser aquilo que se vê.
Thiago de Souza, o Thiagson. Tese na USP reafirma continuidade das pesquisas sobre funk, com marca autoral do cientista.
Thiago de Souza, o Thiagson. Tese na USP reafirma continuidade das pesquisas sobre funk, com marca autoral do cientista.
Foto: Isabelle India (Na Perifa, Estadão)

O pesquisador e ativista Thiago de Souza, o Thiagson, acaba de dar uma contribuição original às pesquisas sobre funk: ele usou figuras geométricas para explicar o ritmo e o êxtase hipnótico da batida que tomou o Brasil.

Baiano criado no zona leste de São Paulo, Thiagson mora no bairro Bom Pastor, em Santo André, cidade que tem, entre outras favelas, a Nova Titã, onde o pesquisador realiza trabalhos sociais.

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Sua tese tem o título de Putologia Avançada: Musicologia do Funk, defendida e aprovada no departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP). Quem não quiser mergulhar nas 260 páginas, há um vídeo curto e didático bombando nas redes sociais, com Thiagson explicando o funk geometricamente.

Ritmos que se repetem, como o funk, são representados por círculos. Thiago dividiu um círculo em dezesseis partes iguais. Pontos vão sendo marcados conforme a batida do funk e, juntando os pontos, temos um pentágono.

Pentágono é uma figura geométrica com cinco lados. Por que cinco? Eles demarcam o famoso “tum tchá tchá tum tchá”, a batida clássica do funk. Detalhe: o pentágono do funk brasileiro é irregular, meio torto, lembra os telhados caídos de barracos em favelas.

Ligando os pontos que marcam as batidas do funk indicados no círculo, temos a representação visual de um pentágono.
Foto: Reprodução

Brisa, né? Thiagson concedeu a seguinte entrevista ao Visão do Corre, em que fala mais sobre sua pesquisa de doutorado.

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Como começam as pesquisas sobre funk no Brasil?

Eu sempre conto que o primeiro trabalho sobre funk nasceu antes do primeiro disco de funk. É o livro Mundo Funk Carioca, de Hermano Viana, de 1985. O primeiro disco de funk é de 1989, do DJ Marlboro. Tem bastante tempo de reflexão.

Você se considera um intelectual do povo?

Um trabalho só para a academia, para especialistas, não me motiva. Fico muito mais motivado em fazer um vídeo para rede social, do que uma tese. O vídeo da geometria foi muito louco, percebi um alcance inesperado. Veio acadêmico falar comigo, gente de todo tipo.

Bombou quanto?

Costumo atingir 200 mil visualizações, no máximo, mas o vídeo da geometria chegou em 400 mil no Instagram em pouco tempo. Eu falo bastante das questões políticas e sociais do funk, traz muito engajamento, mas geometria parece um tema despolitizado. Nunca pensei que essa abstração fosse gerar interesse.

Livro de Thiagson sobre funk lançado em 2024, enquanto ainda fazia doutorado no departamento de Música da USP.
Foto: Arquivo pessoal

Foi um sucesso, então?

Por mais que eu tenha sido aceito na USP, meu trabalho recebe muita aversão. Eu continuo falando, divulgando, sempre no sentido de mostrar que há uma semelhança dos ritmos populares da diáspora africana. A geometria do funk é a mesma geometria, por exemplo, do son, ritmo cubano. A gente tem essa matriz rítmica.

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O rap é mais aceito que o funk na academia?

O rap é mais aceito pelos progressistas, pelos intelectuais. Sempre vai para a questão social da coisa, mas esquece que é música, que a substância é musical. Quanto ao meu trabalho, não havia na área da música, que é conservadora.

Doutorado concluído, quais são os planos?

Sou mais um na estatística, sou mais um daqueles doutores desempregados, mas produzindo conteúdo. Vou voltar com meu canal no Youtube, tudo começou por causa dele, há quase dez anos atrás. Também continuo dando palestras, realizo clube de leitura e projeto de música na favela Nova Titã. E rodo várias quebradas.

Fonte: Visão do Corre
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