Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou publicamente que o acesso à internet deve ser um direito humano, uma vez que ela permite que indivíduos busquem, encontrem e compartilhem informações de todos os tipos, de uma forma instantânea e barata, além de impulsionar o desenvolvimento econômico, social e político, contribuindo para o progresso da humanidade como um todo.
Todos sabem que a internet é uma poderosa ferramenta para exercer a democracia e garantir seus direitos como cidadão. Redes sociais e outras plataformas digitais estão sendo usadas há tempos para tornar a educação mais acessível e servir como ponto de encontro para discussões construtivas.
A internet também se provou o melhor meio de expressar suas ideias e opiniões, e é justamente por isso que ela vem sofrendo tantas tentativas de censura ao longo dos últimos tempos, especialmente em países politicamente conturbados.
Mesmo sendo tão importante para a vida de qualquer pessoa, apenas um dentre três cidadãos ao redor do mundo tem acesso à web. No Brasil, de acordo com um relatório desenvolvido pela própria ONU, 42% da população está desconectada e somente 11,5% dos brasileiros possuem banda larga.
O Brasil, que sofre com graves deficiências em sua infraestrutura de telecomunicações, ainda conta com outro agravante: o alto custo dos planos de dados impede sua contratação por parte dos menos favorecidos.
Esses problemas nos trazem ao cenário atual onde diversas novidades tecnológicas surgem diariamente ao redor do mundo, mas boa parte dos brasileiros não conseguem ter acesso.
Para mudar esse cenário, alguns projetos estão sendo criados, oferecendo aulas de programação com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pessoas que ocupam parcelas mais carentes da população.
O Morro dos Prazeres e o Complexo do Alemão exemplificam as muitas diferenças geográficas, demográficas, econômicas e culturais entre as numerosas favelas cariocas. Abrigando aproximadamente 10.000 habitantes, o Morro dos Prazeres, localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro, possui poucas ruas formais e está entre as áreas urbanizadas situadas nas maiores altitudes da cidade. O comércio local limitado e o pouco acesso a transportes públicos precarizam o acesso a empregos estáveis para os moradores.
Enquanto isso, o Complexo do Alemão, formado por 17 favelas e mais de 150.000 habitantes na Zona Norte, coloca seus moradores à distância de muitas oportunidades de carreira com maior potencial de ganhos e centros de formação.
É neste cenário que a demanda por trabalhadores de tecnologia da informação se tornaram oportunidades, explicou o diretor do Vai na Web, João Silva.
Criado em 2017, o projeto Vai na Web oferece gratuitamente aulas de programação dentro das comunidades. João relata que o programa não apenas ensina aos jovens técnicas para ingressar ao mercado de trabalho, mas também faz parcerias com empresas que precisam de funcionários qualificados. Após completarem todo o curso, os estudantes frequentemente encontram oportunidades de empregos com salários iniciais mais altos do que os de seus próprios pais. De acordo com o site do Vai na Web, 48% dos participantes retornam aos estudos ou ingressam na universidade, e 55% estão empregados. Alguns formados pelo programa seguem carreiras fora do Brasil.
João afirma que para cada ano de escolaridade é possível aumentar de 10-13% a média salarial dos alunos do projeto. Ainda assim, poucos moradores do Morro dos Prazeres ou do Complexo do Alemão veem esse nível de educação como viável e, por esse motivo, não procuram alcançá-lo. Por isso, um dos principais objetivos do Vai na Web é convencer as famílias e a comunidade como um todo de que o tempo investido em estudos vale a pena.
Rachel Américo, monitora do projeto, define o aprendizado como um momento de diversão que fortalece a inspiração para um futuro promissor, “Essa é uma outra forma de aprender matérias tradicionais como matemática e física que também são englobadas nas nossas aulas de programação. É impressionante ver de perto a empolgação dos pequenos ao brincar com seus próprios projetos, uma animação dificilmente observada durante a aplicação de disciplinas pedagógicas tradicionais. Eles correm, debatem, teclam com desenvoltura e resolvem rapidamente os erros na estruturação do código”, diz.
Rachel menciona que o início do projeto foi bem difícil devido à falta de confiança dos responsáveis de alguns dos alunos no projeto. “A mãe de um jovem não acreditava que alguém pudesse ganhar a vida sentado em frente ao computador todo o dia”, conta a monitora.
Embora a equipe do Vai na Web seja pequena e constituída por voluntários, eles trabalham de forma impecável e são fortemente conectados a outras organizações localizadas dentro e fora do estado.
Vai na Web visa diminuir o abismo do acesso à educação, ajudando os alunos a sonharem com novas perspectivas e a permanecerem ancorados, pois muitos lidam diariamente com a desigualdade social, tendo apenas a violência e a fome como cenário. Inspirando-se em Paulo Freire, João cita: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”, finaliza.