Em nova pesquisa realizada pelo instituto Datafolha e divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo neste domingo (12), 50% da população brasileira afirma ser a favor da política de cotas raciais em universidades públicas. Os contrários representam 34%, aqueles que não souberam responder, 12%, e 3% são indiferentes.
A pesquisa ouviu 2.090 pessoas a partir de 16 anos em 130 municípios brasileiros e foi feita em parceria do Cesop-Unicamp. O levantamento contou com a coordenação das organizações sociais sem fins lucrativos Ação Educativa e Cenpec.
Quando considerado o recorte de pais com filhos estudantes de escolas particulares, a porcentagem de favoráveis aumenta para 60%. A ausência de opinião sobre as ações afirmativas é maior entre os pais de filhos em escolas públicas: 11% do grupo respondeu não ter um posicionamento. Já entre os pais de alunos em escolas particulares, 3% não souberam opinar.
Apesar de mais beneficiados pelas cotas, os entrevistados que têm filhos em escolas públicas também reprovam mais as cotas (36%) do que aqueles com filhos em escolas privadas (35%).
Segundo os números obtidos, quanto mais jovem e quanto mais alta for a escolaridade e renda, maior é a aprovação à política.
Uma possível associação entre o posicionamento político e a aprovação das ações afirmativas raciais também foi investigada pela pesquisa. Entre os entrevistados favoráveis à política de cotas, 57% avaliam a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) como péssima. Já entre os que consideram o governo Bolsonaro ótimo o apoio às cotas cai para 31%.
Durante a pesquisa, os entrevistados foram questionados se concordavam com a presença de discussões sobre a discriminação racial em sala de aula. A grande maioria, 81,4%, concorda plenamente, enquanto 5,7% discorda; apenas 0,3% não concorda e nem discorda.
Sobre o respeito à diversidade religiosa em escolas públicas (incluindo religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, e a não adesão a nenhuma religião), 93,7% concordam totalmente e 3,4% discordam.
Lei de Cotas completa 10 anos
A Lei 12.711/12, mais conhecida como "Lei de Cotas", completa uma década em 2022. A própria norma prevê sua revisão neste ano - o que reacendeu o debate sobre o tema e promete mobilizar o Congresso.
Atualmente, a lei prevê que 50% das vagas em universidades e institutos federais sejam direcionadas para pessoas que estudaram em escolas públicas. Desse total, metade é destinada à população com renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita.
A distribuição das vagas da cota étnico-raciais e para pessoas com deficiência é feita de acordo com a proporção de indígenas, negros, pardos e pessoas com deficiência da unidade da Federação onde está situada a universidade ou instituto federal, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas sempre foi alvo de debates na sociedade. Um estudo do pesquisador Adriano Senkevics, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), concluiu que a participação de estudantes destes grupos vindos de escola pública em instituições federais saltou de 27,7% em 2012 (ano de implementação da lei) para 38,4% em 2016 (ano que registra a reserva de 50% da vagas em todas as universidades federais).
Em 2018, a Universidade de São Paulo (USP), historicamente contrária ao uso de cotas, aderiu às políticas afirmativas. Três anos depois, em 2021, a universidade atingiu a marca de mais metade de seus alunos matriculados (51,7%) serem oriundos de escolas públicas. Em uma pesquisa, também divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, notou-se que a diferença de notas entre estudantes cotistas e não-cotistas cai ao longo da graduação