O cursinho A Sol acolhe jovens das periferias com a finalidade de promover a inclusão na educação. Por meio de doações e voluntários, os estudantes têm professores capacitados, muitos deles ex-alunos do pré-vestibular. Os resultados são comprovados pela quantidade de aprovados em universidades publicas e privadas. Mais de 350 estudantes do cursinho viraram universitários.
Começa o ano letivo do cursinho A Sol, em Guarulhos, com 40 estudantes das periferias. Há 18 anos, o centro comunitário, cujo pré-vestibular é a atividade mais conhecida, luta por inclusão na educação. Não à toa, a sigla do nome significa Arrastão da Solidariedade, por onde passaram mais de mil alunos, com 350 aprovados em universidades.
Promovendo aulas públicas aos finais de semana e cursinho pré-vestibular aos sábados, as atividades funcionam na rua Paes de Barros, próxima ao centro de Guarulhos, em um prédio cedido pelo grêmio Vilas Unidas, uma associação esportiva.
O público do cursinho é de jovens das periferias de Guarulhos. Um dos requisitos para ingressar é a situação socioeconômica. Sem sistema de apostila, livro didático ou xerox, somente com lousa, datashow, envio de PDF e caderno, A Sol vem alcançando resultados.
São 30 voluntários, 15 professores e cinco coordenadores. Para estudar, quem puder, paga R$ 50,00 de mensalidade. Quem não puder e for selecionado, estuda de graça. O cursinho vive de doações e não tem ligação direta com nenhum partido ou político. O coordenador Walter Bollito conta que chegaram a tirar dinheiro do próprio bolso para custear despesas.
A expectativa de quem começa
Maria Clara Kirchhof, de 18 anos, está em um cursinho pela primeira vez. Prestou vestibular para Psicologia no ano passado, mas não passou. Está determinada. “Quero seguir na área de saúde pública, para cuidar da galera que não tem dinheiro para pagar”, diz a aluna que conheceu o cursinho A Sol através de amigos.
Ana Maria Leal, 17 anos, vai prestar vestibular pela primeira vez. Quer Medicina. Conheceu o cursinho através de um professor. Em casa, seu pai é referência. “Ele é meu maior exemplo, fez Enfermagem e tem três pós-graduações. É muito esforçado e corre atrás dos sonhos dele”.
A mãe, que a acompanha, está feliz pela filha. “Sempre foi muito estudiosa. Estou do lado dela para o que precisar”, garante Cícera Leal, 42 anos. Para inspirá-la, o cursinho tem um exemplo emblemático, a aluna com quase 60 anos que conseguiu aprovação em Medicina. “É uma vitória nossa também”, diz o coordenador Walter Bollito.
Entrando com a família na universidade
No ano passado, alunas e alunos entraram em cursos concorridos, como Medicina, e universidades privadas e públicas, a exemplo da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A grande maioria de quem passou no último vestibular, e em anteriores, é constituída por jovens que são as primeiras e os primeiros da família a ingressar na universidade. Angelo Gavassi, 18 anos, entrou em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec).
“Sou eterno aluno daqui. E quero voltar como voluntario”, promete. Matheus Silva, 19 anos, começou a cursar Lazer e Turismo, na USP. Ele fez cursinho por dois anos na A Sol, para onde foi levado pela mãe de um amigo.
Alunos retornam como professores
Muitos professores e voluntários são ex-alunos que voltam para atuar como forma de gratidão. Fábio da Silva, 31 anos, dá aula de Física. Foi aluno do cursinho em 2011. Sem acesso à internet em casa, passava o dia no A Sol para ver aulas gravadas. Deu certo, passou na USP. “Sou muito feliz com a minha escolha”, diz o agora também professor do cursinho A Sol, para quem a iniciativa popular é um espaço de construção coletiva.
O Visão do Corre conversou com a dupla de Lucas, um voluntário e um professor. Lucas Merino foi aluno em 2015, passou em História na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e, neste ano, voltou para lecionar.
Lucas Guerra, aluno em 2013, integra a coordenação e a zeladoria. Passou na Fatec para Tecnólogo em Construção Civil, e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Engenharia Civil.
O professor Everaldo Batista da Silva, de Português, depois de aposentado procurou cursinhos populares para dar aula. Segundo ele, é uma maneira de retribuir à sociedade o que fizeram para ele e sua família.
Graças a cursinhos populares, seus filhos conseguiriam ingressar na universidade. “Faço isso pela gratidão mesmo”, resume.