Pista na rua transforma a quebrada e idealizador quer visita de Memphis Depay

Corinthiano que mantém projeto social ao lado da Neo Química Arena formou e recebeu grandes atletas, mas ainda falta um

11 abr 2025 - 04h59
Resumo
Nascido em Potengi (CE), nosso personagem veio criança para Itaquera, zona leste de São Paulo. Criado pela mãe, tia e avó, fundou projeto social em 1998. Pintura da rua transformada em pista é só uma das grandes histórias do ativista social.
As corridas na rua mobilizam Itaquera. Fran está à direita, de shorts preto e regata azul, incentivando na linha de chegada..
As corridas na rua mobilizam Itaquera. Fran está à direita, de shorts preto e regata azul, incentivando na linha de chegada..
Foto: Divulgação

Francisco Carlos da Silva, 54 anos, pintou uma pista de corrida de 200 metros em uma rua de Itaquera, zona leste de São Paulo, mudou a comunidade, formou campões, e quer mais: seu próximo objetivo é receber o atacante corintiano Memphis Depay.

Corintiano “doente”, a pista e a sede do projeto social que fundou estão a 800 metros da Neo Química Arena. Mas seu trabalho começou bem antes da inauguração do estádio. Cansado de perder amigos para o crime, fundou em 1998 a Associação Esportiva e Cultural Kauê (nome do primeiro filho).

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Em 2014, uma das repinturas da rua. Sucesso e ineditismo trouxe a marca esportiva Asics para patrocinar o projeto.
Foto: Divulgação

A pista na rua Nicolino Mastrocola foi pintada pela primeira vez há 20 anos porque “uma garotinha disse que nunca tinha visto uma pista de atletismo”. Fran, como é chamado, foi para a rua e pintou a pista. De lá para cá, vem mudando o “fundão da periferia”.

“Quem sabe um dia o poder público tenha noção de que investir em pistas de atletismo é muito mais barato e humano do que construir presídios? Não é justo perdemos crianças para o tráfico e as drogas. Nem o traficante quer o filho neste caminho”, diz Fran.

Francisco Carlos da Silva, o Fran, corre na pista pintada em rua de Itaquera. Projeto existe há 27 anos.
Foto: Divulgação

“Atletas são sementes do asfalto”

Conhecido como “o maluco que pintou a rua”, Fran é apaixonado por esporte, por ações sociais, pelo Corinthians, pela quebrada. “A essência toda é aqui. Os atletas são sementes do asfalto”, poetiza.

O projeto formou campeões brasileiros, sul-americanos, de maratonas internacionais. E atrai atletas famosos, como Claudinei Quirino, Marílson dos Santos, Alan Fonteles e Usain Bolt – sim, o jamaicano quis conhecer Fran e um de seus jovens promissores, apelidado de “mini Bolt”.

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Nas aulas regulares, atende de 40 a 50 crianças por turma, além da terceira idade, tanto na rua, quanto no Parque Linear Córrego do Rio Verde – a pista do parque foi conseguida por Fran, que cutucou incansavelmente a prefeitura. Na rua, as corridas chegam a juntar 500 pessoas.

Pista do Parque Linear Córrego do Rio Verde, em Itaquera, foi resultado de uma batalha de Fran junto à Prefeitura.
Foto: Divulgação

“Os gringos vêm aqui e ficam doidos. Eu não deixo a minha quebrada, eu não largo isso aqui, viajei não sei quantos países por causa do esporte”. Fran é formado em informática, com bolsa integral por ser atleta. Faixa preta, ex-jogador de futsal e corredor, participou de centenas de provas, inclusive maratonas.

Histórias de Fran parecem de pescador, mas são reais

Não é clichê: a vida de Fran daria vários livros. Ele escreveu um, lançado em 2011, mas só tem o PDF da obra. “Imprimi 350 exemplares. No dia do lançamento de Um Guerreiro da Periferia, a quebrada comprou tudo. Doei o dinheiro para um vizinho com necessidade.”

Fran tem mais histórias do que pescador, mas são verdadeiras. Uma delas: seu segundo filho, Lucca, nasceu exatamente no dia centenário do Corinthians. Outra: ele foi um dos condutores da tocha olímpica no Rio de Janeiro.

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O foco de Fran são as crianças. Ele não quer que aconteça com elas o que viu acontecer com seus amigos.
Foto: Divulgação

Quer mais? Há 25 anos, ele caminha até a basílica de Aparecida do Norte, interior paulista. “Precisa acreditar no ser superior, você tem contas a prestar com ele”. Fran também treinou e treina atletas da seleção brasileira.

Na quebrada, conseguiu mudar a rua da pista para mão única, distribuiu cinco mil cestas básicas na pandemia, recusou convite de seis meses nos Estados Unidos para treinar um garoto da quebrada, e por aí vai...

Fran quer receber Memphis Depay

Por essas e outras, a história de Fran está no Museu da Pessoa, dedicado a registrar trajetórias que inspiram, provocam e transformam. Ele quer mais. Entre os desejos que fervilham em sua cabeça, está o de receber o atacante Corintiano Memphis Depay.

Desenho de Fran para Memphis Depay. Na legenda, mencionou o filho Lucca, nascido no centenário do Corinthians.
Foto: Reprodução

Agilizado, materializou a ideia, como sempre. Fez um desenho de Depay, escreveu um dedicatória em inglês “com ajuda do Google tradutor” e, durante a entrevista, parecia ser este o principal assunto que queria abordar.

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“Não custa tentar, né? Ele está tão pertinho. Quem sabe depois dessa reportagem ele não vem aqui conhecer o projeto?”. Fran está fazendo novamente a aposta que fez a vida inteira: “o esporte tem o poder de encurtar distâncias”.

Fonte: Visão do Corre
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