Entre 8 mil moradores da São Remo, são raros os representantes universitários da comunidade formada por trabalhadores que construíram o campus central. Os graduandos e pós-graduados pela USP no ano passado correspondem a uma vez e meia a população da favela.
Do ponto de vista da ausência da educação e da presença da polícia, a favela São Remo, na zona oeste de São Paulo, é peculiar: está encravada entre o 16º batalhão da Polícia Militar e a Universidade de São Paulo (USP).
Em agosto, quando abriram as inscrições para o vestibular da Fuvest, que seleciona para a USP, fomos atrás de estudantes da São Remo que conseguiram ultrapassar o muro real e simbólico entre a favela e a Universidade.
Tendo como fontes principais o cursinho popular da São Remo, lideranças comunitárias e professores da USP, chegamos a três estudantes. Não deve haver muitos mais.
Contamos a história de um aluno de Arquitetura, que levou quatro anos para passar no vestibular da Fuvest; outro que tentou por dois até entrar em Educação Física, o mesmo tempo de uma discreta aluna de Engenharia, que preferiu não ser fotografada.
Afrodescendentes nascidos no Hospital Universitário da USP, suas vitórias pessoais não significam que “a favela venceu”. Segundo o Anuário Estatístico da Universidade de São Paulo, em 2024 somente 4,17% dos aprovados são pretos – brancos correspondem a 65,33%.
Perfis dos ingressantes na USP
Segundo dados oficiais, 17,83% dos aprovados pela Fuvest no último vestibular estudaram em escola pública, como os três estudantes da São Remo encontrados pelo Visão do Corre.
As famílias com renda de um salário-mínimo representaram 3,17% dos novos alunos. A faixa salarial dos pais e mães da maioria dos calouros está entre dez e quinze salários-mínimos.
São médicos, engenheiros, promotores. Filhos de padeiros, operários, mecânicos, pedreiros e pintores, como são os três estudantes da São Remo, representam 6,5%.
No ano passado, a USP formou uma quantidade maior de estudantes do que de moradores da São Remo, que tem quase 8 mil habitantes segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE).
Os 14.726 graduados e pós-graduados pela USP correspondem a uma vez e meia a população da favela.