Gabriel Durace, de Lorena, interior paulista, é um atleta de destaque no BMX Freestyle. Veio da pobreza, lutou para chegar ao pódio e hoje realiza projeto social de ciclismo. Amigo de Gustavo Bala Loka, que competirá nas Olimpíadas de Paris 2024 na mesma modalidade de Durace, quer ver jovens da quebrada chegando à mesma competição.
Gabriel do Reis, mais conhecido como Gabriel Durace, nasceu e cresceu em Lorena, interior paulista, em um bairro conhecido pela alta criminalidade, a Vila Brito. Desde cedo, enfrenta desafios de viver em uma área perigosa, mas encontrou na ciclismo BMX Freestyle, também arriscado e radical, uma forma de escapar dessa realidade.
Lorena é uma cidade paulista de 85 mil habitantes, atravessada pela Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. O município está na divisa entre os dois estados. Apesar da qualidade de vida, a Vila Brito ficou conhecida pela criminalidade, tráfico e crimes.
“Tínhamos muito medo de estar lá por conta de, a qualquer momento, ser roubado ou, até mesmo, devido a guerras de facções”, conta Durace – a propósito, como surgiu o apelido Durace?
Bicicleta comprada em doze parcelas
O irmão de Gabriel treinava BMX, modalidade “race”, e ele também se envolveu. “Um dia, apareci para treinar e alguns bikers me reconheceram. Um deles olhou pra mim e falou ‘olha lá o carinha do race’. Aí virou Gabriel Durace. E nisso, está até hoje”.
De família pobre, a mãe, Elizabeth Ribeiro, trabalhava em uma pizzaria. Sempre o apoiou, mas na periferia a barreira praticamente insuperável não é a do afeto, mas a da grana. Com muito esforço, ela conseguiu comprar a bicicleta de Gabriel, parcelada em 12 vezes.
No entanto, a bicicleta quebrou após apenas três meses de uso, devido à fragilidade do material. “Fiquei decepcionado, triste e preocupado”, relembra Gabriel.
Ganhando as alturas com a bicicleta
Determinado a continuar, Gabriel começou a treinar em um espaço público em Lorena. Foi lá que conheceu o BMX Freestyle e decidiu migrar para essa modalidade. Contudo, as limitações do local o levaram a buscar melhores condições de treino na cidade vizinha, Taubaté, que possui a maior pista coberta de madeira da América Latina.
Sem recursos financeiros, Gabriel dependia da ajuda do amigo DJ Tigrão, que trabalhava em um açougue e lhe dava R$15 para as viagens de ônibus. “Treinava na pista e voltava, era um ciclo”, conta Gabriel. Seu talento começou a aparecer, e ele se inscreveu no primeiro campeonato em São Paulo, onde ficou em sétimo lugar.
Dinheiro da conta de luz para competir
A virada na carreira de Gabriel aconteceu quando, incentivado pelo bom desempenho anterior, decidiu participar do Jump Festival, um evento transmitido pela Globo. Sem dinheiro para a viagem, sua mãe outra vez fez um sacrifício financeiro, usando o dinheiro da conta de luz para que Gabriel pudesse competir.
Ele se consagrou campeão, ganhando prêmios e visibilidade, que atraíram patrocinadores. Entre eles, a Ursofrango, marca de streetwear que destina a totalidade dos lucros ao investimento em atletas de modalidades radicais.
Eles trabalham juntos em projetos sociais para levar o BMX a comunidades carentes, oferecendo às crianças as mesmas oportunidades que Gabriel teve.
O projeto Joga Junto acontece na cidade de Taubaté. O objetivo é levar o BMX com rampa em colégios, proporcionando para crianças carente o ambiente de atletas profissionais fazendo manobras.
BMX freestyle nas Olimpíadas de Paris
Gabriel Durace sonha em ver mais jovens de periferia brilhando no esporte. “O objetivo é levar uma criança de comunidade para as Olimpíadas”, diz.
Com 30 anos, Durace ainda tem chance de competir em uma Olimpíada. “É o sonho de todos os atletas, né?”. Em 2022 e 2023, foi muito bem no ranking, mas sofreu acidentes que o tiraram de competições. “E o custo também, né? As viagens eram muito caras e eu não conseguia verba para ir aos grandes eventos e mundiais”, relata.
“Hoje, posso apoiar os meus amigos, como é o caso do Gustavo Bala Loka, que estará representando o Brasil nas Olimpíadas e promete muita coisa boa. Com certeza, esse ciclo olímpico foi muito positivo e as coisas vão mudar em relação aos atletas profissionais aqui no Brasil”, acredita.