A jornada de superação de um atleta de quebrada no BMX

Cria da periferia e ajudado pela mãe, ele superou dificuldades e se tornou destaque no BMX Freestyle, esporte olímpico

25 jun 2024 - 13h18
Resumo
Gabriel Durace, de Lorena, interior paulista, é um atleta de destaque no BMX Freestyle. Veio da pobreza, lutou para chegar ao pódio e hoje realiza projeto social de ciclismo. Amigo de Gustavo Bala Loka, que competirá nas Olimpíadas de Paris 2024 na mesma modalidade de Durace, quer ver jovens da quebrada chegando à mesma competição.
Gabriel Durace treinando em rampa improvisada no quintal da casa no bairro Vila Brito, em Lorena, interior paulista.
Gabriel Durace treinando em rampa improvisada no quintal da casa no bairro Vila Brito, em Lorena, interior paulista.
Foto: Arquivo pessoal

Gabriel do Reis, mais conhecido como Gabriel Durace, nasceu e cresceu em Lorena, interior paulista, em um bairro conhecido pela alta criminalidade, a Vila Brito. Desde cedo, enfrenta desafios de viver em uma área perigosa, mas encontrou na ciclismo BMX Freestyle, também arriscado e radical, uma forma de escapar dessa realidade.

Lorena é uma cidade paulista de 85 mil habitantes, atravessada pela Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. O município está na divisa entre os dois estados. Apesar da qualidade de vida, a Vila Brito ficou conhecida pela criminalidade, tráfico e crimes.

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“Tínhamos muito medo de estar lá por conta de, a qualquer momento, ser roubado ou, até mesmo, devido a guerras de facções”, conta Durace – a propósito, como surgiu o apelido Durace?

Bicicleta comprada em doze parcelas

O irmão de Gabriel treinava BMX, modalidade “race”, e ele também se envolveu. “Um dia, apareci para treinar e alguns bikers me reconheceram. Um deles olhou pra mim e falou ‘olha lá o carinha do race’. Aí virou Gabriel Durace. E nisso, está até hoje”.

Gabriel Durace e a mãe, Elizabeth Ribeiro, que fez de tudo para o filho crescer como atleta. E deu certo.
Foto: Arquivo pessoal

De família pobre, a mãe, Elizabeth Ribeiro, trabalhava em uma pizzaria. Sempre o apoiou, mas na periferia a barreira praticamente insuperável não é a do afeto, mas a da grana. Com muito esforço, ela conseguiu comprar a bicicleta de Gabriel, parcelada em 12 vezes.

No entanto, a bicicleta quebrou após apenas três meses de uso, devido à fragilidade do material. “Fiquei decepcionado, triste e preocupado”, relembra Gabriel.

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Ganhando as alturas com a bicicleta

Determinado a continuar, Gabriel começou a treinar em um espaço público em Lorena. Foi lá que conheceu o BMX Freestyle e decidiu migrar para essa modalidade. Contudo, as limitações do local o levaram a buscar melhores condições de treino na cidade vizinha, Taubaté, que possui a maior pista coberta de madeira da América Latina.

Em Taubaté, Gabriel Durace encontrou o local ideal para treinar. Hoje, retribui o apoio com projeto social na cidade
Foto: Prefeitura de Taubaté

Sem recursos financeiros, Gabriel dependia da ajuda do amigo DJ Tigrão, que trabalhava em um açougue e lhe dava R$15 para as viagens de ônibus. “Treinava na pista e voltava, era um ciclo”, conta Gabriel. Seu talento começou a aparecer, e ele se inscreveu no primeiro campeonato em São Paulo, onde ficou em sétimo lugar.

Dinheiro da conta de luz para competir

A virada na carreira de Gabriel aconteceu quando, incentivado pelo bom desempenho anterior, decidiu participar do Jump Festival, um evento transmitido pela Globo. Sem dinheiro para a viagem, sua mãe outra vez fez um sacrifício financeiro, usando o dinheiro da conta de luz para que Gabriel pudesse competir.

Ele se consagrou campeão, ganhando prêmios e visibilidade, que atraíram patrocinadores. Entre eles, a Ursofrango, marca de streetwear que destina a totalidade dos lucros ao investimento em atletas de modalidades radicais.

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Primeiro evento em que Gabriel Durace ganhou prêmio. Dali em diante, voos cada vez mais altos
Foto: Divulgação

Eles trabalham juntos em projetos sociais para levar o BMX a comunidades carentes, oferecendo às crianças as mesmas oportunidades que Gabriel teve.

O projeto Joga Junto acontece na cidade de Taubaté. O objetivo é levar o BMX com rampa em colégios, proporcionando para crianças carente o ambiente de atletas profissionais fazendo manobras.

BMX freestyle nas Olimpíadas de Paris

Gabriel Durace sonha em ver mais jovens de periferia brilhando no esporte. “O objetivo é levar uma criança de comunidade para as Olimpíadas”, diz.

Com 30 anos, Durace ainda tem chance de competir em uma Olimpíada. “É o sonho de todos os atletas, né?”. Em 2022 e 2023, foi muito bem no ranking, mas sofreu acidentes que o tiraram de competições. “E o custo também, né? As viagens eram muito caras e eu não conseguia verba para ir aos grandes eventos e mundiais”, relata.

Gustavo Bala Loka, que vai representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris 2024 na modalidade BMX Freestyle
Foto: Miriam Jeske/COB

“Hoje, posso apoiar os meus amigos, como é o caso do Gustavo Bala Loka, que estará representando o Brasil nas Olimpíadas e promete muita coisa boa. Com certeza, esse ciclo olímpico foi muito positivo e as coisas vão mudar em relação aos atletas profissionais aqui no Brasil”, acredita.

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Fonte: Visão do Corre
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