Jucielen Romeu, esperança de medalha no boxe na Olimpíada de Paris, teve a sorte de ser encontrada por Marcos Macedo, um obstinado treinador que buscou nas periferias de Rio Claro os talentos de sua academia. Pelo projeto social de 21 anos, passaram mais de mil atletas, entre eles campeões como Jhonatan Conceição. Os dois filhos de Macedo são técnicos: Leonardo é da seleção brasileira e está Paris; Breno conversou com o Visão do Corre.
É difícil imaginar um projeto social que tenha formado tantos campeões no boxe, com atletas na seleção brasileira, além de um técnico, e a esperança de medalha olímpica Jucielen Romeu.
Esse recorde foi conquistado em Rio Claro, interior paulista, na Academia MM Boxe. Ela foi fundada pelo técnico Marcos Macedo, sujeito iluminado que buscou talentos na periferia.
Rio Claro está a 170 quilômetros da capital paulista e tem 200 mil habitantes segundo o IBGE. Marcos Macedo era treinador do Centro Olímpico, em São Paulo, mas mudou para a cidade interiorana de origem da esposa.
A Academia MM Boxe começou há 21 anos, ocupando barracões ferroviários abandonados no centro da cidade. Mas Marcos Macedo não estava satisfeito: partiu para as periferias em busca de outros espaços, como associações de moradores, para oferecer treinos de boxe.
Encontrou talentos que foi levando para o espaço central, como a própria Jucielen Romeu, Jhonatan Conceição e Kauê Belini, o Baby Bull, último campeão brasileiro.
“Quer descobrir um boxeador? Vai pra periferia”
Marcos Macedo está com problemas de saúde. O Visão do Corre conversou com seu filho, o técnico Breno Macedo – o irmão, Leonardo Macedo, é um dos técnicos da Confederação Brasileira de Boxe nos Jogos Olímpicos de Paris, novamente com Jucielen.
“A maioria dos nosso atletas vem da periferia. Nossa academia está no centro da cidade, perto do terminal de ônibus, o que facilita. Mas o pessoal também se locomove muito de bicicleta”, conta Breno.
“Boxe é esporte de gueto, de periferia, atrai gente que tomou muita porrada da vida, é um esporte muito duro, tem essa marca histórica”, diz Breno Macedo, com propriedade. Ele é mestre em História Social do Boxe pela Universidade de São Paulo (USP).
E gosta de fazer um contraponto: muitas coisas que faltam aos atletas, como grana, geram outras que sobram, como “coragem, determinação, força de vontade, disciplina”.
Jucielen Romeu “tinha estrela desde cedo”
Mais de mil jovens passaram pela Academia MM Boxe em 21 anos. Alguns vieram da periferia, outros foram buscados por Marcos Macedo, que, a partir de 2007, passou a garimpar talentos nas quebradas de Rio Claro.
Jucielen Romeu e Jhonatan Conceição vieram do Jardim Guanabara. “Ela era tímida, mas demonstrava ter muito talento. Era magrinha, mas muito rápida, muito coordenada. Tinha estrela”, lembra Breno.
Quando Jucielen começou a treinar, vinha para a academia de ônibus ou bicicleta. Mas com a mudança da família para o bairro Terra Nova, a mãe não a deixava vir sozinha. Ficou um ano parada.
Até que conseguiram alojamento e bolsa da prefeitura no centro de Rio Claro, possibilitando a retomada de Jucielen. “Foi uma mudança grande, ela tinha uns dezesseis anos, treinava duas vezes por dia”, lembra Breno.
Carreira não foi linear
Quando foi convocada para a seleção brasileira pela primeira vez, em 2016, a carreira de atleta de ponta não deslanchou definitivamente. Após um ano, foi dispensada, voltou para Rio Claro.
Não era mais uma menina, e, sem perspectiva, estava decidida a parar. Em 2018, disputou o campeonato brasileiro naquela de “vamos ver”. Foi campeã, novamente convocada para a seleção brasileira e nunca mais saiu.
Sobre a possibilidade de medalha olímpica, Breno diz que Jucielen, atual campeã Pan-Americana, “teve uma evolução muito grande de Tóquio para cá. Apresenta maturidade maior em cima do ringue”.
Se a medalha vier, Marcos Macedo, o descobridor de talentos na periferia de Rio Claro, vai realizar mais um sonho. Dele, de muitas e muitos outros, como tem sido seu propósito de vida.