“Brigador”. É assim que Fábio Mamedes de Souza, 30, morador do Jardim Viana, periferia de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, gosta de se descrever no ringue. Ele é vigilante, boxeador na categoria super pesado (até 91 quilos) e treinador de futebol do time da várzea paulista Morrão F.C.
Antes de conhecer o boxe, ele tentou ser jogador de futebol na adolescência, mas não teve sucesso. Certo dia, enquanto assistia a uma luta do ex-pugilista brasileiro Maguila pela televisão, o pai dele disse que queria ter um filho como o lutador. Essa frase ficou marcada na memória do jovem.
“Com 23 anos, comecei a me dedicar ao boxe aqui em Itaquaquecetuba mesmo, na Academia Leão de Judá”, conta. Desde então, Fábio passou a competir em campeonatos. Em 2016, com apenas três meses de treinos, venceu a Forja dos Campeões, o maior campeonato para iniciantes de boxe do país.
“Quando comecei, queria realizar alguma competição para que se confirmasse que era no boxe que eu iria prosseguir. Aí apareceu a Forja e eu, apesar da pouca experiência (aliás, nada de experiência), consegui ser campeão”, lembra.
“Tinham cinco adversários e eu consegui vencer todos eles com muita dedicação. Perguntei para o meu treinador: ‘só pode dar porrada, né? não pode dar chute, nem cotovelada, nem cabeçada?’. Aí fui com garra e coração porque técnica mesmo eu não tinha nenhuma.”
Em 2018, Fábio foi vice-campeão paulista e, em 2020, foi campeão brasileiro. Agora ele está buscando migrar da categoria amadora para a profissional. Para isso, ele treina duas vezes ao dia, de domingo a domingo, em casa, na rua e em uma academia em Suzano, cidade vizinha.
“Inclusive, na final do Campeonato Paulista, enfrentei um competidor que foi sargento da Marinha. Consegui lutar com ele de igual para igual, mesmo treinando na rua, debaixo da ponte com meus equipamentos”, conta. “Infelizmente perdi por pontos, mas fiquei muito feliz em saber que estou tendo bons resultados.”
Em 2021, para manter o treinamento em casa, Fábio criou os próprios equipamentos de musculação. Entre eles, um saco de pancada, halteres e barras de ferro. Ele também utiliza um elástico de soro amarrado nas pernas para ganhar resistência e velocidade.
“Às vezes não tenho condições de comprar algum equipamento, então projeto um semelhante para poder desenrolar certinho nos treinos”, diz. “Por ser grande, já tenho a força natural. Mas preciso me preparar para ter uma resistência para durar os doze rounds no ringue”, complementa.
Fábio ainda não conseguiu chegar na categoria profissional, mas diz que está no caminho. Em maio de 2022, ele lutou novamente pelo Campeonato Paulista, mas perdeu. “Perdi por nocaute no primeiro round contra um atleta muito experiente. Inclusive já tinha ganhado dele, mas dessa vez acabei perdendo feio”, conta.
Para o futuro, o desejo dele é abrir a própria academia para treinar e dar aulas de boxe, além de “seguir uma carreira magnífica” no esporte. “O foco é ser um campeão mundial”, conclui.