Capoeira transforma vidas de crianças e jovens de Salvador

Além de manter viva a cultura da capoeira, o projeto social é um resgate histórico e social da herança africana

25 ago 2022 - 05h00
Projeto Agô Capoeira.
Projeto Agô Capoeira.
Foto: Bruno Magalhães.

Transformando a vida de crianças e jovens da periferia de Salvador, no bairro de Pirajá, o Projeto Social Agô Capoeira vem proporcionando outras perspectivas de vida para jovens da comunidade e bairros vizinhos em situação de vulnerabilidade social a mais de 6 anos.

Praticante do esporte desde os 5 anos de idade, o Contramestre Bruno Magalhães conta sobre as dificuldades em manter o projeto vivo, já que não conta com apoio financeiro e precisa de recursos para manutenção de instrumentos como, berimbau atabaques entre outros.

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“Aqui a gente não cobra nada porque a gente entende a situação da galera. Quando a gente começou a cobrar, ninguém vinha, por causa das condições, de não poder pagar a capoeira. Então a gente faz o que a gente pode. Abrimos mão para poder dar oportunidade para galera treinar, está participando, tirar a atenção dos jovens da rua, ajudando pai e mãe. O esporte é educativo e vamos seguindo do jeito que pode, explica Bruno Magalhães.

Projeto Agô Capoeira.
Foto: Bruno Magalhães.

Com o suporte de mais um instrutor responsável, o projeto que traz consigo raízes de matrizes africana, sobretudo se propõe a ajudar os pais dos jovens participantes das aulas. Além da Capoeira, os alunos têm momentos de conversa com seus mestres, com objetivo de entender como está a realidade de cada um, seja em casa ou na escola.

“A gente sempre bate nessa tecla, pergunta quais dificuldades eles estão tendo dentro de casa, na sala de aula, tentamos ajudar de todas as formas, mesmo sem apoio de ninguém. Nosso apoio é Deus mesmo. Nós conversamos com esses jovens, explicamos que sem estudo não somos nada e é nessa conversa que tiramos a atenção deles em relação a outras atividades da rua”, conta o Contramestre Bruno.

Atualmente, Bruno não tem um emprego fixo, tenta levar o mês com bicos de ajudante de pedreiro, pintor, trabalhos com massas e reboco e outras atividades para conseguir fechar a renda do mês.

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As aulas que aconteciam na quadra de esportiva de Pirajá agora acontecem no Colégio Aquários das segundas, quartas e sextas-feiras, das 18h às 20h. Devido ao elevado índice de violência e por ser uma atividade realizada noite os instrutores conseguiram um espaço no colégio para dar continuidade ao projeto que até o momento conta com 32 alunos.

“A gente estava dando aula aqui na quadra, mas como está muito violenta a rua, os pais não queriam deixar os alunos vir pra aula no lugar aberto e exposto. Hoje através de um dos nossos instrutores a gente conseguiu o espaço numa escola privada, mas a gente não sabe até quando vai durar” relata Bruno.

A questão financeira não é a única barreira que o projeto Agô Capoeira precisa enfrentar, o preconceito instaurado sobre a capoeira e a distorção sobre sua história também são estão presentes no cotidiano. Segundo o contramestre, ainda é preciso dialogar com pais para desmistificar o preconceito em relação a uma prática histórica com grande relevância na cultura negra.

Projeto Agô Capoeira.
Foto: Bruno Magalhães.

A capoeira está sendo afastada de muitas coisas, ainda tem aquele preconceito que a capoeira é coisa de baixa qualidade, que é do candombe, faz parte de macumba, sofremos desse preconceito ainda. Hoje eu converso com alguns pais dos alunos para falar sobre isso, que a capoeira é um esporte, é uma luta que os negros desenvolveram para estar se libertando da opressão. A gente sempre incentiva a leitura, pesquisas em livros e na internet”, conclui Bruno Magalhães.

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Com objetivo de manter as atividades funcionando, o projeto Agô Capoeira disponibiliza uma chave pix, para aqueles que quiserem e puderem contribuir, através do e-mail: tchucolunashow23@gmail.com ou pelo (71)994013699.

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