O futebol feminino é feito de desafios que ultrapassam barreiras sociais ou econômicas. Há dogmas e preconceitos que partem de uma sociedade acostumada a perpetuar o machismo e impedir mulheres de alçar voos no esporte. Esta poderia ser a síntese da história de Ivonete Santana dos Reis Silva, 46, baiana de Piritiba, empreendedora e atacante na capital federal, mas, definitivamente, não é.
A atleta foi uma das mais experientes a jogar a Taça das Favelas Nacional 2022 – o Favelão –, competição organizada pela Central Única das Favelas (Cufa) que reuniu 12 seleções femininas do país na disputa pelo troféu de ouro, entre os dias 3 e 19 de novembro, no Clube Manchester, zona leste de São Paulo. Ivonete defendeu a seleção de Brasília que chegou à semifinal da competição, mas foi derrotada pelo bom time do Rio de Janeiro.
Vice-artilheira da Taça das Favelas
A atacante que foi a vice-artilheira da Taça das Favelas Estadual 2022 do Distrito Federal, lembra que sempre sonhou em ser atleta, mas interrompeu o objetivo depois que engravidou duas vezes. Posteriormente, só voltou a jogar futebol há seis anos atrás quando as filhas já haviam alcançado a maturidade. Atualmente, a caçula tem 19 e a primogênita 23 anos, ambas bailarinas.
“Por conhecer as dificuldades do futebol feminino nunca incentivei as minhas filhas a ingressar no esporte. Acho que foi por isso que elas migraram para o balé, porque se eu tivesse incentivado tenho certeza de que estariam aqui comigo agora. Como sei disso? Elas dizem que são orgulhosas da mãe que têm”, afirmou.
Empreendedorismo feminino
Além de mãe e atleta, Ivonete é empreendedora em Brasília. Durante a semana a atacante ganha a vida com a venda e distribuição de polpas de frutas e açaí. Ela ainda consegue tempo para treinar e jogar em campeonatos da região onde mora. Mas, segundo a veterana, a dupla jornada não é tarefa fácil e entende as complicações da decisão de jogar futebol sendo mulher em um país como o Brasil.
“Aqui [no Brasil] conciliar a vida de uma mulher ao futebol feminino, com todas as responsabilidades que carregamos nos ombros desde muito cedo, é um desafio enorme e acredito que por ser tão difícil assim é que muitas meninas desistem da carreira”, destacou.
Mesmo diante de tantas mazelas e preconceitos sociais, sobra força para Ivonete dividir com as meninas da seleção de Brasília sua experiência e sugerir, sempre que possível, estratégias e maneiras para ganhar um jogo, assim como faz diariamente em sua vida.
“Eu digo para as meninas que é preciso treinar profissionalmente como se fosse um jogo e parece que deu certo, pois chegamos à semifinal. Me vejo como uma conselheira, sabe? Digo isso no sentido de direcionar e orientar as meninas para um bom caminho já que sou uma veterana no esporte e conheço os atalhos. Mas, no fundo, espero que o futebol seja um trampolim na vida delas”, finalizou.