Samuel Henrique, o b-boy Samuka, é nascido e criado no Recanto das Emas e em Ceilândia, quebradas do Distrito Federal. No programa America´s Got Talent, nos EUA, no início de junho, impressionou apresentador, jurados, plateia e expectadores com uma performance que incluiu salto mortal. Samuka voou longe. Mora na França, mas se reconecta de um jeito “cabuloso” nas beiradas de Brasília. Conheça sua história de inspiração pura.
Nos últimos dias, muita gente – mais de meio milhão no Youtube – viu o vídeo de um b-boy que só tem a perna esquerda levando à loucura o público e os jurados do programa America’s Got Talent, do canal NBC, nos Estados Unidos.
Era a apresentação do brasileiro Samuka, das quebradas de Brasília. Antes de arrasar no palco, falou em inglês com os jurados, mas prinunciou em bom português o nome do seu local de origem, Recanto das Emas, no Distrito federal.
Samuel Henrique é inspiração pura. Após perdas familiares no fim da infância, o dançarino recebe, aos dez anos, o diagnóstico de câncer ósseo. Inicia o tratamento, mas tem que amputar a perna direita.
Poderia ser um impedimento, mas com incalculável sobriedade e garra, Samuka começa a ter aulas de dança, e reconquista a confiança em si e nos mestres. O corre dá resultado.
Além de apresentações artísticas, Samuka disputa, e ganha, campeonatos contra b-boys com duas pernas, como em março deste ano, em Tóquio, no Japão.
Ele rodou o mundo: Eslováquia, Holanda, Suíça, Singapura. Mas voltemos ao ponto onde tudo começou, as quebradas de Brasília.
“Sou do Recanto, sou de Ceilândia, sou do DF”
“Eu nasci e cresci no Recanto das Emas até meus treze anos de idade, quando precisei amputar a perna. Depois, minha família se mudou para Ceilândia. Eu quero representar as quebradas”, diz Samuka.
Dos 14 aos 16 anos, o jovem b-boy treinava diariamente. Mas precisou dar um tempo no break, foi trabalhar como jovem aprendiz numa loja de departamentos. Em 2016, apareceu como destaque em uma reportagem e aquilo bateu fundo. A “chama da arte” reacendeu e Samuka entendeu que precisava assumir a dança como filosofia de vida.
“Era necessário aceitar a deficiência. Voltei ao break, comecei a jogar basquete na cadeira de rodas, viajei e fui campeão brasileiro no Parapan Juvenil. Nesse período, recebi o convite das Olimpíadas Rio 2016. Me apresentei como b-boy e comecei a ganhar dinheiro com meu ofício. Isso abriu minha mente”, conta Samuka.
Dançarino profissional morando na França
Logo o atleta e dançarino entendeu que, para as oportunidades surgirem, precisava estar nos lugares e aparecer na internet. Seus vídeos começaram a circular, levando à primeira viagem internacional, em 2017.
Foi para Alemanha, EUA, participou de campeonatos, palestras motivacionais, e recebeu o convite para o filme Dançarina Imperfeita, da Netflix.
Depois da pandemia, correu atrás do sonho de participar de um grupo de dança profissional. Em viagem ao Rio de Janeiro, soube de companhia francesa que selecionava dançarinos. Aprovado, passou a morar em Calais, cidade no norte da França.
“Tenho residência francesa e divido a casa com um colega de companhia. Fazemos muitos shows na Europa e Estados Unidos com a Ill-Abilities. Sou obcecado com meu trabalho. Se estou aqui com uma única perna e a coisa está acontecendo, não pode ser à toa”, sabe Samuka.
America´s Got Talent
Produzido pela emissora NBC, o America’s Got Talent reúne pessoas do mundo inteiro querendo mostrar seus dons artísticos. Apresentam-se cantores, dançarinos, comediantes, mágicos.
“Tudo é muito rápido. Eu cheguei um ou dois dias antes do show. Fiz reconhecimento do palco, passei a coreografia, vi como era o piso e me ambientei”.
No pouco tempo antes da apresentação, treinou muito no hotel ou em qualquer espaço que tivesse piso liso parecido com o da televisão.
No dia da apresentação, curtiu encontrar o apresentador Terry Crews, o Julius, pai do protagonista de Todo Mundo Odeia o Chris.
“Na entrevista da seletiva eu disse que gostava muito dele e, para minha surpresa, nos bastidores ele chegou e tocou no meu ombro. O cara veio falar comigo todo feliz dizendo que amava o Brasil. Uma figura... Aí ele vai e compartilha meu vídeo”, lembra Samuka.
Os braços são as pernas de Samuka
“Eu uso muito os braços para compensar a ausência da perna. Eu caminho com meus braços, né?”. Uma prótese mais moderna facilitaria a vida dentro e fora dos palcos.
“Pouparia meus braços para poder usá-los com segurança nos momentos dos treinos e das apresentações. Eu não descanso eles. Quando não estou apresentando, sigo usando meus braços como apoio e como meio de locomoção”, explica Samuka.
Seu corre em 2024 tem compromissos importantes. Festivais, competições de renome, trabalhos com a companhia na França e a nova etapa do America’s Got Talent.
“É do DF que eu sou. É no DF que me reconecto, de um jeito cabuloso, com minhas origens”, frisa o monstro Samuka.