Dinamarquesa se muda para periferia de SP em busca de sonho

Cecilie Mortensen foi a 1ª europeia a disputar a Taça das Favelas; Assim como tantas brasileiras, goleira sonha em um dia ser profissional

28 set 2022 - 05h00
(atualizado às 14h19)
Goleira dinamarquesa Cecilie Mortensen
Goleira dinamarquesa Cecilie Mortensen
Foto: Reprodução/Instagram

Você já se imaginou vivendo em um país onde não precise se preocupar com segurança, estabilidade financeira ou educação de qualidade? Sendo um brasileiro, talvez sua resposta para este questionamento seja sim. Entretanto, para Cecilie Mortensen, goleira de 24 anos, que nasceu e cresceu neste cenário de filme – para não dizer dos sonhos – o conforto trazido por viver na Dinamarca não foi o suficiente para garantir o objetivo de ser uma atleta profissional de futebol.

Recém-chegada ao Brasil, a dinamarquesa foi a primeira jogadora europeia a disputar uma partida de futebol em torneios nacionais. Recentemente, Cecilie defendeu as cores do A.E. Cidade Tiradentes, time de futebol feminino de várzea da periferia da zona leste de São Paulo. A participação da atleta aconteceu durante dois jogos da edição deste ano da Taça das Favelas, que ocorre até o dia 8 de outubro, no Centro Educacional e Esportivo Vicente Ítalo Feola, na Vila Manchester.

Publicidade

Para a goleira, formada em administração pela Louisiana State University at Alexandria, e com MBA pela Tusculum University, ambas nos Estados Unidos, trocar uma vida de classe média alta em um dos países mais desenvolvidos da Europa e desembarcar no Brasil foi uma escolha que mudou sua vida.

“Quando vim para o Brasil, queria conhecer realidades diferentes da minha, outra cultura, novas técnicas futebolísticas e, principalmente, queria sair da minha zona de conforto em busca do meu sonho de ser atleta profissional de futebol. Encontrei muitas meninas com o mesmo objetivo que o meu, que se agarram à fé em busca de um sonho e não desistem”, destacou a goleira.

Time do A.E. Cidade Tiradentes, da zona leste de SP, na Taça das Favelas
Foto: Divulgação/Nal Pacheco

Da Dinamarca para a ZL

Filha de uma educadora de escola infantil e um zelador, a dinamarquesa que começou a jogar futebol aos seis anos de idade lembra que, embora sempre tivesse o apoio da família, sua cidade natal não lhe oferecia o mesmo suporte para viver do futebol. Por isso, após atuar inúmeras vezes em equipes compostas por homens, a goleira decidiu deixar a Dinamarca e mudar para a América do Norte, onde morou, estudou e jogou bola por quatro anos.

Publicidade

A decisão de vir jogar no Brasil foi assistida pelos pais de Cecilie à distância e com certo temor por se tratar de uma realidade social oposta à encontrada no país escandinavo. Assim como as jogadoras brasileiras, a goleira dinamarquesa experimentou a falta de oportunidades, a invisibilidade esportiva e ficou seis meses treinando sozinha. No entanto, seu talento despertou o interesse de times como São Paulo Futebol Clube, onde a atleta fez testes, e a Associação Portuguesa de Desportos, em que chegou a fazer alguns jogos, e do Esporte Clube São Bernardo, agremiação que a atleta defende atualmente e vai disputar o Campeonato Paulista de 2023.

Foto: Divulgação/IDM Produções

Exemplo positivo

Foram as conexões com os clubes brasileiros que levaram a goleira até o A.E. Cidade Tiradentes e, consequentemente, à edição da Taça das Favelas deste ano. Apesar da diferença cultural, socioeconômica e social entre a atleta e o clube, a vontade de aprender e ganhar experiência foi o que fez Cecilie disputar o torneio e defender a meta do time da zona leste nos dois jogos que disputou.

“Quando cheguei, todo mundo me perguntava por que eu havia deixado a Dinamarca para jogar no Brasil, e eu sempre respondia que estava perseguindo o meu sonho. Infelizmente não chegamos à final, mas tenho certeza de que me tornei exemplo positivo para as meninas”, considerou Cecilie.

Embora o futebol feminino no Brasil tenha ganhado um pouco mais de notoriedade nos últimos anos, na várzea há muitas meninas desistindo da carreira como atleta profissional. Isso acontece por muitos motivos, mas em especial pela falta de estrutura para treinamentos e suporte do poder público em investir na ascensão da modalidade.

Publicidade
Foto: Divulgação/IDM Produções

A presença de Cecilie em campeonatos como a Taça das Favelas demonstra a potência do esporte como ferramenta capaz de modificar a vida de muitas meninas. Exemplos de superação como este, são a prova viva de que o futebol ainda é uma ótima maneira de aproximar povos, conectar realidades opostas e reunir a sociedade em prol da conquista e do sonho individual de atletas como a dinamarquesa Cecilie e suas novas amigas da zona leste.

“É importante trabalhar forte para alcançar os sonhos, porque tropeços vão acontecer, mas nós, mulheres, temos que levantar e continuar a caminhada. Algumas vezes é preciso fazer escolhas e continuar a acreditar em você e no seu nível todo dia, uma hora você vai chegar no topo”, finalizou Cecilie.

Fonte: Visão do Corre
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se