Noventa minutos em pé, cantando, vibrando, soltando alguns palavrões, e quando a partida não vai bem, até pessoas de pouca fé se ajoelham para rezar. A verdade é que seja na série C ou na série A, a torcida do Baêa nunca deixou de estar presente, empurrando o time para o triunfo e alcançando a maior média de público mesmo na terceira divisão.
Para a agente de portaria, Renata Rocha, 24 anos, ou Tricolouca, como é seu nome de usuário nas redes sociais, “torcer para o Baêa é não se cansar de cantar, é voltar rouca para casa, é dizer que não vai assistir o Bahia tão cedo por causa do jogo perdido e no próximo jogo estar apoiando e torcendo novamente”.
Algumas palavras são chaves para identificar um torcedor do Bahia. Como diz o hino: “Somos da turma tricolor”, por isso, a torcida feminina mais fanática pelo time se intitula tricoloucas. “Ninguém nos vence em vibração”, e nesses momentos, Bahia é sempre Baêa. E com o maior rival intitulado Esporte Clube Vitória, o Baêa não vence, sempre triunfa.
Futebol é tradição na vida dos brasileiros, e essa cultura começa no bairro, em casa, e há quem considere o Esporte Clube Bahia a sua seleção brasileira, já que o coração costuma acelerar mais nos jogos do time regional do que nacional.
“Meu pai é Bahia, ele me incentivou a torcer e a minha lembrança mais viva da gente falando disso foi por causa da final do Baiano de 1994. Eu tinha 10 anos e na semana do jogo eu tava num bar com ele e lembro dele apostando com um colega umas cervejas e me disse que se eu torcesse também iria apostar uns refrigerantes pra mim (risos). Este foi o jogo do lendário 'gol de Raudinei' e ficou pra sempre marcado em minha memória”, lembrou o publicitário Jamerson Silva, 38 anos.
E por serem repletos de memórias afetivas, para os torcedores, não importa se faz chuva ou sol, se tem compromisso, show ou dates, “dia de jogo é como se fosse dia de culto” para Jamerson.
“Fico menos produtivo pensando no jogo. A cerveja vai para o gelo cedo, uso sempre a camisa, cueca, bermuda e tênis que tá triunfando. Se começar uma fase ruim, coloco outra camisa e quando voltamos a ganhar, uso ela até parar de dar sorte. Sempre que possível, chego cedo no Bom Preço para beber e resenhar, assisto os jogos sempre no mesmo lugar com os amigos da Embaixada Cajazeiras”, contou o torcedor do Baêa sobre sua rotina.
Para Renata chegar cedo e manter o mesmo padrão de comportamento em todos os jogos também é importante. “A rotina é fazer tudo logo antes para chegar cedo no estádio e encontrar a galera, a fé de sempre e o pedido a Deus pelo triunfo, meu mesmo percurso de sempre ônibus, metrô, a rotina só muda quando estou de plantão. E eu faço muitos sacrifícios pelo Bahia, sempre faço trocas de plantão, por exemplo, deixo de sair para assistir o jogo ou ir para o estádio, e vale a pena, pois quando o Baêa ganha, volto mais feliz, o coração vem agradecido”, disse a tricolouca.
Para quem os apaixonados pelo esporte, a importância é inegável. “Eu acho que o futebol é o esporte mais emocionante e contagiante que existe. Sou um apaixonado pelo sentimento que ele provoca dentro e fora do campo. Basta olhar para a torcida do Bahia para entender. Eu acho que pode ser sim um motor de mudanças, de união. Um excelente espaço para reverberar coisas boas”, concluiu Jamerson.