Um estudo publicado pela organização Todos Pela Educação revela um aumento de 171% na evasão escolar na pandemia, cerca de 244 mil adolescentes entre 6 e 14 anos estão fora da escola. Pensando em uma forma de ajudar crianças a se inserirem socialmente e incentivar a prática esportiva no Complexo da Maré, bairro no Rio de Janeiro, organizações sem fins lucrativos desenvolvem projetos voltados para o esporte e apoio social.
Jeferson Costa Silva, conhecido como Shaolin, professor no Luta pela Paz e criador do Espaço Tijolinho, atua há seis anos em um desses projetos, na Nova Holanda, dentro do Complexo da Maré, atendendo a 246 jovens com cadastros ativo na ONG, e outros 300 indiretamente, alunos que já passaram pelo projeto.
Shaolin diz que o Espaço Tijolinho é um abrigo para as potências da Maré. “A gente tem jiu-jitsu, luta livre, capoeira, futebol e desenvolvimento pessoal, que é o nosso objetivo maior, afim de dar o ‘papo reto’ para essas crias da Maré, através da nossa vivência”, conta Shaolin.
Durante a pandemia, o projeto atuou minimizando o impacto, fazendo visitas e doações de cestas básicas. Agora, estão voltando com turmas reduzidas, mas qualquer problema que houver relacionado à pandemia, terão que fechar novamente.
Shaolin fala que as crianças do Tijolinho, lugar que dá nome ao projeto, eram mal vistas, mas a ONG fez as crianças terem orgulho de ser da região. “Foi uma das nossas maiores vitórias”.
Outra ONG que atua no Complexo da Maré, com 17 projetos voltados para o esporte, é o Luta pela Paz, que tem o esporte como um dos seus cinco pilares. Além do boxe e artes marciais, as atividades de desenvolvimento pessoal oferecem aos alunos e alunas todo o suporte social necessário para que eles se tornem campeões na vida e jovens líderes.
Para isso, a instituição investe no acompanhamento social e psicológico desses jovens, através de mentorias, atendimentos e encaminhamentos assistenciais, entendendo que, para uma educação de qualidade, é necessário sempre condições para um aprendizado eficiente.
“O Luta pela Paz busca minimizar a mazela escolar em que muitos dos seus alunos e alunas se encontram, trazendo uma bagagem curricular necessária, além das novas perspectivas de futuro”, afirma Julie Oliveira, assistente de comunicação do Luta pela Paz
O desenvolvimento psicológico das crianças com a prática esportiva
A psicóloga Cláudia Milene, que trabalha no Caps Ad (Centro de Apoio Psicossocial ao Usuário de Álcool e Drogas) de Nilópolis, é uma das idealizadoras do Projeto Mulheres, Vozes e Escuta, e conta que a prática esportiva é de extrema importância porque ajuda na formação do indivíduo e no desenvolvimento físico, intelectual, social e emocional.
A psicóloga diz ainda que auxilia muito no tratamento da ansiedade, transtorno de déficit de atenção (TDH) e no desenvolvimento social na prática de esportes coletivos como o futebol, vôlei e outros nos quais exigem a prática do coletivo. Além disso, ensinam a criança a lidar com a perda e ocupam o tempo desenvolvendo várias áreas do cérebro. Milene aponta que ocupar o tempo da criança com o esporte é melhor do que dar um celular para elas, embora com os jogos eletrônicos, a criança receba o mesmo estímulo.
“Acho extremamente importante o trabalho do educador físico dentro da comunidade onde a criança tem contato com a criminalidade, porque ela tendo um jogador de futebol, judoca ou nadador como ídolo, a referência dela vai ser outra e ela vai procurar ter atitudes e buscar coisas para crescer de forma correta. Aqui no Caps tenho pacientes de 14 a 17 anos e todos falam que viam os caras cheios de ouro e ‘minas’ e queriam ser iguais a eles”, conclui Cláudia Milene.
A professora de educação física Laís Lemos, concorda com a psicóloga ao dizer que o esporte é um excelente meio da criança começar a se inserir na sociedade e afirma que a educação física é o espaço mais propício para aprenderem com brincadeiras, principalmente quando elas têm muita privação de espaço para brincar. Lais afirma que o esporte auxilia no desenvolvimento da autoestima da criança.