Escolinha de futebol foi fundada por mãe para que o filho e os amigos tivessem onde treinar. Projeto social atende 40 crianças, mas chegou a atender cem. Manchester Brasilândia é responsável por selecionar os atletas de São Paulo para a Copa do Mundo dos Sem-Teto, a Homeless World Cup, da qual o Brasil é tricampeão.
“Eu estava dando treino e o Lorenzo, de seis anos de idade, me chamou. Cheguei lá no cantinho do alambrado, ele virou e falou toma aqui dois reais para a senhora não fechar o projeto”. Patrícia Verdetti, fundadora da escolinha de futebol Manchester Brasilândia, na periferia da zona norte de São Paulo, desmontou.
O garoto deve ter escutado os comentários de que os treinos poderiam acabar a qualquer momento. Após dez anos atendendo de graça garotos da Vila Siqueira, Patrícia Verdetti chegou a suspender as atividades por vinte dias, entre o final de outubro e começo de novembro.
Mas retomou os treinos do Manchester Brasilândia com 40 meninos, de quatro a dez anos de idade, sem saber como sustentar financeiramente a escolinha de futebol na Vila Siqueira – a quebrada faz parte do Jardim Paulistano, na região da Brasilândia.
Patrícia não ganha e nem quer ganhar para fazer o trabalho, mas precisa de ajuda, financeira ou em materiais e ações. O Manchester Brasilândia tem despesas com uniforme, bolas, redes, lanche, transporte para levar as crianças aos campeonatos, dinheiro para as inscrições.
Como surgiu o Manchester Brasilândia
A ideia de montar uma escolinha de futebol surgiu porque Patrícia viu seu filho e os amigos serem dispensados após o desmonte de um time em Taboão da Serra.
“O diretor do clube mandou a molecada tirar carteira e ir trabalhar. A molecada saiu toda triste, de cabeça baixa”. A mãe não quis deixar o filho sem clube, nem seus amigos. Tomou providências.
O projeto social começou no Centro Esportivo Oswaldo Brandão. Está na Vila Siqueira há dois anos. Em dez, chegou a atender cem crianças, mas teve que diminuir a faixa etária e a quantidade de alunos.
Os treinos acontecem em uma pequena quadra da Prefeitura, que “não chega a ser para futebol de sete”. Tem grama sintética. Patrícia guarda o material de treino em um quartinho ao lado da quadra, cedido pela Associação para Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável (ADESS).
“Pensava que, com CNPJ, ia abraçar o mundo”, diz treinadora
As dificuldades para se inscrever no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) demonstram o tamanho do corre de iniciativas periféricas. Após conseguir o CNPJ, Patrícia imaginava que ia “abraçar o mundo”, mas não abraçou.
Houve impostos a pagar, parcelados, e a regularização burocrática não resolveu o principal problema: garantir a continuidade do Manchester Brasilândia. “A gente acaba desanimando”, diz a torcedora do Manchester United, que inspirou o nome do projeto social.
“Esse ano disputei só um campeonato, porque foi perto daqui, as crianças foram a pé. Tem vários campeonatos que a gente pode entrar, mas não tem dinheiro para transporte, alimentação”. Um amigo que ajudava com mil reais por mês, não ajuda mais.
Sem saber como vai sustentar o Manchester Brasilândia, Patrícia retoma o trabalho “pelos milhares de Lourenzo, João, Lucas. Como profissional e líder comunitária, não tenho o direito de tirar a única esperança destas crianças terem um futuro e uma cidadania melhor”, explica.