Preocupada com fim da escolinha de futebol, criança doa R$ 2,00 na periferia de SP

Treinadora do Manchester Brasilândia não aceitou dinheiro do aluno de seis anos. Após uma década, projeto social pode parar

13 nov 2024 - 16h21
(atualizado às 16h41)
Resumo
Escolinha de futebol foi fundada por mãe para que o filho e os amigos tivessem onde treinar. Projeto social atende 40 crianças, mas chegou a atender cem. Manchester Brasilândia é responsável por selecionar os atletas de São Paulo para a Copa do Mundo dos Sem-Teto, a Homeless World Cup, da qual o Brasil é tricampeão.
Manchester Brasilândia existe há dez anos. Time está reduzido por falta de recursos. Atende 40 crianças, já atendeu 100.
Manchester Brasilândia existe há dez anos. Time está reduzido por falta de recursos. Atende 40 crianças, já atendeu 100.
Foto: Divulgação

“Eu estava dando treino e o Lorenzo, de seis anos de idade, me chamou. Cheguei lá no cantinho do alambrado, ele virou e falou toma aqui dois reais para a senhora não fechar o projeto”. Patrícia Verdetti, fundadora da escolinha de futebol Manchester Brasilândia, na periferia da zona norte de São Paulo, desmontou.

O garoto deve ter escutado os comentários de que os treinos poderiam acabar a qualquer momento. Após dez anos atendendo de graça garotos da Vila Siqueira, Patrícia Verdetti chegou a suspender as atividades por vinte dias, entre o final de outubro e começo de novembro.

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Mas retomou os treinos do Manchester Brasilândia com 40 meninos, de quatro a dez anos de idade, sem saber como sustentar financeiramente a escolinha de futebol na Vila Siqueira – a quebrada faz parte do Jardim Paulistano, na região da Brasilândia.

Patrícia não ganha e nem quer ganhar para fazer o trabalho, mas precisa de ajuda, financeira ou em materiais e ações. O Manchester Brasilândia tem despesas com uniforme, bolas, redes, lanche, transporte para levar as crianças aos campeonatos, dinheiro para as inscrições.

Patrícia Verdetti, fundadora e treinadora do Manchester Brasilândia, não está vendo horizonte para o projeto social, mas continua.
Foto: Heber Dall Oglio

Como surgiu o Manchester Brasilândia

A ideia de montar uma escolinha de futebol surgiu porque Patrícia viu seu filho e os amigos serem dispensados após o desmonte de um time em Taboão da Serra.

“O diretor do clube mandou a molecada tirar carteira e ir trabalhar. A molecada saiu toda triste, de cabeça baixa”. A mãe não quis deixar o filho sem clube, nem seus amigos. Tomou providências.

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O projeto social começou no Centro Esportivo Oswaldo Brandão. Está na Vila Siqueira há dois anos. Em dez, chegou a atender cem crianças, mas teve que diminuir a faixa etária e a quantidade de alunos.

Os treinos acontecem em uma pequena quadra da Prefeitura, que “não chega a ser para futebol de sete”. Tem grama sintética. Patrícia guarda o material de treino em um quartinho ao lado da quadra, cedido pela Associação para Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável (ADESS).

Quartinho cedido para guardar o material de treino do Manchester Brasilândia, na periferia da zona norte de São Paulo.
Foto: Arquivo pessoal

“Pensava que, com CNPJ, ia abraçar o mundo”, diz treinadora

As dificuldades para se inscrever no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) demonstram o tamanho do corre de iniciativas periféricas. Após conseguir o CNPJ, Patrícia imaginava que ia “abraçar o mundo”, mas não abraçou.

Houve impostos a pagar, parcelados, e a regularização burocrática não resolveu o principal problema: garantir a continuidade do Manchester Brasilândia. “A gente acaba desanimando”, diz a torcedora do Manchester United, que inspirou o nome do projeto social.

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Ninguém querida dar aula na quadra da Prefeitura, que não tinha projeto social. Até o Manchester Brasilândia ocupar o local.
Foto: Divulgação

“Esse ano disputei só um campeonato, porque foi perto daqui, as crianças foram a pé. Tem vários campeonatos que a gente pode entrar, mas não tem dinheiro para transporte, alimentação”. Um amigo que ajudava com mil reais por mês, não ajuda mais.

Sem saber como vai sustentar o Manchester Brasilândia, Patrícia retoma o trabalho “pelos milhares de Lourenzo, João, Lucas. Como profissional e líder comunitária, não tenho o direito de tirar a única esperança destas crianças terem um futuro e uma cidadania melhor”, explica.

Fonte: Visão do Corre
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