Projeto usa taekwondo para promover inclusão social em MG

O guarda municipal Itamar da Silva se desfez da própria casa para conseguir abrir o espaço onde atualmente dá aulas para 80 alunos

27 abr 2022 - 13h47
(atualizado às 14h22)

Praticar esporte de luta contribui para a melhora da capacidade física, proporciona aumento da força e da massa muscular, ajuda na flexibilidade e no equilíbrio. Mais do que trabalhar com o físico, o esporte tem outras funções na vida de favelados e periféricos: promover a inclusão social, transmitir valores humanos, cortesia, integridade, autocontrole e perserverança.

Dentro de duas comunidades populares de Belo Horizonte, Aglomerado da Serra e Alto Vera Cruz, o projeto Itamar auxilia crianças e adolescentes na luta pela dignidade e igualdade. Fundado pelo guarda municipal Itamar da Silva, de 50 anos, desde 2005 o projeto aposta no valor do esporte para formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.

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A união da equipe é o segredo do sucesso
A união da equipe é o segredo do sucesso
Foto: Arquivo Pessoal

Itamar é faixa preta pela Federação Mineira de Taekwondo. Morador da comunidade, observou que o esporte era inacessível às pessoas de baixa renda e teve a ideia de ministrar aulas para os jovens do local. Hoje são atendidos cerca de 80 alunos, de 5 a 16 anos, e alguns adultos.

Sem ajuda pública ou privada, o professor se desfez da própria moradia para dar um espaço digno ao projeto. A maioria das aulas são feitas na laje e quando chove improvisam uma pequena sala na parte de baixo. A estrutura precária não é impedimento para as atividades acontecerem. É assim que pensa Itamar: "minha motivação foi a necessidade de ajudar o próximo, de proporcionar à comunidade algo útil que agregue valor na vida das pessoas."

Disciplina na laje - alunos são exemplos na comunidade
Foto: Arquivo Pessoal

Além do compromisso com a comunidade, o guarda municipal trabalha no intuito de mostrar aos jovens o outro lado da favela. "Onde não tem só crime e crianças com radinho no pescoço", explica. A presidente e coordenadora do projeto, Laudilene Benevides, de 41 anos, presencia a transformação das crianças e adolescentes ao ingressarem na luta esportiva. "Ela educa, sensibiliza e possibilita o desempenho de qualidades pessoais, levando crianças ao encontro de si mesmas, despertando nelas também o desejo de contribuírem para um futuro melhor", completou.

A coordenadora reforça a importância do esporte no combate à criminalidade. "A base do esporte de luta é a disciplina. Ao ingressar no projeto, o comportamento deles muda da água para o vinho, tanto em casa quanto na escola", comentou. São dezenas de casos de professores e pais que procuram Itamar para agradecerem pelo impacto das aulas na vida dos jovens.

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E o caminho inverso também acontece. Laudilene conta a história de uma aluna que entrou no projeto aos 11 anos. Filha de usuários de crack, vivia na rua, brigava, sofria violência doméstica. Devido ao contexto familiar, ela e a irmã foram entregues ao Conselho Tutelar. Para que ela não parasse de lutar, a coordenação do projeto conseguiu intervir e resgatar a menina, que foi morar com uma tia. A garota continuou os treinos, foi campeã mineira e campeã internacional. Hoje, aos 19 anos, trabalha e tem um estilo de vida diferente do início da sua infância.

Os pais sabem que lá é um local seguro. Laudilene acredita que um jovem praticante de qualquer esporte, quando é dedicado e recebe apoio, dificilmente segue para outros caminhos e pratica atos impróprios.

Outras ações:

Atualmente, o espaço está pequeno para a quantidade de pessoas que se interessam pelo esporte na comunidade. O projeto se mantém por meios próprios e através de doações e rifas. "Precisamos melhorar a autoestima deles, mantê-los ocupados, direcioná-los a um caminho pleno de forma amiga e solidária através do trabalho em equipe", argumentou. A coordenação sonha em ampliar o número de atendimentos, levar mais crianças para disputarem campeonatos pelo mundo, oferecer equipamentos de treino de qualidade.

Carinho e respeito fazem parte dos treinos com Itamar
Foto: Arquivo Pessoal

Os planos de crescimento do projeto Itamar não se limitam em uma única luta. Ainda para 2022, o objetivo é ampliar a sede de 64 metros para inserir novas oficinas: jiu-jitsu, balé, informática, cursos profissionalizantes, atendimento jurídico, cinema e fotografia, inglês, oficina de pintura e grafite. Almejam também formar uma cooperativa de mulheres, a fim de auxiliar desempregadas e mães que precisam obter renda sem sair de casa.

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No local há um galpão com uma cozinha profissional para oficinas de culinária, que ensinam os moradores a aproveitarem e reaproveitarem os alimentos sem desperdício. O espaço pretende promover oficinas de geração de renda com orientações sobre o descarte do lixo doméstico, compostagem, contribuindo para a redução do lixo e criando novos utilitários para venda ou consumo próprio.

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