Na zona noroeste de São Paulo, um grupo de amigas criou um time de handebol para que elas voltassem a praticar atividades físicas. Batizado de “Real Jaraguá” – referência ao distrito do Jaraguá, onde elas moram e jogam –, a equipe reúne 25 mulheres de diferentes idades e níveis esportivos que treinam duas vezes na semana.
“O Real Jaraguá nasceu de tanta persistência minha. Tentei juntar amigas, colegas, conhecidas, primas, irmãs, mas nunca deu certo porque sempre tinha algo que impedia de todas se reunirem. Mas foi através da pandemia [em 2020] que conseguimos nos juntar e jogar por hobby”, conta Vanessa de Lima Silva, 31, do lar.
Vanessa conheceu o handebol e jogou as primeiras partidas quando tinha 15 anos, na época da escola. Assim como ela, a maioria das mulheres do time conheceu o esporte nas aulas de educação física do ensino fundamental. A paixão antiga, no entanto, tinha sido deixada de lado com o passar dos anos.
“Joguei handebol na escola até a 8ª série. Acho que se eu não tivesse que trabalhar, eu teria sido uma atleta, porque era uma coisa que amava fazer. Tive que parar de jogar para trabalhar e ajudar dentro de casa”, diz a coordenadora de faturamento Mariana Dias, 39.
Foi somente no ano passado que ela voltou a jogar por incentivo de duas sobrinhas que já treinavam no Real Jaraguá. “Sou mãe, casada, então tenho minhas obrigações no trabalho e em casa. Assim que pude, fui no primeiro treino e aquela paixão pelo handebol reacendeu novamente”, lembra Mariana.
Boa parte das integrantes do time também são casadas, têm filhos e voltaram para as quadras após anos sem pisar em uma. Além disso, algumas mães levam os filhos pequenos para os treinos para não deixar de praticar o esporte e outras estão mais conectadas com eles por conta do handebol.
A assistente de logística Ana Cristina Barbosa, 40, joga ao lado da filha Ana Carolina, 15, que entrou no time no final de 2021. “Ter minha filha jogando comigo é muito gratificante. Tenho a oportunidade de passar todo o meu conhecimento sobre o handebol para ela. O ‘hand’, sem dúvidas, aproximou mais a nossa relação”, diz.
Já Vanessa tem uma filha de quatro anos de idade e, algumas vezes, a criança a acompanha nos treinos. “Ela gosta de ir para brincar com as outras crianças que estão presentes lá. Quando está atenta no jogo, até grita: ‘vai mamãe, você vai ganhar’”, conta.
Mariana também fala como é praticar o esporte, principalmente diante dos desafios que uma mulher enfrenta para ter tempo para si mesma. “Lá em casa tudo é dividido ao máximo entre mim e meu marido, mas não é assim com todo mundo. Se a mulher quiser ter algum tipo de lazer, seja ele qual for, na maioria das vezes ela tem que deixar o filho com alguém que cuide ou levá-lo junto”, diz.
Mas, segundo ela, o time tem se mobilizado para ser um espaço onde as mulheres possam ir e ter um momento de lazer. “E não desistir dos treinos”, conta. “É ir para a quadra com as crianças, mostrar que todo mundo lá tem filhos e que a gente leva-os para os jogos. Uma mulher incentiva a outra, e isso é o mais legal de tudo”, conclui Mariana.
Atualmente, o Real Jaraguá treina na quadra da escola municipal Professor Ernesto de Moraes Leme, na rua Vale das Flores, nº 120. Os treinos ocorrem às terças e quintas-feiras, às 19h, e são abertos a todas as mulheres que queiram jogar handebol.