A seleção brasileira de futebol é um patrimônio nacional. Goste ou não de futebol, quando qualquer pessoa do planeta pensa no Brasil, a primeira coisa que vem à cabeça dela é a seleção brasileira de futebol.
Eu sempre tive uma relação apaixonada pelo esporte. Quando pequeno, o sonho era esse, ser atleta, vestir a camisa de um grande clube do país, e por que não um dia representar meu país? Achava lindo ver os atletas posicionados, com o semblante focado e com o hino nacional de fundo.
Confesso que, com a radicalização à direita do país, tive raiva de ver pessoas, na maioria brancas e de classe média, se apropriarem da camisa da seleção brasileira. Isso porque quem deu glórias a essa camisa são pessoas desprezadas pelo bolsonarismo, jovens homens negros pobres, as principais vítimas da violência policial e urbana. Quantos craques essa política bélica, militarizada e de ódio antinegro não exterminou? Ainda assim, essas pessoas ousaram roubar esse símbolo nacional.
Mas o que mais doeu foi ver craques, pessoas que sempre admirei, abraçarem os ideais bolsonaristas. Como foi difícil ver Rivaldo fazer campanha para Jair Bolsonaro. Como foi difícil ver os passos da carreira de Neymar e ver esse gênio perder o brilho. Depois de um ano polarizado, de uma disputa política acirrada, ainda temos que lidar com a possibilidade de Neymar homenagear Bolsonaro em caso de gol na Copa do Mundo.
Para muita gente, isso pouco interfere no amor pela seleção ou pelo futebol. Mesmo que em quantidades menores, as ruas nas periferias dos grandes centros urbanos foram pintadas e as pessoas se reuniram para assistir a estreia do Brasil.
O primeiro jogo do Brasil na Copa, contra o bom time da Sérvia, afastou e muito esses males. O país tem hoje outros protagonistas, atletas que demonstraram posicionamentos políticos mais alinhados aos direitos humanos. Destaco dois, inclusive os dois melhores da estreia do meio para frente, Vinicius Júnior e Richarlison.
Os dois já se posicionaram de maneira contundente sobre o racismo e Richarlison inclusive fez defesa do sistema único de saúde, das vacinas, e demonstrou vontade de lutar por um país mais justo. É também Richarlison quem nos encheu de orgulho por fazer um gol com a marca do Brasil, com a marca do jeito negro brasileiro, um voleio, que exigiu muita técnica, inventividade, raciocínio rápido e ousadia. É um craque, definitivamente.
Depois do jogo, percebi colegas em êxtase. Eu também estava. Não só com a vitória do Brasil, não apenas com o jeito convincente com que a seleção brasileira jogou. Muita gente estava feliz porque os destaques da seleção foram atletas negros que respeitam a nossa história, que não ignoram o sofrimento do povo e sabem do papel que cumprem para o nosso país.
Por isso, obrigado, Vinícius Júnior. Obrigado, Richarlison!
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