Unity Warriors: o grupo que é destaque nos palcos e torneios

Equipe de dança formada por moradores periféricos de SP já foi bicampeã em competição latina de breaking e indicada ao Prêmio APCA em 2022

27 abr 2023 - 05h00

Em 2019, uma equipe brasileira chegou pela primeira vez à final de um dos maiores campeonatos de breaking do mundo: o Break The Floor, em Cannes, na França. A classificação em segundo lugar, inédita para o Brasil no evento, foi resultado da dedicação de um grupo de jovens periféricos apaixonados pela dança: o Unity Warriors.

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A presença da equipe nos torneios de breaking começou com um compromisso do time. “A gente não queria ir só para competir, queria ir preparado para ganhar. [Queríamos] chegar e fazer a diferença dentro desses eventos”, lembra Igor Souza, 30, diretor-geral, dançarino e fundador do grupo. 

Em 2015, ele reuniu amigos de Perus, na zona noroeste de São Paulo, São Miguel Paulista, na zona leste, e Guarujá, no litoral de São Paulo, para criar o Unity Warriors. Como os integrantes tinham trabalhos paralelos e moravam longe uns dos outros, os ensaios aconteciam durante a noite e avançavam pela madrugada.

A dedicação trouxe resultados. “Com mais ou menos dois anos de grupo, a gente participou de uns 20 eventos. Em todos a gente estava nas finais”, conta Igor.

Depois disso, a equipe conseguiu se destacar também em grandes campeonatos. Foram duas vitórias no Break The Floor América Latina, disputado em Manaus, além dos troféus de segundo e terceiro lugar na etapa mundial do evento, na França.

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A sequência de vitórias abriu caminhos para outras experiências artísticas do coletivo. A partir de 2020, a crew (nome usado para definir equipes de breaking) começou a investir na pesquisa cênica e voltou seus olhares para o palco. 

Foi assim que o coletivo criou, durante a pandemia, o espetáculo MANOfestAÇÃO, que exalta a força da cultura hip hop e discute temas como desigualdade social e racismo estrutural. “É um manifesto da nossa realidade”, explica Igor sobre o projeto.

O trabalho, inspirado nas Block Parties (festas de rua da cultura hip hop), rendeu à Unity uma indicação para o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) em 2022, na categoria Melhor Elenco de Dança.

Construído com recursos da 1ª edição do Prêmio Aldir Blanc da cidade de São Paulo, o projeto é um símbolo da nova fase do grupo, que segue nas batalhas de breaking, mas vem ganhando relevância nos palcos através dos editais de fomento.

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Igor conta que os editais, além de abrirem caminho para novas expressões artísticas do grupo, deram mais segurança financeira aos seis b-boys e à b-girl que compõem a crew. Os campeonatos, explica ele, nem sempre compensavam do ponto de vista financeiro.

Para participar da competição em Manaus, classificatória para a disputa na França, por exemplo, o grupo teve que pagar a própria passagem.

“É qualquer pessoa que consegue se deslocar para disputar essa eliminatória [em Manaus]? É qualquer artista periférico, qualquer dançarino das danças urbanas? Não é.  Então já começa a excluir uma classe daí”, questiona o diretor.

Oito anos depois de criar o Unity Warriors, Igor conta que os membros do grupo agora conseguem ter ensaios em horários convencionais e se dedicar mais à dança, mas ainda precisam ter mais de um trabalho para suprir as necessidades. “É uma realidade do Brasil, né?”. 

“Boa parte do nosso núcleo trabalha em diversos coletivos”, explica ele, afirmando que os dançarinos atuam também como professores de dança e bailarinos em outros lugares.

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Igor acredita que a chegada do breaking aos Jogos Olímpicos de 2024 pode dar mais visibilidade ao estilo e melhorar o cenário para os artistas dentro e fora do Brasil. A Unity deve tentar uma vaga no evento.

“Estamos filiados, competindo e participando das competições nacionais para tentar chegar nesse lugar”, comenta o artista. “A competição é a nossa essência, a gente nunca vai deixar de lado. A Unity começou nas batalhas.”

Para participar do evento, em Paris, os integrantes da crew precisam conseguir uma das 26 vagas disponibilizadas pelo comitê olímpico. A classificação para os jogos pode ainda ser incerta, mas o reconhecimento internacional no mundo do breaking a Unity já tem.

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