Dexter e King Nino Brown dão nome a biblioteca no ABC

Espaço comunitário criado pelo coletivo 'Café, Resenha e Amigos' reúne mais de mil livros no Jardim Calux, onde cresceram os dois artistas

18 mar 2022 - 05h00
O rapper Dexter, ao lado com grafite com sua imagem
O rapper Dexter, ao lado com grafite com sua imagem
Foto: Leo Muniz

Em setembro de 2021, o coletivo Café, Resenha e Amigos, formado por moradores do Jardim Calux, na periferia de São Bernardo do Campo, inaugurou a biblioteca comunitária Dexter King Nino Brown. O nome é uma homenagem a duas referências do hip-hop que cresceram no bairro.

Marcos Fernandes Omena, 48, mais conhecido como Dexter, fundou o grupo de rap 509-E nos anos 1990. Apesar de não ser mais morador, realiza ações sociais e shows no local.

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Já King Nino Brown, nome artístico de Joaquim de Oliveira Ferreira, 59, se mudou para o Jardim Calux aos 14 anos, em 1975. Atualmente mora no bairro D.E.R, que fica próximo, e alguns primos permanecem na região.

“Fizemos dois grafites com as imagens deles na entrada da biblioteca. Eles merecem a homenagem em vida, pois são atuantes na quebrada”, diz o produtor musical Joelson Silva do Espírito Santo, 34, o Nego Lock, que integra o coletivo.

A ideia de criar um espaço que funcionasse como uma “cabine literária” começou entre o final de 2019 e o início de 2020, mas foi interrompida devido à pandemia de Covid-19. Neste intervalo, os integrantes do grupo conseguiram arrecadar mais de 1 mil livros a partir de doações.

Nego Lock cedeu a garagem de casa para a instalação do espaço, onde também fica um estúdio musical mantido por ele. “Divulgamos nas redes sociais e vamos criar um canal no YouTube com o acervo. Fazemos um trabalho para a comunidade ter acesso ao conhecimento”, explica o produtor.

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Desde a inauguração no ano passado, foram emprestados mais de cem livros para os moradores, sendo a maioria gibis. O acervo também conta com obras de literatura brasileira, estrangeira e livros infantis, e o público que frequenta o local tem idade entre 7 e 13 anos.

Nino Brown, morador do Jardim Calux, que foi homenageado em vida
Foto: Leo Muniz

Para King Nino Brown, que recebeu a homenagem, a biblioteca comunitária é importante para a juventude que reside no bairro ter acesso aos livros e se envolver com a literatura.

“Fiquei feliz quando disseram que iriam colocar meu nome. A equipe do coletivo Café, Resenha e Amigos me proporcionou esse momento, só tenho a agradecer”, diz.

Em 1977, ainda na adolescência, o gênero hip hop chamou a atenção do rapper por causa das letras que resgatam a história da população negra. “Isso foi fundamental para mim e chamou minha atenção para os temas de luta abordados e a formação dos MCs”, comenta.

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Ele vê o hip hop como uma cultura mundial que influencia os jovens, ensina e educa por meio de elementos, da mesma forma que os livros.

Também é fundador da Zulu Nation Brasil, movimento da cultura hip hop que tem a missão de pregar paz, amor e união.

No fim dos anos 1990, através de cartas, Nino Brown trouxe o cantor e ativista estadunidense Afrika Bambaataa para o Brasil, considerado o “pai” do movimento. Após o encontro, foi coroado Rei Zulu.

Integrantes do coletivo Café, Resenha e Amigos
Foto: Leo Muniz

Encontros e lives

O coletivo Café, Resenha e Amigos foi criado no fim de 2019, com o objetivo de promover encontros no Jardim Calux e falar de problemas sociais e culturais, como famílias em situação de vulnerabilidade e falta de opções de lazer para os moradores.

Formado inicialmente por Nego Lock, Kenny Leal, Ley e Daniel Simas, eles realizavam lives no Ses Estúdio, que fica na casa de Nego Lock. “Tenho o estúdio há oito anos, o nome SES é o significado do meu sobrenome: ‘Silva do Espírito Santo’. Gravo minhas próprias produções e de outros rappers”, explica o produtor.

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A interação com os moradores deu tão certo que eles tiveram a ideia de criar o espaço literário para o empréstimo de livros. O coletivo não tem custos financeiros com a biblioteca e o trabalho dos integrantes é voluntário. Agora buscam parcerias com outros movimentos sociais e incentivam mais bairros periféricos a abrir bibliotecas comunitárias.

Os homenageados Nino Brown e Dexter, na biblioteca
Foto: Leo Muniz
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