Escritora LGBTQIA+ da zona leste faz vaquinha online para lançar livro em Moçambique

Patrícia Jimin, autora de “A Dona do Jogo”, quer participar da 5° edição do festival literário Poetas D’Alma que começará em 26 de outubro

30 set 2023 - 05h00
Escritora Patrícia Jimin quer participar de festival literário em Moçambique
Escritora Patrícia Jimin quer participar de festival literário em Moçambique
Foto: Sérgio Silva/Divulgação

Moradora do Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, há dois anos a escritora Patrícia Jimin, 36, uma mulher negra, lésbica e periférica, incorporou o cenário do distrito em sua recente obra “A Dona do Jogo”. O livro retrata a história de duas mulheres negras da região envolvidas em causas sociais e políticas, com referências à figura de Marielle Franco (ex-vereadora assassinada em 2018) e ao período da ditadura militar.  

“A história começa na Fazenda da Juta, onde morei com minha esposa. A continuidade é na atual residência, quis colocar uma das personagens aqui”, conta.  

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Artista independente, Patrícia recebeu o convite do Feling Capela, gestor cultural moçambicano, para participar do Poetas D’Alma, festival internacional de poesia e artes performativas, no ano passado, mas não conseguiu por falta de recurso financeiro. 

“Neste ano, o Feling me sondou para a 5° edição do evento que será uma ocupação artística. Vou falar sobre escrita de prosa e lançar meu livro ‘A Dona do Jogo’. Meus romances são conhecidos por um grupo de pessoas lá de Moçambique”, diz. 

O festival literário acontecerá entre os dias 26 de outubro até 30 de novembro, em Maputo, capital de Moçambique. A escritora está organizando uma campanha de arrecadação de fundos online para participar do evento. Os valores das doações variam entre R$ 20 e R$ 60, e cada contribuição dá direito a uma obra distinta da autora. 

Patrícia Jimin com seu recente livro “A Dona do Jogo”
Foto: Arquivo pessoal

Há edições ilimitadas, como o “Livreto - Colorido cor de Nós - (Poemas de amor LGBTQIAP+)”, um espetáculo de música e poesias de amor que ela apresenta em oficinas em espaços culturais, por meio de contratos com a prefeitura de São Paulo.  

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“Tenho leitores de todas as idades que consomem minha literatura. Meus livros são independentes, gosto de levar o que escrevo no coração das pessoas”, enfatiza. 

Da Bahia para o Mundo 

Apaixonada por literatura desde criança, Patrícia Jimin foi alfabetizada aos 10 anos na cidade de Itajuípe, interior da Bahia.  

“Sempre tive fascínio pela escrita. Minha mãe é analfabeta e meu pai estudou até a quarta série, mas eles me incentivaram a estudar. Fui criada na roça, às vezes ficava sem estudar, por isso me alfabetizei tarde”, relata.  

Na fase adulta, aos 20 anos, decidiu morar em São Paulo, onde ficou pouco tempo. Chegou a residir no Rio de Janeiro, por quatro anos, mas resolveu voltar para São Paulo, onde se estabeleceu na zona leste.  

Em 2016, Patrícia começou a frequentar o Sarau Movimento Aliança da Praça (MAP), por incentivo dos amigos, e a participar de slams, os campeonatos de poesia falada. Nesse mesmo ano, ganhou a edição do slam da Guilhermina, competindo com talentosos poetas, como a Deusa Poetisa, Daniel GTR, Mayara VAZ e outros.  

“O primeiro slam foi uma virada de chave na minha vida. Isso mudou a minha autoestima”, diz Patrícia, lembrando que um de seus poemas fazia críticas sociais, religiosas e políticas.  

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Em 2018, foi vice-campeã do Slam SP- Campeonato Paulista e lançou o seu primeiro livro “Por amar outra mulher, Resisto”, que traz poesias de amor, e desamor, além de abordar assuntos como depressão e religiosidade. 

A autora tem se dedicado a tratar temas relacionados à comunidade LGBTQIA+, afeto entre pessoas negras e questões raciais em suas obras literárias. Além de "A Dona do Jogo" e "Por Amar Outra Mulher, Resisto", ela tem outros livros de poesia publicados, incluindo "É Amor que Você Quer? Então Toma!", "Manual da Imoralidade" e o romance "Emaranhado". 

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Durante a pandemia da Covid-19, em 2021, a escritora organizou a Copa Lusófona Feminina, o Slam Delas online, que teve a participação de poetas de Moçambique, Angola, Cabo Verde e Portugal. A vencedora da competição foi uma poeta angolana, o segundo lugar ficou para Moçambique e o terceiro para outra angolana. 

 “O evento proporcionou mais visibilidade para as mulheres poetas de lá. Antes esse espaço era majoritariamente masculino”, explica.  

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Atualmente, Patrícia está escrevendo um livro sobre slam intitulado “Palavras para quem me quis silêncio”, que reunirá todas as poesias criadas durante as competições. Além disso, planeja lançar um documentário sobre o assunto.  

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