A represa Billings está entre os maiores reservatórios de água urbana do mundo. Estima-se que em seu entorno morem cerca de 1 milhão de pessoas, distribuídas entre extremo sul da capital paulista e o Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo.
Os cerca de 30 quilômetros entre o bairro do Grajaú e o centro da capital faz com que muitos paulistanos desconheçam a realidade local. Morador da região, o fotógrafo André Bueno, 41 anos, tem intimidade com o extremo da cidade. Uma coletânea de suas fotografias, nas últimas duas décadas, deu origem ao "Extremo Sul", um livro que mostra com delicadeza a vivências das pessoas com o próprio território.
"Algumas imagens são muito simbólicas e as pessoas se reconhecem ali. O meu trabalho é um diálogo com a comunidade por meio das imagens. Ali está registrado o meu território, a minha quebrada, a minha zona rural. A periferia não costuma ser documentada e publicada em livros. O que se vê nessas publicações são os pontos turísticos da cidade", diz ele, que tem duas pós-graduações na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Ele é mestre em Ciências da Comunicação.
Bueno lembra que passou toda a sua infância na região, às margens da represa, e afirma que a sua família preserva até hoje a tradição da pesca artesanal, assim como muitas outras da região. "É da represa que essas pessoas encontram o sustento", diz ele. O local preserva parte do que restou da Mata Atlântica no Estado. No local podem ser encontradas tilápias, lambaris, carpas húngaras e traíras, entre outras.
A densa população que vive no entorno do reservatório faz com que a qualidade da água tenha problemas, principalmente com os resíduos de esgoto, que são lançados no local sem tratamento na maior parte de sua extensão.
A represa foi criada em 1925 com o objetivo de geração de energia para a usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão. Nos anos 50, do século passado, foi planejado o novo reservatório, que passaria a receber as águas do Alto Tietê.
"O livro é uma narrativa fotográfica editada e pensada para esta época e para as periferias, apresentando uma cidade de São Paulo potente, ampla e que difere daquela apresentada muitas vezes pela mídia tradicional", diz Bueno.
"É um trabalho autoral casado com a educação. A imagem tem papel fundamental na educação da juventude periférica. Ela ajuda a desenvolver um olhar crítico. Fiz várias oficinas na região e muitas dessas pessoas se tornaram profissionais, justamente com esse olhar crítico. A ideia não é a de formar profissionais, mas sim dar um estímulo à identidade local, um vínculo com o território", completa.
O livro Extremo Sul, em formato digital, pode ser acessado gratuitamente aqui.