O jogo Elas, desenvolvido pela Rebunny Studio, chega para representar o amor lésbico e bissexual entre mulheres negras e periféricas, promovendo mais diversidade no mundo dos jogos. Através de financiamento internacional da Rede Unidas, a primeira fase do game foi desenvolvida e lançada em março, em evento no Chile.
“Não tem muita presença de mulheres periféricas, lésbicas ou bissexuais como protagonistas em jogos, e ainda menos quando estas são negras. A situação piora quando empresas fingem que apoiam a causa para lucrar em cima do público feminino”, informou a cofundadora da Rebunny, Beatriz Ramos.
Mesmo com a ausência de representavidade e inclusão apontada pela criadora do jogo, a Pesquisa Games Brasil, de 2019, diz que 53% do público gamer do país é formado por mulheres e há uma tendência de crescimento anual.
Ana Kelly, de 29 anos, é gamer e faz parte dessa estatística. Ela joga Tibia e através disso gera sua renda mensal. “Os homens pensam que a gente não joga tão bem quanto eles. Já vi muita mulher que joga bem mais do que esses marmanjos. Eu mesmo jogo desde os meus 14 [anos], sempre ficaram me zuando dizendo que não era 'coisa de mulher', hoje em dia eu estou no mundo gamer e ainda faço do meu divertimento a minha renda mensal”, diz Ana.
Diretamente de Cajazeiras, a cofundadora da Rebunny conta que desde a infância os jogos eletrônicos chamavam sua atenção: “Eu via os jogos como um ambiente mágico onde eu podia explorar, ter mais liberdade e me divertir”.
Ao cursar design na UNEB, Beatriz Ramos percebeu a possibilidade de trabalhar com tecnologia e jogos após se tornar aluna ouvinte das matérias do curso de Jogos Digitais. “Fui acolhida, criei amizades, muito aprendizado e foi crescendo em mim a possibilidade de não apenas passar a vida jogando, mas de criar meus próprios jogos e viver disso”, lembrou a empreendedora.
Na faculdade, Beatriz conheceu Fred Adler, um dos seus sócios. E através de outros projetos conheceu Flávia Figueredo e Hariel Abdala, com quem uniu o desejo de empreender na área de jogos e, juntos, criaram a Rebunny Studio.
Jogo Elas
No dia do casamento, Marielle e Daniela são surpreendidas com um ataque alienígena. O juiz de paz responsável pelo casório é infectado, assume uma forma monstruosa e dificulta a união agindo de forma estranha. Ele rapta a noiva Daniela e desaparece. Marielle, triste com a situação, está determinada a encontrar a sua amada e salvar as pessoas que foram infectadas pela onda alienígena.
“Para o jogador avançar no jogo, ele terá fases. Com o investimento do programa da Rede UNIDAS foi possível fazer a primeira fase como a forma de um MVP (Mínimo Produto Viável). A partir disso, estamos lançando ele publicamente para recebermos feedbacks e fazer as devidas melhorias para estruturarmos melhor as próximas fases”, disse Beatriz.
O jogo Elas apresenta um roteiro repleto de ação e aventura. A arte e o ambiente do jogo é em 2D, ou seja, o jogador basicamente corre e pula em obstáculos e plataformas, num formato que lembra o popular jogo Super Mario.
“Achei bem legal, eu adoro jogos assim que têm uma história, um enredo. É um game que me deixa presa nele, a história queer e de periferia. Acho bem legal o desafio”, comentou Ana Kelly sobre sua experiência com o Elas.
Com o intuito de contribuir na construção de um universo gamer mais diverso, Beatriz acredita que o lúdico está presente na essência humana. Sendo assim, o jogo eletrônico seria uma ferramenta capaz de passar qualquer mensagem sem perder a diversão. É através dos games que a Rebunny deseja impactar a sociedade e desconstruir preconceitos.
Disponível apenas para celulares android, o jogo também está disponível neste link.