Jovens músicos da periferia do Recife se apresentam ao Papa em Roma

Projeto da Orquestra Criança Cidadã, fundada na capital pernambucana em 2006, fará dois espetáculos

27 out 2023 - 12h46
(atualizado às 13h26)
Concerto tem o objetivo de promover a solidariedade e pedir paz entre russos e ucranianos
Concerto tem o objetivo de promover a solidariedade e pedir paz entre russos e ucranianos
Foto: Divulgação/Arquivo

Uma orquestra formada por 25 jovens músicos brasileiros da periferia do Recife (PE) se apresentará para o papa Francisco no início de novembro, no Vaticano, em dois concertos pela paz que também terão a presença de oito instrumentistas da Rússia e oito da Ucrânia, além de 12 italianos, atuando lado a lado.

O projeto é capitaneado pela Orquestra Criança Cidadã, fundada na capital pernambucana em 2006 e que fará dois espetáculos no menor país do mundo nos próximos dias 3 e 4, sendo o segundo deles na presença do pontífice.

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"A expectativa é muito grande, e o tema da paz é cada dia mais atual e relevante. Estaremos reunidos diante de alguém que é o grande líder mundial a tratar desse tema. O Papa é um artifice, um pregador da paz", afirma à ANSA o juiz de direito João Targino, idealizador e coordenador da orquestra, que já se apresentou para o líder católico em outubro de 2014.

A ideia dos concertos pela paz nasceu do próprio Targino, que, em fevereiro de 2023, enviou uma carta ao Papa através de Pino Scafuro, moderador da Charis Internacional, entidade ligada à Santa Sé. Na época, o conflito russo-ucraniano havia acabado de completar um ano, mas agora o projeto ganhou um peso ainda maior devido à guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas.

"O intuito é demonstrar, por meio da musicalidade, que não há guerra na arte", explica o juiz de direito, que também deseja levar os jovens da Orquestra Criança Cidadã para a fronteira entre as Coreias. "Meu sonho é que essa semente possa germinar, produzir frutos", reforça Targino.

Vidas resgatadas

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A Orquestra Criança Cidadã foi fundada na comunidade do Coque, conhecida pelos altos índices de violência e pobreza, e hoje atende gratuitamente a mais de 400 jovens da periferia do Recife.

É o caso do violoncelista Wesley Matheus, de 16 anos, que perdeu o irmão para o tráfico de drogas e entrou no projeto por vontade da mãe. "Foi minha mãe que me colocou para ocupar minha mente, e hoje em dia eu reconheço que a orquestra muda a vida das pessoas. Eu nunca imaginei que ia ser músico, mas hoje quero me formar e entrar na Sinfônica do Recife para tocar a vida inteira", conta o adolescente.

"Nervoso e ansioso" para sua primeira viagem de avião, Wesley ainda não sabe o que falará para o Papa se tiver oportunidade de conversar com ele, mas acredita que participará de um "evento extraordinário" no Vaticano.

Sua colega Jammilly Pâmmela, violinista de 17 anos, já participou de uma viagem para Israel e Portugal em maio passado, mas nunca imaginou que um dia se apresentaria para o líder da Igreja Católica.

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Ela está no projeto desde 2016, incentivada pelo pai, um apaixonado por música e entregador de gás e água mineral no Coque. "Eu não era fã, mas, com o passar dos anos, comecei a pegar gosto e hoje sou apaixonada", diz a jovem.

Assim como Wesley, Jammilly já está de olho no futuro e também quer fazer a prova para a Orquestra Sinfônica do Recife. "Futuramente, quero ir para uma orquestra fora do país", conta.

E eles têm em quem se inspirar: um músico brasileiro formado pela Orquestra Criança Cidadã, Antonino Tertuliano, integra hoje a Filarmônica de Israel.

"É esse talento que nós buscamos a cada dia no projeto para que, por meio da oportunidade, os jovens se tornem cidadãos e músicos", afirma Targino. Afinal, como diz Jammilly, a "vida não pode ser feita só de tragédia". 

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