A tarifa dos ônibus municipais em Guarulhos, na Grande São Paulo, foi reajustada em 1º de janeiro de 2023. A passagem subiu de R$ 4,90 para R$ 5,10 no pagamento com o Cartão Cidadão, e de R$ 5 para R$ 5,30 para quem adquire com dinheiro. Professores e estudantes que utilizam o Cartão Escolar pagam agora R$ 2,55.
Com o aumento, moradores têm feito reclamações em vista das condições do serviço. Queixas em relação à lotação dos coletivos, à falta de acessibilidade dos veículos, à estrutura nas paradas ou sobre o tempo de espera pela condução estão entre os principais problemas apontados pelos guarulhenses ouvidos pela Agência Mural.
Ausência de coberturas e acessibilidade
Moradora do bairro Jardim Cumbica, Rita de Fátima, 58, conta que, apesar de não utilizar o transporte público todos os dias, já sente no bolso a alteração do preço nas viagens que faz pelos bairros. “Pela situação do salário, não era para estar aumentando. Aumentar a passagem é uma piora para todos nós”.
Ela não concorda com o aumento da tarifa devido à qualidade no serviço oferecido e expõe que, em geral, precisa ficar em pé nos ônibus por conta da lotação. “Para andar menos lotado, deveria ter mais ônibus. Ter cobertura nos pontos ou lugar para se sentar. Não me sinto confortável”, diz.
No Jardim Álamo, o presbítero Marcelo Nogueira de Lima, 46, observa que existem poucos pontos de ônibus com cobertura perto de onde mora, o que atrapalha a espera pelo coletivo em dias muito quentes ou chuvosos. “Se tiver um sol de 40ºC ou estiver chovendo, tenho que encarar”, afirma o morador.
Lima se desloca com cadeira de rodas há 17 anos e denuncia a estrutura precária para o acesso de pessoas com deficiência física nas paradas. No início de janeiro, ele tentou embarcar com a esposa em um ônibus da linha 720, mas o elevador do veículo apresentou pane.
“Estava emperrado e não abria. Quando o motorista tentou abrir, o elevador travou. Isso acontece com frequência”, relata. Como o ônibus não podia continuar o trajeto com o equipamento aberto e sem funcionar, o veículo precisou voltar para a garagem, o que irritou alguns passageiros.
“Teve passageiro que desceu me culpando. Quer dizer, a própria população me culpou pelo ônibus ir para a garagem, mas não culpou as autoridades por não fazerem a manutenção”, lamenta.
A fotógrafa Daiana Oliveira, 22, moradora do Jardim Marilena, explica que já optou por andar a pé, em vez de ir de ônibus, por conta do preço da passagem. “É um sentimento de raiva e frustração, pois é inaceitável que as tarifas estejam cada vez mais caras enquanto a qualidade do serviço é cada vez pior”.
Ela também verifica que a falta de investimento em infraestrutura de transporte público está especialmente presente nas áreas periféricas do município. “É um sinal de que outras prioridades estão sendo colocadas acima da qualidade de vida dos cidadãos”, diz.
Chuva dentro do ônibus
Quem também se queixa das condições do transporte é o professor de história Emerson Soares, 36. “No ano passado, na época de chuva, estava chovendo dentro do ônibus. [A água vazava] daquela saída de emergência central, que estava danificada”, lembra.
Morador do Jardim Fortaleza, ele conta que estava na linha 490 naquele dia. “Uma das linhas mais precárias da minha região, onde a maior parte das paradas de ônibus não tem cobertura”.
Para o professor, pensar na estrutura do transporte municipal e se deparar com o aumento traz um sentimento de tristeza e revolta. “O problema, às vezes, não é ficar uma hora no ônibus, mas sim ficar num ônibus super lotado. O transporte público em Guarulhos tira a saúde do trabalhador em diversos aspectos”, diz.
O estudante de gestão pública Pedro Melo, 19, considera que o transporte na cidade “atrapalha a paz e a dignidade do trabalhador”, principalmente quando um veículo quebra. “No ano passado, voltando do trabalho, era muito comum o ônibus quebrar”, conta o morador do Jardim Santa Emília.
Melo é um dos articuladores de um ato contra o aumento da tarifa, que conta com o apoio de movimentos sociais, culturais, estudantis, sindicatos e partidos políticos. A manifestação está prevista para o dia 14 de fevereiro, às 17h, com concentração na frente da Igreja Matriz, no centro da cidade.
Para ele, o aumento da passagem também priva estudantes e trabalhadores a desfrutarem da cidade. “Quando a gente fala de acesso à educação, cultura, esporte, lazer e, inclusive, acesso ao trabalho, a gente está falando de garantir a mobilidade urbana para que todos esses direitos sejam assegurados”, afirma.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Transportes e Mobilidade Urbana, da Prefeitura de Guarulhos, e questionou sobre os pontos apontados e denunciados pelos moradores entrevistados. Porém, não obteve retorno até o momento da publicação.