Morto pela PM no Guarujá era vendedor de açaí e deixa filha de 6 anos

Felipe Vieira Nunes foi criado na Vila Carmosina, na zona leste de São Paulo, e morava no Guarujá há quatro meses

2 ago 2023 - 17h25
(atualizado às 18h33)
Felipe Vieira Nunes foi criado na Vila Carmosina, faria 31 anos no dia 9 de agosto
Felipe Vieira Nunes foi criado na Vila Carmosina, faria 31 anos no dia 9 de agosto
Foto: Arquivo pessoal

O vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, foi morto com nove tiros disparados por policiais da Rota, durante ação na noite de 28 de julho, dias antes de seu aniversário. Criado na Vila Carmosina, zona leste de São Paulo, ele morava no Guarujá, na Baixada Santista, há quatros meses e trabalhava vendendo açaí na Praia da Enseada. Felipe deixa uma filha de seis anos. 

Testemunhas relataram que ele foi morto nas proximidades de sua residência, na Vila Baiana. Segundo vizinhos, ele não ofereceu resistência à abordagem e estava desarmado. No entanto, no boletim de ocorrência, a Polícia Militar afirmou que ele atirou primeiro contra os policiais. Durante o velório, familiares identificaram indícios de tortura, como queimaduras de cigarro e um corte no braço de Felipe. 

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Em entrevista ao Visão do Corre, um familiar próximo conta que o rapaz era querido na Vila Carmosina, alegre e muito engraçado. Vivendo a realidade da periferia, Felipe se envolveu com o crime e teve passagens pela polícia. “Na quebrada tem muita malandragem. Ele queria ter as coisas também, as coisas boas, roupa boa, tênis bom”, comenta o parente.

Há três anos, Felipe, que já foi puxador e ambulante na 25 de Março, tentava mudar de vida e se afastou da criminalidade. “Ele fez um curso de cabeleireiro e estava trabalhando, mas aí ele acabou sofrendo um acidente com espelho no salão dele, rompendo três tendões”. Ele perdeu muita agilidade e teve de parar de fazer cortes de cabelo. Fez fisioterapia, “mas não voltou a ser a mesma coisa”, conta. 

Há dois meses, Felipe também passou pelo luto de perder seu pai de criação. Foi aí que decidiu ficar na Baixada e tentar um novo trabalho. “Ele conheceu um pessoal, que deu uma assistência para ele, ensinando a trabalhar na praia. Eles trabalhavam com açaí e raspadinha.”

“Mataram o moleque e ele tava todo feliz, me chamando para trabalhar com ele lá na praia a partir de novembro”, lembra o familiar. Felipe estava juntando dinheiro e queria comprar o próprio carrinho de açaí. 

‘Indignação e revolta’

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“O pior de tudo acaba sendo a indignação, a revolta pela injustiça. O moleque estava de boa, tranquilo. Estava trabalhando e cuidando da vida dele, não tava fazendo nada de errado”, declara o familiar de Felipe. Ele conta, ainda, que a polícia está “aterrorizando a população, declarando guerra contra a favela.”

Até a publicação desta reportagem, havia subido para 16 o númerto total de mortos durante a Operação Escudo, deflagrada após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis, na comunidade Sítio Conceiçãozinha, em Guarujá. No domingo, 30 de julho, o suspeito de ter matado o soldado foi preso. A Ouvidoria das Polícias do Estado investiga a ação policial.

Outras vítimas 

Conforme noticiado pelo Terra, Filipe do Nascimento, de 22 anos, trabalhava em uma barraca na Praia das Astúrias. Na última segunda-feira, 31 de julho, ele foi morto por policiais da Rota no bairro Morrinhos. 

Filipe do Nascimento trabalhava na Praia das Astúrias
Foto: Arquivo pessoal

A Secretaria de Segurança Pública alega que todas as pessoas mortas na Operação Escudo trocaram tiros com os agentes. No entanto, o patrão do rapaz, sua família e amigos afirmam que Filipe era trabalhador, havia saído apenas para ir ao mercado naquela noite e não tinha arma de fogo. 

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Cleiton Barbosa Moura, de 24 anos, também foi morto na operação. A esposa alegou que o marido foi executado pela polícia. Ao Terra, ela contou que Cleiton foi arrastado de sua residência até um mangue, onde foi fuzilado na presença do filho de apenas 10 meses

Onde denunciar abusos policiais 

A Defensoria Pública de São Paulo (DPE-SP) informou que prestará atendimento e colherá relatos de vítimas e testemunhas de violência policial decorrente da operação no Guarujá. O atendimento será prestado pela Unidade Guarujá, localizada na Avenida Adhemar de Barros, 1327, e pelo Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos (NCDH), localizado na capital paulista.

Fonte: Visão do Corre
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