Vivas no plano terreno ou na memória histórica, muitas pessoas lutaram e lutam por representatividade, respeito e direitos LGBTQIAP+ no Brasil. No Rio de Janeiro, não poderia ser diferente.
E a luta é mais difícil quando se nasce e sobrevive em favelas. Em comemoração a este mês do orgulho de que tem coragem de enfrentar as normas de gênero e sexualidade, Visão do Corre publica seis minibiografias que merecem ser lembradas.
Camila Felippe, do Complexo da Maré
Camila Felippe, 25 anos, estudante de odontologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), se identifica enquanto uma mulher preta e sapatão. Ela é cria da Vila do João, Complexo da Maré, zona norte da capital fluminense. Sua militância pelos direitos e causas LGBTQIAP+ começa ativamente em 2019, quando entra para a Coletiva Resistência Lésbica da Maré.
Em 2022, para auxiliar mulheres do território em vulnerabilidade causada pela pandemia de Covid-19, o grupo abre a Casa Resistências. Trata-se de um espaço de acolhimento voltado para mulheres que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+, situada na Vila dos Pinheiros, também na Maré. Atualmente, Camila Felippe é vice coordenadora do espaço, responsável pela área de segurança alimentar.
Ela entende que sua luta está voltada para a garantia da vida e segurança das mulheres de favela, atuando dentro ou fora da Casa, discutindo em rodas ou planejando eventos que contribuam para a formação de políticas públicas.
Lacraia, da favela do Jacarezinho
Lacraia foi dançarina da famosa dupla Lacraia e Serginho. Juntos, emplacaram hits como Vai Serginho, Eguinha Pocotó e Vai Lacraia. Lacraia nasceu em 1986, na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro (RJ) e morreu aos 33 anos, em 2011, de pneumonia.
Lacraia foi percussora da representatividade no funk, quebrando papéis de gênero em um estilo que até hoje tem poucos artistas LGBTQIAP+ de destaque. Até onde se sabe, ela não se denominava em relação a nenhuma identidade da sigla, mas deve-se levar em consideração os tabus e a falta de acesso aos debates da época em que vivia.
Nathaly Dias, do Morro do Banco
Mais conhecida como Blogueira de Baixa Renda, Nathaly Dias, 30 anos, moradora do Morro do Banco, zona oeste do Rio de Janeiro, é uma digital influencer que compartilha o seu dia a dia, mostrando a realidade a partir da perspectiva de uma pessoa favelada.
Ela começou seu canal mostrando a rotina enquanto namorava um rapaz, mas sempre declarou ser uma mulher que amava outras mulheres. Atualmente, mantém relacionamento com a artista e tatuadora Fernanda Yara. Nathaly diz que recebeu críticas de internautas pelo fim do seu antigo relacionamento e por assumir um namoro com uma mulher.
David Miranda, primeiro vereador gay
David Michael dos Santos Miranda, jornalista e político, é cria do Jacarezinho, favela da zona norte do Rio de Janeiro. Foi o primeiro gay da capital a assumir uma cadeira na Câmara dos Vereadores. David morreu em maio de 2023, aos 37 anos, devido a um quadro de inflamação e infecção gastrointestinais.
Atuou como importante nome na representatividade política de pessoas negras, faveladas e LGBTQIAP+. Ele era casado há 18 anos com o também jornalista Glenn Greenwald, com quem criava dois filhos.
Jeferson Rodrigues, do Complexo do Alemão
Jeferson Rodrigues, nome artístico Urso, tem 37 anos. É do Complexo do Alemão, zona Norte do Rio de Janeiro. Pessoa não binária, professora, fotógrafa, teóloga e artista visual, é também ativista em diversas frentes.
Em suas obras, aborda liberdades e diversidades religiosas, raciais, de gênero, e se dedica a produzir discursos sobre espiritualidades que foram demonizadas ao longo dos tempos.
Atualmente, seu foco é trazer para a favela todo o investimento que foi feito pela sociedade em sua formação, uma forma de fortalecer a pessoa LGBTQIAP+ e preta. Serve também para entender o quanto sua existência é potente, necessária e pode estar em todos os lugares.
Marielle Franco, ícone em sentido amplo
Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, socióloga e política, foi criada na favela da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Fez história por todo o seu ativismo pelos direitos humanos e representatividade como mulher, negra, bissexual e mãe.
Eleita vereadora no Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tinha um relacionamento com outra mulher, figura política e ativista, Mônica Benício. Em março de 2018, foi executada, juntamente com seu motorista, Anderson Gomes. Até hoje não se sabe quem mandou matar Marielle.