Baixadas são áreas que o IBGE chama, genericamente, de favelas, mas na capital paraense são baixadas, que estão em ilhas ou próximas a rios, canais e igarapés, espécie de córregos. Existem ao menos quatro configurações diferentes.
Ativistas das regiões que mais sofrem com desequilíbrios climáticos em Belém (PA) estão se articulando para a COP 30 e, entre as preocupações, está a compreensão, por quem virá de fora, de como são as periferias da cidade, a começar pelo nome.
“Aqui são as baixadas. Belém é uma cidade plana e tem áreas periféricas abaixo do nível do mar. É outra geografia, não são morros, e não são todas as baixadas que tem palafitas”, explica Matheus Botelho, 28 anos.
O jornalista é ativista da Associação Cultural Na Cuia, que atua há uma década nas baixadas da capital paraense. Um de seus parceiros, Andrew Leal, 27 anos, arquiteto e urbanista, completa a explicação.
“Belém tem uma característica compartilhada com outras cidades da Amazônia, são locais geralmente planos, e as nossas periferias são baixadas, têm outra relação com a água”, diz o cria do bairro Terra Firme.
Baixadas em ilhas
Quem mora em comunidades localizadas nas dezenas de ilhas ao redor de Belém são os ribeirinhos – assim como quem vive nas margens de rios e córregos, que, no vocabulário local, são igarapés.
Nas baixadas localizas em ilhas, existem mais palafitas, casas construídas sobre estacas ou troncos de madeira, elevando as moradias acima da água. “A palafita nas ilhas é uma tecnologia ancestral de como se reconhecer ribeirinho”, explica o arquiteto Andrew Leal.
As ilhas do Combú e das Onças, próximas ao continente, famosas pelos restaurantes e pela densa mata nativa, têm baixadas onde predominam as palafitas. Mas nem todas as ilhas são iguais. Em Caratateua, que tem acesso ao continente através de uma ponte, a maior parte das habitações é de alvenaria e madeira, sem palafitas.
Baixadas ou comunidades de margem
Fora das ilhas, existem baixadas em bairros como Terra Firme, Jurunas. Neles, também há palafitas, mas também casas de alvenaria, como condomínios do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A Vila da Barca, na região sudoeste de Belém, é um exemplo da convivência de dois tipos de residências, com a maior parte palafitada. “Mas veja como não é simples caracterizar: existem palafitas, mas não está em uma ilha, e sim nessa península chamada Belém”, explica Leal.
Existem canais no Jurunas e em outros bairros, e em todos esses locais, estão as baixadas, áreas periféricas da cidade de Belém.
Baixadas com igarapés
Existem baixadas com a maior parte do território em terra seca, que convivem com cursos de água menores, os igarapés. Cabanagem é um desses locais. Localizada na parte mais continental de Belém, não está próxima de grandes rios.
Com as mesmas características podem ser citados outras baixadas em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, próximas à principal saída terrestre da capital, a BR 316. Parte da Sacramenta também é assim.
“Ananindeua não tem saneamento, asfalto, não tem mobilidade urbana. As obras para a COP não levam em consideração o principal veículo da população, as bicicletas”, observa Botelho.
Baixadas em bairros ricos
Em Belém existem baixadas em meio a bairros de classe média e média alta. São locais em que a infraestrutura convive com a falta dela, como Pedreira, na parte alta de Belém.
Nela, a avenida Duque de Caxias evidencia as diferenças socioeconômicas. Avenida nobre, é caro morar lá. Mas, em algumas travessas, há pessoas pobres morando perto de canais, igarapés canalizados.
“Isso reafirma o fato de que Belém é muito desigual. Em bairros majoritariamente não periféricos, é possível encontrar baixadas”, aponta o arquiteto Andrew Leal.