Desde 2020, a culinarista Laura Fernanda da Silva, de 43 anos, e seus familiares, vivem com a sensação constante de medo por causa do risco de queda das árvores que ficam nas barreiras na parte de trás da sua residência, na comunidade do Monteiro, periferia na zona norte do Recife. Inúmeras denúncias e solicitações foram realizadas pelos moradores, mas nada foi resolvido para solucionar a situação que coloca em risco a vida de uma população com quase seis mil habitantes.
O temor aumentou recentemente, pois Laura e os moradores das áreas próximas às barreiras da comunidade do Monteiro perceberam que, com o intenso volume das chuvas, as raízes das árvores começaram a ficar expostas e resíduos da barreira começaram a cair, indicando a gravidade da situação.
“Fizemos até um protesto e, por meio de um ofício de solicitação de corte, poda e extração, conseguimos uma ação paliativa, da retirada de uma árvore e a poda parcial de outra. Mas até o material residual desse serviço ficou descartado na barreira”, afirma Laura.
Ligações, protocolos e nenhuma solução
A moradora perdeu as contas de quantas solicitações e protocolos fez para a Defesa Civil do Recife. “Eu ligo e anoto o protocolo. Eles até vêm, fazem uma vistoria, mas fica só nisso. Orientam a gente a ir para casa de parentes. Minha irmã, que mora mais próxima da barreira, ao menor sinal de chuva, esvazia a casa e vem com a filha para a casa da minha mãe, mais à frente. Aí ficamos todas aqui, aflitas”, desabafa.
Em maio, a Defesa Civil e a Secretaria de Assistência Social realizaram mais uma vistoria técnica. No entanto, foi informado que, como o local faz parte de uma área de preservação ambiental, a Defesa Civil só pode realizar a vistoria técnica e prestar as orientações aos moradores. Enquanto não se tem uma solução definitiva por parte dos órgãos competentes, a população que ainda mora no local não dorme em paz a cada período de chuva. A tragédia do ano passado ainda está na lembrança.
Tragédia do ano passado ainda assusta
Em maio de 2022, fortes chuvas atingiram o estado de Pernambuco e uma das áreas mais prejudicadas foi a Região Metropolitana do Recife. Na época, de acordo com a Defesa Civil da capital pernambucana, em 48 horas o acúmulo de chuvas foi de 258 milímetros, cerca de 80% do previsto para todo o mês de maio. Houve alagamentos, deslizamentos de barreiras e mortes. Foram 133 vítimas fatais. A maioria morreu soterrada e cerca de 128 mil pessoas ficaram desabrigadas e desalojadas.
Vanessa Francisca da Silva, de 33 anos, além de seus familiares e vizinhos estão entre os atingidos pela chuva e suas consequências. Todos são moradores da Rua da Levada, na comunidade do Monteiro. Em maio do ano passado, tiveram que deixar suas residências depois que árvores caíram, destruindo casas de forma integral e parcial, e colocando vidas em risco.
Na família da dona de casa não houve vítimas fatais. No entanto, na época, a Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon), solicitou que as famílias deixassem as residências e ficassem nas casas de parentes. Ou procurassem os abrigos da prefeitura.
“Foi o que fizemos. Algumas pessoas foram para abrigos, outros para casa de parentes, alguns passaram um tempo, depois tiveram que voltar mesmo correndo risco, por não ter condição de pagar um aluguel em outro lugar com um auxílio-moradia de trezentos reais”, afirma Vanessa.
Morando com parentes
Em junho de 2022, o governo de Pernambuco e a prefeitura do Recife anunciaram auxílios para desabrigados, desalojados e familiares que perderam parentes em decorrência das fortes chuvas.
O valor foi de R$ 1,5 mil, em parcela única, paga pelo governo estadual, para desabrigados e desalojados, além de pensão de um salário mínimo para quem perdeu parentes.
A prefeitura do Recife pagou R$ 1 mil, também em parcela única, para ressarcir os moradores que perderam suas casas, juntamente com o auxílio-moradia mensal de R$ 300.
“Foi um sufoco muito grande para conseguir receber esses auxílios, acredito que existam pessoas que ainda não receberam. Eu mesma só consegui receber a parcela única do governo e o auxílio-moradia em abril deste ano, quase um ano depois do ocorrido”, afirma Vanessa. Ela mora na casa de parentes desde as chuvas do ano passado.
Resposta oficial
A Autarquia de Urbanização do Recife (URB) informa que contratou projeto para construção da contenção definitiva de encosta na Rua das Levadas, localizada no bairro do Monteiro.
A Defesa Civil do município acrescenta que três famílias foram incluídos no Auxílio Moradia (R$ 300,00 por mês) e receberam o Auxílio Municipal e Estadual (AME), no valor de R$ 2.500,00, pelas perdas materiais provocadas pelas fortes chuvas do ano passado.
A Emlurb enviará equipe ao local para verificar a necessidade de poda das árvores.