Conheça as “afropatys”, mineiras que inspiram empoderamento

Estilo é promovido por mulheres da capital, interior e por negras que conheceram a postura afirmativa em Minas Gerais

4 abr 2023 - 10h53
(atualizado em 11/4/2023 às 10h14)

Na década de 90, o termo “patricinha” surgiu para designar meninas ricas, brancas, loiras, com olhos claros, que usavam roupas de marcas e frequentavam lugares chiques. Em contrapartida, surgiram as “afropatys” ou “pretas patrícias”, mas só agora o movimento se popularizou em Minas Gerais.

Naquela época, as mulheres negras e vaidosas eram chamadas de “as pretas escovadas”. Elas procuravam ter um perfil parecido com os das meninas brancas: cabelo muito bem alisado, lentes de contato e trajes que imitavam as patricinhas. Mas ser uma afropaty vai muito além da aparência e da futilidade, como descobriam agora.

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Glauce Mara, 37, idealizadora do Box da Nêga em Itabira de Minas, interior do estado, conheceu o termo recentemente nas redes sociais, através das blogueiras que promovem empoderamento.

Glauce Mara, de Itabira de Minas, deseja que todas as mulheres negras se empoderem
Glauce Mara, de Itabira de Minas, deseja que todas as mulheres negras se empoderem
Foto: Divulgação

 “Não remete a dinheiro, diferente das patys brancas, e, sim, a pequenas conquistas sociais, como, por exemplo, cursar faculdade”. O foco do movimento é reforçar as discussões sobre relações raciais, que trouxeram novas formas de enxergar a existência das negras e negros no Brasil, principalmente se o assunto é ascensão social, estética e identidade. 

Afropaty vem de longe

Apesar da palavra ser recente nas pautas, nos debates e na mídia, as afropatys constroem o termo há muito tempo. Confrontar os preconceituosos faz parte dos desafios de ser uma preta patrícia. A massoterapeuta Mariana Paula, 34 anos, conta que sua primeira vivência com o termo foi no momento de uma entrevista de emprego, anos atrás, em Belo Horizonte.

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Natural de Duque de Caxias (RJ), a luta pela sobrevivêncoa a levou a morar na periferia de BH e, recentemente, para Ermelino Matarazzo, zona Leste da capital paulista.

Mariana Paula, massoterapeuta de Belo Horizonte, entendeu a afirmação da beleza negra em uma entrevista de emprego
Foto: Divulgação

Segundo ela, "pessoas tentam nos ofender com palavras e atitudes para nos rebaixar e nos fazer acreditar que não temos lugar, que não somos valiosas”. Mas ela não deixa de acreditar que hoje ­­— diferente do passado — há muito mais poder de influenciar, inspirar e fazer as mulheres se tornarem rainhas de si.

Afropaty é sobre empoderamento

A estudante de Pedagogia Elisângela de Oliveira, 45 anos, de Belo Horizonte, atualmente morando na periferia de São Paulo, na Vila Santa Catarina, diz que a expressão “afropaty” é sobre cores, exuberância e um toque de poder nos looks das mulheres pretas. E quando o assunto é poder, ela cita a repórter Glória Maria, que “nos deixou um exemplo de guerreira”.

Estudante de Pedagogia, Elisângela de Oliveira diz que afropay é sobre cores, exuberância e um toque de poder nos looks
Foto: Divulgação

As “madeixas crespas” despertam gatilhos emocionais quando são associadas à estética. A profissional da beleza Jacqueline Barbosa, 35 anos, de Itabira, hoje pode presenciar as negras usando produtos voltados para elas. “Sempre trabalhei com a autoestima, orientando minhas clientes a se cuidarem e usarem produtos que representam a imagem delas. Elas precisam confiar no próprio estilo”, diz.

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É o que acredita Gleice Andrade, 42 anos, de Ipatinga, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no bairro periférico de Esperança. Ela trabalha aplicando mega hair. Sua atuação profissional é pelo reconhecimento de valores da mulher preta. “Por muitos anos ficamos oprimidas e escondidas, não enxergando nosso próprio valor, aceitando as regras de belezas que eram impostas”, diz.

Gleice Andrade, de Ipatinga, se inspira em mulheres negras que buscam independência financeira
Foto: Divulgação

Contra os estigmas históricos

Ser afropaty ou preta patrícia é desafiar a sociedade racista. Desconstruir a ideia de que cabelo crespo é “ruim” é uma luta, diz a cabeleireira Tatiana Meireles, 40 anos, do bairro Jaquelino, periferia de Belo Horizonte.

Cabeleireira de Belo Horizonte, Tatiana Meireles acredita que a questão de ser afropaty é uma cura de dentro para fora
Foto: Divulgação

Ela recorda que, no início da pandemia do coronavírus, muitas mulheres negras tiveram que se redescobrir e entrar num processo de aceitação da beleza natural. Elas estavam sem acesso a produtos de estética por causa do fechamento do comércio. “Amo empoderar as crespas a se sentirem divas, com seus cabelos black power e volumosos”, finaliza.

Para Jacqueline Babosa, de Itabira, as mulheres pretas precisam acreditar no próprio estilo
Foto: Divulgação
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