Na propaganda política e em debates, Ricardo Nunes se diz “cria da periferia” e Boulos não deixa de lembrar que mora lá. O Campo Limpo faz divisa com a cidade de Taboão da Serra e o Jardim São Luís está ao lado da represa Guarapiranga.
Os candidatos à Prefeitura de São Paulo insistem no pertencimento a duas quebradas: o Jardim São Luís, de Ricardo Nunes; e o Campo Limpo, de Guilherme Boulos. São bairros vizinhos na zona sul, com semelhanças, como o número de habitantes, e diferenças históricas.
O Campo Limpo faz divisa com a cidade de Taboão da Serra e em muitos pontos não se percebe a passagem de um local para o outro. Mas há nítidos contrastes, como o bairro rico do Morumbi e a favela de Paraisópolis.
O Jardim São Luís, mais para dentro de São Paulo, está ao lado de periferias emblemáticas, como Capão Redondo e Jardim Ângela, preconceituosamente rotulados de “triângulo da morte” nos anos 1990. A referência é a represa de Guarapiranga.
“Da ponte pra cá” é na zona sul
Campo Limpo e Jardim São Luís, embora vizinhos, têm entre eles a Avenida João Dias, o que faz bastante diferença no desenho da zona sul de São Paulo. Conhece a expressão “da ponte pra cá”?
Foi cunhada pelo Racionais MCs em referência à ponte João Dias. O cemitério São Luiz, “aqui jaz”, também foi imortalizado pelo grupo.
Guilherme Boulos (PSOL) mora no Campo Limpo, nome da região e do bairro. Já apareceu na imprensa como morador do Jardim Catanduva, mas seu endereço exato, segundo documentos oficiais e mapas eletrônicos, é na Vila Faria Lima (nome de ex-prefeito de São Paulol, associado à avenida preferida pelo mercado financeiro).
Ricardo Nunes (MDB) morou no Jardim São Luís, com conexões no bairro vizinho, Socorro, onde fica a Escola Estadual Dom Duarte Leopoldo e Silva, em que estudou e vota. Ele permanece na área, no Guarapiranga, bairro mais estruturado. Declarou que teve infância de classe média em Interlagos, na mesma região.
Favelas e acesso à cultura
Segundo dados de 2022 da Prefeitura de São Paulo, o número de favelas do Jardim São Luís é igual ao do Campo Limpo, três. Mas a quantidade de domicílios é bem maior.
São 17 mil pessoas morando em barracos na região onde vive Guilherme Boulos, e 21 mil onde Ricardo Nunes passou parte da infância.
Segundo a mesma fonte, no Jardim São Luís, com 260 mil moradores, há três bibliotecas que guardam 34 mil livros: a média é de 0,13 para cada habitante.
Com a mesma quantidade de bibliotecas e um número parecido de moradores, 236 mil, no Campo Limpo a média de livros por habitante chega a 0,2. São pouco mais de 64 mil exemplares disponíveis.
Vizinhos com histórias diferentes
A região onde Ricardo Nunes viria a morar durante parte da infância começou a ser ocupada em 1607, com a instalação de um engenho e da primeira extração de minério de ferro da América do Sul. O Jardim São Luís, posterior, nasceu como um bairro de operários em meados do século passado.
O Morumbi e seu estádio foram construídos na mesma época, mas a ocupação do Campo Limpo é anterior. Data da primeira metade do século 20, com chácaras e pequenas propriedades.
Se a região do Jardim São Luís é identificada com Racionais MCs, no Campo Limpo surgiram relevanes grupos de rap, como Z´África Brasil e Negredo.