“Ativista socioambiental”. É assim que se autodenomina Jahzara Ona, jovem de 18 anos que vive no Jardim Pantanal, periferia da zona leste de São Paulo. Apesar de ter uma forte atuação ligada a questões de clima e meio ambiente, ela considera importante não separar essas problemáticas da questão social.
“Minha avó um dia chegou em mim e falou que não existe isso de separar a humanidade da natureza, do meio ambiente. Todos nós somos um só. Depois disso, nunca mais vi o social separado do ambiental”, conta ela, apontando a interseccionalidade que existe entre as pautas que acredita.
“Acredito que o feminismo, a negritude, os secundaristas, todas essas questões são ligadas em uma só. Sempre liguei todas essas questões e projetos sociais à pauta ambiental também porque ela é a mais urgente atualmente”, explica.
Apesar da pouca idade, Jahzara tem uma boa experiência no ramo do ativismo. Ao mesmo tempo em que concluía o ensino médio, ela participava de greves estudantis pelo clima e até já viajou à COP27 (27° Conferência das Partes), o evento mais importante sobre discussões climáticas no mundo.
Jahzara define a viagem para a COP, que no ano passado foi realizada no Egito, como uma “loucura”. Foram duas semanas do mês do novembro no continente africano, sendo a primeira para a COY (Conferência da Juventude, em português), evento que reúne jovens ativistas climáticos de todo o mundo.
“A juventude estava concentrada naquele lugar para mostrar que estávamos presentes, mas no espaço de discussão, a COP, 50% de nós não participaram. Eles concentraram os jovens num só lugar, o que me deixou muito decepcionada”, diz.
Durante a semana da COP, Jahzara produziu conteúdos para a internet, concedeu entrevistas e conversou com o máximo de pessoas que pôde. “Sempre tive um ativismo muito de base, trabalhando com a minha comunidade. Saí de lá para ir a outro país e ser ouvida de forma mais política, para fazer acontecer.”
“Foi muito exaustivo, mas queria entender se me daria bem naquele espaço, se era aquilo que eu queria para o meu ativismo e para a minha comunidade”, complementa a jovem, destacando que faria tudo de novo.
“Acaba sendo um espaço muito bom para evoluir enquanto indivíduo e ativista, conhecer outras pessoas, visões e realidades completamente diferentes, e entender que é possível levar a pauta da minha casa, do meu bairro, da minha cidade para esses espaços globais.”
Influência familiar
Assim como a avó a fez pensar sobre a união entre humanidade e natureza, a rotina diária da mãe e da tia ajudou a jovem a entender o que é “luta”.
“Sempre observei muito a luta dos meus, daqueles que estavam comigo, seja da minha mãe, seja da minha tia que acordava cedinho para ir trabalhar e chegava só tarde da noite. Observar a luta dessas pessoas me incentivou a lutar também, por elas, para mim e pela minha comunidade”, relembra.
A comunidade onde Jahzara mora não se chama “Pantanal” por acaso. Localizada no distrito do Jardim Helena, o bairro tem um longo histórico de enchentes. Essa preocupação está presente em uma das primeiras ações dela como ativista.
Ela relembra que aos 15 anos promoveu uma arrecadação de alimentos que ajudou cerca de 160 famílias que viviam em uma ocupação onde uma amiga dela morava. “Não tinha saneamento básico, não tinha comida e a maioria das pessoas estava ali porque não conseguiu pagar o aluguel, porque não tinha casa”.
“Conforme fui realizando a entrega, conversando com as pessoas, aquele sentimento de ter conseguido ajudar de alguma forma os moradores da comunidade, por um problema que eu também já passei (de insegurança alimentar), foi muito chocante”, diz.
“Acredito que meu ativismo de querer agir mais em prol da minha comunidade começou a partir daí”, completa.
A primeira participação dela em uma greve pelo clima foi em março de 2019. Esse tipo de iniciativa surgiu a partir da atuação da sueca Greta Thunberg, atualmente com 20 anos, que faltava às aulas todas as sextas-feiras para protestar por ações pelo meio ambiente no parlamento do país dela.
Foi daí que surgiu o movimento chamado “Fridays for Future” (conhecido também como Jovens pelo Futuro) e que Jahzara participa aqui no Brasil.
“A Fridays proporciona para nós que estamos na linha de frente [a possibilidade de] serem incluídos nas discussões. Além das greves, que a gente faz uma vez por semestre e que são muito importantes também, a gente também realiza diversas ações. É muito bacana”.
Entre as ações que Jahzara participa, estão a realização de palestras em escolas, a organização das manifestações, que geralmente são realizadas na avenida Paulista, no centro de São Paulo, e outras ações de solidariedade, como a arrecadação de roupas e alimentos para os indígenas de uma aldeia na região de Parelheiros, no extremo sul da cidade.
Segundo a ativista, é muito importante que outros jovens aprendam sobre a questão da crise climática e possam ter a oportunidade de se engajar na pauta, porém sem que isso resulte em mais uma “ansiedade” na mente de cada um. “Isso traz um peso muito grande, então é preciso respirar e agir da forma que é possível, sabe?”
“Trazer uma palestra para uma escola ou ir para uma conferência internacional são formas diferentes de agir, de conscientizar e de estar em prol de um planeta um pouquinho melhor. Ainda há tempo de amenizar e criar pelo menos um mínimo de justiça climática no nosso mundo”, defende Jahzara.