Conheça o príncipe nigeriano que vive em Itaquaquecetuba (SP)

Com ancestralidade ligada à origem do candomblé, Adimula é príncipe da cidade de Ilê Ifé, capital do povo yorubá

12 mai 2022 - 05h00
(atualizado em 20/5/2022 às 18h20)
Rasheed Adewale Adefioye nasceu em Ilê Ifé, na Nigéria, o berço do candomblé
Rasheed Adewale Adefioye nasceu em Ilê Ifé, na Nigéria, o berço do candomblé
Foto: Magno Borges/Agência Mural

Comerciante, babalorixá, ex-candidato a vereador, professor e “príncipe”. Esse é o currículo resumido de Rasheed Adewale Adefioye, 52, ou simplesmente Babá Adimula. Morador de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, ele possui raízes em terras a mais de 6 mil km da região do Alto Tietê.

Babá (‘pai’ em yorubá) Adimula é natural de Ilê Ifé, na Nigéria. A cidade do continente africano é o berço do candomblé e do povo yorubá, um dos maiores grupos étnicos-linguísticos da África Ocidental, com quase 30 milhões de pessoas na região.

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É justamente essa ligação com as origens da religião que faz com que Adimula receba o título de príncipe. “Sou da linha de Odudua. Ele é o pai do yorubá, o primeiro da cidade de Ilê Ifé. Estou aqui com sangue dele, dessa família, de geração em geração”, explica.

Atualmente ele é comerciante e tem um loja de artigos religiosos em Itaquaquecetuba
Foto: Arquivo pessoal

Didático, ele compara Ilê Ifé a Meca ou Jerusalém para tornar compreensível a importância da cidade para o candomblé. “O sonho de todos que cultuam orixás é pisar em Ilê Ifé. A maioria fala ‘meu sonho é levar meu nome em oração para o cuidado de Ogum, de Yemanjá’. É um orgulho saber que nasci naquela cidade”.

Babá chegou ao Brasil há 21 anos por influência de um amigo, também da Nigéria, que vendia bijuterias em São Paulo. Foi a descoberta de que também havia culto às divindades da religião dele que fez com que Adimula se apaixonasse ainda mais pelo país.

“Era para eu voltar para casa depois de 30 dias. No bairro onde morava na época, o Butantã, ficava ouvindo tambor. Quando cheguei lá [no terreiro], minha cabeça virou. Assim que abri aquela porta, caí na Nigéria. Lá fora, Brasil; aqui dentro, Nigéria”, relembra.

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Babá Adimula veio ao Brasil em 2001 por influência de um amigo nigeriano
Foto: Arquivo pessoal

O período no Butantã, na região oeste de São Paulo, foi curto. No ano seguinte, em 2002, ele se mudou para Itaquaquecetuba, onde mora até hoje. Lá, Babá se tornou um dos principais comerciantes de artigos religiosos.

“A maioria das lojas no Brasil, principalmente aqui em São Paulo e em Madureira, no Rio de Janeiro, me conhece como fornecedor”, diz.

Além da loja que administra na cidade, Adimula conta que também assumiu a “missão” de ser babalorixá (ou ‘pai de santo’, como é popularmente conhecido por aqui) e começou a dar aulas de língua yorubá para brasileiros.

Segundo ele, há dois públicos para as aulas, que atualmente ocorrem de forma online: aqueles que se matriculam por conta da religião e os que procuram o curso por estar se relacionando com alguém da Nigéria e pretendem conhecer o país.

Adimula também dá aulas de língua yorubá para brasileiros
Foto: Arquivo pessoal

Na última eleição municipal, em 2020, Babá Adimula se candidatou a vereador por Itaquaquecetuba, mas não conseguiu se eleger. “Mesmo assim, a cidade me conhece bastante e já estou me preparando [para a próxima]. Quem sabe não viro o primeiro nigeriano vereador aqui no Brasil?”.

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Além da pretensão de entrar para a política, Babá também tem o desejo de promover intercâmbios culturais, levando brasileiros para conhecer Ilê Ifé.

“Não consegui pagar tudo que o Brasil já fez para mim. Quero que eles [brasileiros], quando chegarem na Nigéria, saibam que não existe nada além do que gratidão no meu coração. Eles terão lugar para ficar e vamos levá-los para qualquer lugar que eles queiram conhecer na África. Esse é meu objetivo”, explica.

O curso da língua yorubá oferecido por Babá Adimula começa em junho. Quem estiver interessado nas aulas precisa entrar em contato pelo número (11) 96241-1260 ou pelo e-mail adimula2020cursoyoruba@gmail.com.

Foto: Arquivo pessoal
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