Em um dos poucos estandes dedicados a negócios editoriais na Expo Favela, está Wesley Barbosa. Sua história como escritor marginal tem um record
e: ele vendeu mais de 10 mil exemplares dos seus quatro livros. E está dando outro passo, abrir a Barraco Editorial.
Barbosa quer reeditar suas obras, publicar novas e incluir artistas da periferia, com foco na luta antirracista. “Eu aprendi bastante com outras pessoas editando meus livros. Já tenho uma estrutura de vendas. Vivo e quero continuar vivendo de literatura, não tenho plano B”, afirma.
Com editora própria, Wesley Barbosa poderá controlar o processo de produção do livro, da concepção à ilustração, da capa à gráfica.
Sua presença na Expo Favela tem dois objetivos: encontrar parcerias para investimento, e continuar o que sabe fazer melhor, vender livros. Apesar de ter na internet um canal potente de comercialização, o que ele gosta mesmo é do contato pessoal.
Projeto editorial
Wesley Barbosa sabe que “o livro se vende com o escritor por perto”. Foi sobretudo no contato pessoal que comercializou mais de seis mil exemplares do primeiro livro, O Diabo na Mesa dos Fundos, de 2015, uma coletânea de contos.
Mas ele quer mais. Agora, pretende alavancar a Barraco Editorial. E sabe quanto pode custar. Wesley Barbosa apresenta o projeto editorial a partir de exemplo da produção de um livro.
Segundo ele, produzir uma obra impacta diretamente seis trabalhadores, como o desenhista da capa, o designer, diagramador, revisor. Para imprimir 500 exemplares, são necessários R$ 20 mil.
Além da impressão e dos custos editoriais, o valor inclui adiantamento de R$ 3 mil ao autor. Durante as vendas, 15% do valor de cada exemplar é destinado a quem escreveu o livro.
Lido por comuns e famosos
No movimentado estande da Expo Favela, Wesley Barbosa recebe jovens alunas e alunos, leitores adultos anônimos e famosos, como o sambista Dudu Nobre e a Eliane Dias, esposa de mano Brown.
“Estou vendendo meu livro atual, Viela Ensanguentada, meu primeiro romance, lançado no ano passado. Vendi dois mil exemplares deles, sem contar os que estou vendendo aqui”, contabiliza.
Vendedor nato
Criado em Itapecerica da Serra, filho de mãe solteira, três irmãos, aluno de escola pública, Wesley Barbosa, 32 anos, alcançou a façanha de vender cerca de 10 mil exemplares de seus quatro livros. E tem fotos e notas fiscais das gráficas para provar o feito.
O escritor é um vendedor nato. Conhece a rua e o contato com o público. Já vendeu água, DVD e CD pirata em cruzamentos. Foi faxineiro e entregador de jornal. Depois, garçom. Mas deixou de ser quando, em 2019, viajou à Feira Literária de Parati e, nas ruas, vendeu 300 exemplares do seu livro.
Percebeu que poderia sobreviver da arte escrita. Hoje, mora no centro de São Paulo, de onde pretende tocar a Barraco Editorial. Na região central, o escritor não deixa de ser vendedor.
No ano passado, enquanto ocorria um evento de livros na Biblioteca Mario de Andrade, Wesley Barbosa comprou uma mesa por 150 reais e, na calçada, em dois dias, vendeu 135 livros.