Na Grande São Paulo, o segundo e último dia do movimento grevista foi presencial, segurando entregas em shoppings e redes de fast-food, e virtual, com intensa troca áudios, textos e vídeos. Houve longos debates sobre a continuidade da greve.
O segundo e último dia do Breque Nacional 2025, a greve de entregadores por aplicativo, terminou com promessa de nova paralisação, caso as reivindicações não sejam atendidas pelo iFood – aumento do valor das taxas de entrega e de rodagem, fim dos pedidos agrupados e máximo de três quilômetros para deslocamento de bicicletas.
Nos grupos de WhatsApp de articulação da greve, nem todos queriam seu fim. Ela estava marcada para 31 de março e 1 de abril, e mesmo com o anúncio esperado do encerramento do “breque”, as discussões sobre sua continuidade seguiram até a manhã de 2 de abril, quarta-feira.
Segundo mensagem de uma das lideranças, “caso o iFood não ceder o que a gente está querendo, nós para quatro dias o país inteiro, mas tem que aliar com os outros estados. Eles sentiram na base mais de dois mil motoboys na frente da empresa”, diz trecho de vídeo.
O aviso gerou reações contrárias. “Se voltar amanhã, os caras não vão amentar a taxa, pai, certeza. O que são dois dias que a gente parou, pros caras? Nada. Agora, pega uma semana, ou fica parado até mudar as taxas. Dívidas todo mundo tem, mas a greve é em prol da nossa melhora, da nossa família”, respondeu um áudio.
Quem não brecou foi chamado de “passa fome”
Desde cedo, grupos de WhatsApp avisavam dos locais onde entregadores furavam a greve. “Aí rapaziada, papo reto? Vários manos trampando de mochila”. Muitos mapas de localização são distribuídos e logo chegam áudios e vídeos de motoboys colando em shoppings e fast-foods para “brecar” quem insistia em fazer entregas.
Alguns breques são tensos. Alguém avisa que “o mano foi brecado e prometeu voltar aqui até de peça”, ou seja, com uma arma. Entregador grava vídeo dizendo o próprio nome e desafiando que o parem. Mostra o número da bicicleta, enquanto passa pela Avenida Paulista.
Em outro vídeo, registrado em São Bernardo do Campo (SP), homem segura um pedaço de caibro, o “chico doce”, enquanto chegam mais flagras de “comédias fazendo entrega”.
Vídeos registram os breques
A maioria dos vídeos mostra entregadores sendo brecados em vários locais da capital paulista, litoral, interior e outros estados. Alguém grava motoboy escoltado pela polícia militar no Partage Santana Shopping, em São Paulo.
Vindos de diversos pontos da cidade, chegam vídeos de breques em redes de fast-food, especialmente McDonalds, como no metrô Conceição, zona sul; e shoppings, como Eldorado, na zona oeste; e Shopping Metrô Tucuruvi, na zona norte.
No meio da tarde, aviso de que a vereadora Renata Falzoni (PSB) vai se pronunciar na Câmara dos Vereadores de São Paulo. Link distribuído, ela expressa todo apoio à greve. “Ninguém confia em governo não, sindicato, vereador, nós só quer o que é nosso”, alguém rebate.
Aumento momentâneo da taxa gera indignação
Ainda durante a tarde, grevistas começam a questionar se a greve continuaria. Alguém filma nota fiscal mostrando a taxa de R$ 19,48, aumentada para incentivar os entregadores e furarem a greve – o valor normal é R$ 6,50. Indignação geral.
Há grande decepção com quem aproveitou os preços maiores oferecidos pelos aplicativos. Muitos criticam gente “metendo o louco”, ou seja, pegando pedidos sem jaqueta, camiseta ou bag do iFood, para não serem identificados.
Circulam registros de peças retiradas de motos e pneus furados, além de avisos. “Aí família, vamos tomar cuidado com os polícias, estão multando, sentando a caneta, eles olha a gente de bag na rua e acha que está na greve. Vamos deixar a placa daquele jeito”.
Em meio à greve, notícias falsas
A principal notícia falsa do dia foi um “comunicado oficial” informando que o iFood reajustaria a taxa de entrega para R$ 7,50, a partir de 10 de abril. A informação foi desmentida pela empresa, em contato da reportagem. O debate sobre o reajuste falso durou mais de uma hora.
A discussão sobre a continuidade da greve esquentou no começo da noite de terça-feira, quando estava previsto o fim da paralisação, e se estendeu até a manhã de quarta, 2 de abril. Muitos motoboys queriam permanecer parados. O argumento era de que os aplicativos se aproveitariam da desmobilização.
No fim da noite, um vídeo de Jaiminho Motoboy, liderança grevista, esclarece que os entregadores não participarão de reunião que teria sido marcada entre iFood, políticos e sindicatos. “O governo não olha pra nós, o sindicato chegou agora e quer comer a cereja do bolo. Lembrando: o sindicato não representa nós em nada, não puxou o bonde de nada”.
E conclui: “esperamos um retorno positivo do iFood. Se não trazer um retorno positivo, a gente vai fazer uma manifestação maior que esta e a gente vai parar o Brasil uma semana”.