Influencers usam humor para quebrar estereótipos das favelas

Paulinho, Juninho e Boca Rica são personagens de produtores de conteúdos que contam a realidade das periferias e fazem sucesso nas redes

18 ago 2022 - 15h58
(atualizado às 20h05)
Gabriel Silva, criador do personagem Juninho
Gabriel Silva, criador do personagem Juninho
Foto: Reprodução/Instagram

Entre seguidores e likes, influenciadores digitais estão se tornando inspirações para jovens engajados no mundo da internet. Eles mobilizam e atraem a atenção de muitas pessoas. E na periferia não é diferente. Há criadores de conteúdos que estão mostrando a importância e a realidade de suas respectivas quebradas. 

Com apenas um celular com acesso à internet, e narrando a realidade do dia a dia de jovens de periferias, esses influenciadores se “vestem” de personagens criados por eles próprios para levar o humor em diversos segmentos e os seus talentos aos seus milhares de seguidores nas redes sociais. 

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Paulo Santos Silva (Paulinho), Hugo Gomes (Boca Rica) e Gabriel Silva (Juninho). Juntos, eles somam cerca de 6 milhões de seguidores nas redes sociais, que os acompanham e são por eles influenciados a ponto de tornarem-se não apenas fãs, mas consumidores dos seus conteúdos. Além disso, marcas de roupas, cosméticos, alimentação, e até grandes produtoras, querem patrociná-los.

São influencers que, com a ajuda de familiares e amigos, produzem conteúdos sobre o lugar onde vivem visando apagar a imagem marginalizada de jovens das periferias, e mostrando que as quebradas também possuem grandes talentos. Suas produções demarcam seus territórios, com a exposição da forma como se vestem, vivem, falam e pensam.

Paulo Santos Silva, criador do personagem Paulinho
Foto: Reprodução/Instagram

Hoje com 23 anos, Paulo conta ao Visão do Corre que começou a produzir seus vídeos em 2014, para descontração. Morador do Recreio São Jorge, periferia de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, ele fazia vídeos em uma espécie de viagem no tempo. 

No entanto, o começo foi bem difícil. Seus primeiros conteúdos eram produzidos em uma empresa metalúrgica, onde trabalhava na época. Sem uma justificativa, Paulo foi demitido e, logo após, um vídeo feito ao chegar em casa bateu mais de 100 mil visualizações. Foi o momento em que ele viu que poderia investir em seus vídeos.

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“Muitos falavam que eu era preguiçoso, que não queria trabalhar. Mudamos para a Paraíba por um tempo, para tentar algo melhor, mas não deu muito certo. Devido à necessidade e a fome que passamos lá, voltamos para São Paulo. Lá diziam que esse negócio de vídeos era coisa de quem não tem o que fazer. Aqui, quem me conhece, fala que eu tenho o dom, para eu continuar. E hoje estou aqui”, relatou Paulinho. 

Ao perceber que seus vídeos estavam tendo um bom alcance, Paulo decidiu mudar de conteúdo. E, após presenciar um assalto enquanto estava indo pagar uma conta de luz, ele criou o personagem Paulinho, que efetua “roubos inusitados e diferentes”. Ao invés de levar pertences das pessoas, ele as entrega dinheiro ou leva suas contas para serem pagas por ele mesmo.

Vindo do interior da Bahia com sua mãe, que trabalhou sempre com limpeza, o jovem, filho mais novo de mais cinco irmãos, chegou em São Paulo com 11 anos. Após uma infância pobre no Nordeste, Paulo relata que, hoje, consegue viver e manter sua família apenas com a renda que recebe pelos seus vídeos. 

Para quem vive e conhece as quebradas e favelas do Brasil, sabe que tudo aquilo que um cria da quebrada faz é sucesso e vale ouro. Os produtores de conteúdo das favelas depositam suas esperanças nos vídeos para as redes sociais para ascenderem economicamente.

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Hugo Gomes, criador do personagem Boca Rica
Foto: Reprodução/Instagram

Cria de Itapevi, município do lado oeste da região metropolitana de São Paulo, Hugo Gomes, que até já participou do Raxaria, quadro de esquetes de comédia da KondZilla, criou o personagem “vulgo Boca Rica”. O moleque dos vídeos reproduz como um jovem de quebrada se comportaria em algumas profissões e até conhecendo a família da namorada. 

Boca Rica já foi advogado, instrutor de autoescola, açougueiro e até presidente. 

Com seu personagem Juninho e amigos, Gabriel Silva também narra a realidade de um jovem de periferia no dia a dia. Os conteúdos são variados, desde as conversas com uma mãe até as cantadas às meninas. 

Morador de São Bernardo do Campo, na região do ABC Paulista, o jovem tem influenciado seus seguidores e até realizado parcerias com comerciantes locais. Juninho já foi parar até na Paraíba, e lá pode apresentar um pouco de como um jovem paulistano de periferia se comporta.

Fonte: Visão do Corre
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