Com uma jornada repleta de desafios, o modelo e artista Leonardo Freitas, conhecido como Leo Sclark, 27 anos, da periferia de Salvador, começa a deixar sua marca na indústria da moda. Morando há pouco tempo na capital paulista, batalha em um mercado competitivo, ainda muito elitista e eurocêntrico, mas está conseguindo fazer seus primeiros trabalhos relevantes.
Dentre eles, campanhas nacionais para marcas como Natura e C&A. Seu rosto está em revistas de moda como GQ e a mais recente conquista foi desfilar em umas das maiores semanas de moda do mundo, a São Paulo Fashion Week. O modelo soteropolitano esteve na passarela pela grife baiana Dendezeiro, que também tem uma origem periférica em Salvador e foi um dos destaques da última edição.
Leo Sclark é personagem real de uma tendência: de acordo com dados recentes, aumentou a presença de modelos negras e negros nas principais semanas de moda internacionais. Em 2019, em 38% dos desfiles do New York Fashion Week, havia pelo menos uma modelo negra, aumento de 8% em relação ao ano anterior. A inclusão também foi tendência nas semanas de moda de Londres, Paris e Milão, mas ainda precisar aumentar.
“Em São Paulo vivi experiências incríveis e totalmente diferentes. Finalizava um projeto, outro chegava, um processo muito lindo. Percebo o quanto ainda é difícil enxergar pessoas como eu nesse lugar de protagonismo; mas sim, é possível”, acredita Leo.
O destino estava na moda
Antes de morar no bairro do Jabaquara, na zona Sul da capital paulista, Leo Sclark morava no bairro da Federação, periferia da capital baiana, onde vive sua família. Lá, desde o ensino médio, nutre o desejo de trabalhar com moda. Imaginando esse universo, amava desenhar esboços de roupa com seu amigo.
Embora apreciasse assistir as meninas da ginástica artística nas Olimpíadas, percebia que sua ansiedade aumentava ainda mais quando se tratava dos looks. Foi inevitável enveredar pelo ramo da moda.
Além da atuação como modelo, Leo Sclark também tem encontrado satisfação profissional como artista. Projetos de moda e colaborações especiais estão em seu horizonte, deve ser o que vem a seguir profissionalmente.
O baiano incentiva jovens periféricos a aproveitarem as inúmeras plataformas digitais disponíveis para mostrarem seus talentos. A oportunidade certa pode surgir a qualquer momento.
"Independentemente de onde você esteja hoje, acredite, respeite seu processo e nunca coloque seu sonho de lado”, resume Leo. Mas o que o modelo faz para isso acontecer? Mantém o foco e o preparo para quando surgirem as oportunidades. E elas chegam.
Na selva de pedra, matando leões
No mundo profissional da moda, modelos tem agentes. O de Leo Sclark tem sido fundamental, com olhar humano e compreensão minuciosa de cada perfil artístico. “Tenho que entender onde quero chegar e como posso chegar, usando as ferramentas possíveis para ter êxito no plano de carreira”.
Gato escaldado, Leo Sclark sabe que deve superar desafios diários na indústria competitiva de moda em São. Mas além de pensar em si, pensa coletivamente. Por isso, comemora a vitória dos amigos, a vitória do outro. “Comemoro, pois me vejo ali. Sei o quanto conseguir uma oportunidade dentro da indústria é difícil, mas no momento em que você compreende que o que tem que ser seu, será, não precisa ficar batendo cabeça”.
A amiga que é uma segunda mãe
A capacidade de se colocar no lugar do outro pode ser aprendida quando alguém se coloca no seu lugar. Deve ter acontecido isso com Leo Sclark. Além do apoio da família biológica, o modelo recebeu um enorme empurrão de Sônia Castro, advogada e artista plástica, considerada sua mãe de coração. Eles se conheceram em um curso no Teatro Vila Velha, em Salvador.
“Logo constatei que ele tinha grande potencial, seria um grande ator. Fizemos algumas encenações e ele sempre se destacou. Pude constatar toda dificuldade que ele enfrentou para fazer o curso e o esforço para realizá-lo”, conta Sônia.
A trajetória de Leo Sclark não brilha apenas sob os holofotes da moda, mas ilustra a importância crescente da representatividade negra nesse setor. Nos últimos anos, houve um despertar para a necessidade de diversidade em passarelas e campanhas publicitárias, impulsionando a inclusão de modelos negros em papéis de destaque.