Mãe de Denys Henrique Quirino da Silva, um dos nove jovens mortos encurralados na favela de Paraisópolis, SP, em 2019, conversa com o Visão do Corre após audiência sobre o caso. Na próxima audiência, em junho, serão ouvidas as testemunhas de defesa das vítimas. A mãe da vítima e a promotoria acreditam que os policiais militares serão levados a júri popular.
“Os assassinos do meu filho têm direito de defesa, mas meu filho não teve”, diz Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique Quirino da Silva, um dos nove jovens mortos encurralados em uma viela na favela de Paraisópolis, em São Paulo, em dezembro de 2019.
A declaração da mãe foi dada depois da terceira audiência sobre o caso, em 17 de maio, quando foram ouvidas as testemunhas de defesa das vítimas: mães, irmãos, avós e netos, além de sobreviventes.
Segundo a promotora Luciana Jordão, “a avaliação da promotoria é muito positiva. Acreditamos que a prova demonstra os fatos narrados na denúncia. A próxima audiência será para oitiva das testemunhas de defesa”, diz a promotora Luciana Jordão.
Nela, os réus podem ser interrogados “e daí será aberto prazo para apresentação dos memoriais, que provavelmente serão escritos, dado o elevado número de réus, advogados, assistentes de acusação e da necessidade de profundo estudo de toda a prova produzida nos autos.”
Maria Cristina Quirino ainda não sabe se comparecerá à próxima audiência, em 28 de junho. Ficou muito abalada ao dar depoimento sobre seu filho. Em entrevista ao Visão do Corre, ela conta como foi essa experiência traumática e os próximos passos em busca de justiça.
Como foi a audiência no Fórum da Barra Funda?
Saí desolada, arrasada, muito abalada. São quase cinco anos esperando. Mexeu muito com meu psicológico. Eu me preparei, é muito complexo, difícil.
Para qual situação da audiência você mais se preparou?
A maior preparação é que os advogados dos policiais poderiam nos falar coisas pesadas. Também fomos preparadas para falar quem eram nossos filhos. Mas a gente não precisava disso, porque nossos filhos não são criminosos.
Poderia citar uma pergunta que te incomodou?
Se eu já tinha tido contato com delegacia, delegado, alguma coisa do tipo. Me dei conta que era a segunda vez, a primeira foi no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), quando fui intimada. Na rua, consigo falar com propriedade, mas na hora, a emoção não me permitiu.
Como você via os policiais antes do que aconteceu com seu filho?
Tive que fazer um resgate da minha memória. Fiz resgates da minha vida, infância, juventude, e eu lembro de atos heroicos dos policiais, achava que eles estavam ali para proteger a gente. Eles cometeram vários crimes, isso que tem que ser enfatizado.
Você pretende comparecer à próxima audiência, de depoimentos das testemunhas de defesa?
Eu estava pensando muito sobre isso, vai ser muito importante estar lá, não sei se vou ter estômago, porque os réus também vão estar. Na audiência passada, tive que cruzar com eles na hora do almoço, no refeitório.
Você avalia que as provas são suficientes para levar os policiais a júri popular?
O processo tem mais de cinco mil páginas. Tem um vídeo com policiais militares jogando bomba, jogando spray de pimenta, gritando que vai morrer todo mundo. Havia 38 policiais, mas só conseguimos colocar treze. Eles precisam ser punidos para as pessoas entenderem que eles quebram os protocolos da polícia, eles fazem uso do abuso de autoridade para poder decidir quem vai viver e quem vai morrer.
Qual sua expectativa quando à próxima audiência?
Diante de provas, de depoimentos, de testemunhas, eu tenho plena convicção de que tem todos os indício para ir para júri popular. Se o juiz entender o contrário, acaba a volta para a justiça militar.