Em depoimento, policial disse que o tumulto no baile da DZ7 foi causado por homens de moto atirando e que ele, junto com outros policiais, recuaram sem revidar. Próximo depoimento foi marcado para daqui 50 dias. Familiares das vítimas reclamam da demora. Já se passaram 1.671 dias desde a morte de nove jovens.
O policial militar Rodrigo Cardoso da Silva, testemunha de defesa de outros policiais militares que estavam, como ele, na ação que resultou na morte de nove jovens em Paraisópolis, em 2019, disse hoje, em audiência no Fórum da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, que tomou tiros, mas não revidou.
Silva é testemunha importante porque, apesar de não ter sido arrolado como suspeito pelas mortes, participou da ação policial. Na madrugada de 1 de dezembro de 2019, ele atuava na Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicleta (Rocam).
Segundo depoimento do PM, ele e mais cinco policiais de motocicleta perseguiram uma suposta dupla, que teria passado por eles, também de moto, quando um homem na garupa começou a atirar.
Silva disse que os policiais teriam seguido a dupla, que continuou atirando, inclusive quando entraram no meio da multidão do baile funk da DZ7 – em nenhum momento os policiais teriam revidado, só tomado distância.
PM diz que tumulto foi provocado por dupla de moto
O depoimento de Silva é relevante porque somente seus comunicados, entre os policiais da Rocam, chegaram ao Centro de Operações Policiais Militares (Copom). Mas ele não acrescentou nenhuma novidade à versão de outros policiais, tanto de defesa, quanto suspeitos.
Segundo Silva, o tumulto que teria resultado nas mortes foi provocado pela entrada dos homens de motocicleta atirando no meio do baile. Quando isso aconteceu, ele e os outros PMs da Rocam teriam recuado.
Entre os questionamentos da acusação, o PM foi perguntado se viu vídeos e fotos do baile funk. Ele respondeu que sim, mas não teria visualizado a moto com a dupla, nem a de um carro, também suspeito. “Tinha imagens borradas”, disse.
Ele também foi perguntado porque, após recuar a informar ao Copom que a situação se apresentava “sem novidade”, teria retornado ao baile. Silva disse que era para “dar apoio a outras viaturas”.
Próxima audiência será daqui 50 dias
O depoimento de Silva durou 40 minutos e aconteceu 1.671 dias após o Massacre de Paraisópolis. O próximo, do policial militara Vinícius Lima, foi marcado para o dia 6 de maio. A acusação pediu para que fosse ouvida mais de uma pessoa, mas não foi atendida.
Familiares têm reclamado da demora no processo e da quantidade de pessoas ouvidas, uma por audiência. Alvina Fagundes da Silva, 73 anos, mudou para Praia Grande, litoral paulista, após a morte do filho no baile da DZ7.
Ele diz fazer um enorme sacrifício para se deslocar. Havia saído de casa às 4h30 e faria um “bate e volta”. Após a audiência, foi de transporte público até o terminal Jabaquara pegar um ônibus até Praia Grande.
Presente em todas as audiências, ela não acredita na “justiça dos homens”, mas na “justiça daquele lá de cima. Um dia eles vão ter que responder, ninguém vai escapar”, diz, apontando para o teto.