No Jaguara, campeão de dengue em SP, atendimento leva horas

Se conseguir fazer exame e doença for confirmada, consulta dependerá de vaga na agenda médica. Fluxo na UBS é constante

28 fev 2024 - 05h00
Resumo
A UBS Jaguara, no bairro com maior incidência de dengue por cem mil habitantes em São Paulo, o fluxo de pessoas com sintomas aumentou muito. Após fazer o exame, em caso positivo o paciente deve esperar por uma vaga - um "encaixe" - na agenda médica, que surge quando alguém falta à consulta marcada. Moradores arriscam explicações para o aumento de casos e Prefeitura de São Paulo aponta calor e chuva como causas.
Ontem de manhã, fila não parou na UBS Jaguara. Número de pessoas com sintomas e confirmação de dengue aumentou muito
Ontem de manhã, fila não parou na UBS Jaguara. Número de pessoas com sintomas e confirmação de dengue aumentou muito
Foto: Marcos Zibordi

Na Unidade Básica de Saúde do bairro Jaguara, com maior índice de dengue por cem mil habitantes em São Paulo, pessoas com sintomas não param de chegar. Leva em média duas horas para realizar o exame de dengue e mais de uma para ser atendido, quando existe vaga.

Médicos da UBS, que em dias normais atendem consultas previamente marcadas, encaixam diagnosticados com dengue nos horários de quem faltou, num esforço para combater a doença.

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Atendentes se desdobram para dar conta do fluxo intenso, que mudou a rotina da UBS Jaguara. Até o porteiro se envolve. É seu primeiro dia, substituindo o companheiro de trabalho que pegou dengue.

A chegada de gente que desconfia estar com dengue é constante. Na fila que não acaba durante toda a manhã, gente com dor, suando, crianças chorando, a maioria sem máscara, procuram exames.

24 equipes saem diariamente da mesma UBS para monitorar a região. A meta de cada agente, a maioria mulheres, é atender 200 famílias por mês. Elas conhecem os moradores pelos nomes, se encontram na rua, conversam.

Espera para exame e consulta, se houver

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Para tentar atender à demanda, pessoas com sintomas evidentes são encaminhadas para diagnóstico. Demora umas duas horas até realizar o exame de sangue. Em caso positivo, segue a espera por um horário vago na agenda dos médicos.

Não dá para garantir atendimento a todos, apesar do esforço. “Cheguei sete horas, são quase dez da manhã. Deu dengue no exame, mas ainda não passei pelo médico”, conta Antônio Nascimento Urquiza.

Conformado com a espera, ele não gostou de ter faltado no emprego. “Trabalhei cinco anos sem faltar um dia. Hoje acordei cinco da manhã e estava ruim. Na obra onde trabalho, tem muita água parada e um monte de gente com dengue”.

Antônio Nascimento Urquiza acordou cedo para trabalhar, mas não conseguiu. Ele mostra braço usado para exame de sangue, que diagnosticou dengue
Foto: Marcos Zibordi

Onde fica e como é o Jaguara

Segundo os dados oficiais mais recentes da Prefeitura de São Paulo, o Jaguara apresenta o maior “coeficiente de incidência” de dengue por cem mil habitantes, 2.521. No segundo bairro mais afetado, São Domingos, região de Pirituba, o número é quase cinco vezes menor. Ambos estão na zona oeste da capital paulista.

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Situado entre o rio Tietê e a rodovia Anhanguera, o Jaguara é vizinho de Osasco, que está entre as cidades paulistas com mais dengue. Osasco é vizinho de Cotia, também com altos índices.

O nome indígena Jaguara, sinônimo de “onça”, confunde com Jaguaré e Jaraguá, bairros próximos. Pacato e com muitos idosos, moradores do Jaguara sabem que são campeões de dengue em São Paulo.

Alguns arriscam explicações: a doença pode ter sido trazida do trabalho em outras cidades, como Osasco ou São Paulo; a culpa é do Parque Vila dos Remédios; ou do córrego Cintra.

Segundo moradores ouvidos pela reportagem, revitalização do córrego Cintra diminuiu o lixo jogado na água, mas mosquitos não sumiram
Foto: Marcos Zibordi

Hipóteses e nenhuma certeza

 O Parque Vila dos Remédios, remanescente raro da Mata Atlântica, tem dois lagos. A água é escura, misturada com terra, enquanto o mosquito da dengue prefere água limpa. O córrego Cintra, revitalizado, atravessa todo o bairro e acumula menos lixo do que no passado. A correnteza é constante, sem água parada.

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A situação do parque e do córrego não são ideias para reprodução do mosquito, mas não impedem que ele procrie. Nivaldo Marques, funileiro, vizinho do córrego Cintra há 45 anos, cita mais um fator de risco: pneus descartados na beira da pista da rodovia Anhanguera, que acumulando água.

Ele, a esposa e duas moradoras do mesmo quintal tiveram dengue. “Peguei vários mosquitos e chamei o pessoal pra ver. São pintadinhos, pernas compridas”, descreve o funileiro.

O funileiro Nivaldo Marques, que teve dengue, costuma matar mosquitos, colocar em cima do capô do carro e chamar os vizinhos para ver
Foto: Marcos Zibordi

Questionada sobre a situação no Jaguara, a Prefeitura de São Paulo responde genericamente que “um dos motivos para a alta dos casos é a situação climática, a combinação de sol e chuva, propícios para a proliferação do mosquito da dengue”.

Amanhã, o Visão do Corre publica reportagem sobre casas e quintais abandonados no bairro, e seus vizinhos contaminados com dengue.

Fonte: Redação Terra
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