Um movimento genuinamente periférico, que sem fazer alarde conquistou o seu espaço e hoje ocupa as primeiras posições das principais plataformas musicais nacionais e, por vezes, internacionais. O funk vem da quebrada, e é feito pra quebrada.
Ele se reinventou e ganhou vertentes, mas uma coisa não mudou, o funk continua transformando vidas nas periferias. É impossível não ressaltarmos seu impacto social e político do funk em nossa sociedade. Para além de ocupar espaços, ele fura bolhas e torna conhecida a realidade das periferias, uma que nem sempre é triste e violenta, como em geral é dinfundida.
MC Gonne HD, voz de ‘Pique CR7’ e ‘General Camisa 10’, é um nome conhecido na cena mineira do funk. Em entrevista exclusiva à ANF, ele falou sobre o funk nas periferias, política e futuro.
Confira a entrevista a seguir:
ANF - O que é o funk hoje dentro das favelas?
MC Gonne HD - O funk é um refúgio não só pra quem faz, mas pra quem escuta também. Algumas letras transmitem mensagens que salvam, que tocam a alma de muitas pessoas. Não é simplesmente um movimento musical, é uma mão estendida, um ombro amigo, um abraço apertado, principalmente para os jovens de periferia. O funk salva vidas, dá empregos, resgata e inspira. Mesmo com tantas barreiras, o funk hoje chega em lugares, nos quais por muito tempo torciam o nariz.
ANF - Qual a relação entre funk e política?
MC Gonne HD - Muitos funkeiros preferem não misturar funk com política. Se manter neutro é um caminho, no meu ponto de vista ajuda a equilibrar o público, é fato que se você tentar agradar um lado, o outro não vai gostar. Não digo que um MC não tem que apoiar A ou B se ele quiser, na verdade ele pode sim ter um lado, mas se possível não expor isso nas redes sociais. O funkeiro precisa expandir o som pra todos os lados. Estar com o povo e ser do povo é mais importante que levantar bandeira de político.
ANF – O que você acha sobre a utilização do funk na política?
MC Gonne HD - Funk é um ato revolucionário, um veículo pra se manifestar, se expressar. Usar na política é válido, até porque é livre. Muitos cantores promovem políticos através do funk, mas com certeza, ele vai muito além disso. O funk traz uma liberdade que pode ser usada de várias formas, contanto que respeite o movimento, não vejo problema utilizá-lo na área política.
ANF - Qual é a meta de um funkeiro hoje?
MC Gonne HD - Buscamos o dinheiro, fama, prestígio, reconhecimento e respeito. Não é sobre esbanjar ou ostentar, mas quem é pobre e sofrido encontra no funk uma possibilidade de mudar a própria vida e a vida dos que amamos. A gente busca também passar uma mensagem, inspirar alguém, dar voz ao nosso sentimento. Não é só pelo dinheiro, ele é importante, não vou ser hipócrita em dizer que não, mas acredito que não existe cachê nenhum no mundo que pague o reconhecimento pelo trabalho, chegar em outra parte da cidade, do estado, ou até mesmo do teu próprio bairro e saber que tem gente que curte seu som é uma das maiores recompensas de um MC.
ANF - Qual é a sua meta?
MC Gonne HD - Sonho em viver só da música algum dia, ouvir meu som pelo Brasil, até pelo mundo quem sabe. Não sou muito diferente da maioria dos sonhadores.
ANF - Que conselho você gostaria que tivessem lhe dado quando começou, e agora você pode dar para os jovens das favelas que sonham em ser MCs?
MC Gonne HD - Seja mais pé no chão, haja com paciência e não deixe seu medo te dominar. Não desista! Vai dar vontade, vai doer, você vai se sentir incapaz, mas não desista. Não tem problema se cansar de tudo, o problema é desistir de tudo. O cansaço reduz a velocidade da corrida, mas nunca pode reduzir a vontade de realizar seus sonhos.
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